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O ninho vazio: quando os filhos saem de casa

por oficinadepsicologia, em 25.07.12

Autora: Isabel Policarpo

Psicóloga Clínica

www.oficinadepsicologia.com

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Isabel Policarpo

A síndrome do “ninho vazio” refere-se a sentimentos de depressão, tristeza e dor que os pais experienciam quando os filhos deixam as suas casas de família.

 

As mulheres são geralmente as mais afectadas, contudo isso não quer dizer que os homens sejam completamente imunes à síndrome do “ninho vazio”. De facto, os homens também podem vivenciar os mesmos sentimentos de perda com a partida dos filhos e também passam por um período de adaptação, mas as suas reacções podem ser diferentes e não têm forçosamente de espelhar as da mulher.

Mas independentemente das razões dos filhos para cortarem o “cordão umbilical” com os pais – a ida para a faculdade, talvez casar ou simplesmente mudar de cidade para começar a trabalhar, a situação provoca em nós um carrossel de emoções. E que conjunto de emoções!

Para além dos inevitáveis sentimentos de perda, todos nós enfrentamos esta transição com ansiedade, stress e alegria. Não sabemos se havemos de celebrar a nossa nova liberdade ou se chorar pela temida solidão. Podemos sentirmo-nos alegres e tristes, confiantes e medrosos, optimistas e cheios de preocupações e tudo isso pode acontecer ao mesmo tempo e num só dia, o que é perfeitamente normal.

 

Mas a saída de casa dos filhos não tem de ser sinónimo de crise, na prática trata-se de um estádio natural do nosso ciclo de vida, de uma mudança que a maioria de nós desejou para si próprio e que espera que os filhos mais tarde ou mais cedo também alcancem.

 

Já pensou que quando um filho está pronto para sair de casa, isso geralmente significa que nós como pais, fomos bem sucedidos a educá-lo de modo a ele ser auto-suficiente e independente – uma das tarefas seguramente mais importantes que temos como educadores? Já pensou que com a partida dos filhos também você merece um voto de parabéns? Sim, parabéns por ter criado o seu filho/filha de modo a que ele/ela seja capaz de ser dono de si e da sua própria vida.

 

Apesar de tudo isso, não conseguimos deixar de ser invadidos pela ansiedade, pelo stress e por alguma tristeza. Sempre que isso sucede, talvez ajude pensar noutros momentos em que deixou o seu filho ir por si e no quanto essas situações ensinaram a ambos lições importantes. Talvez a primeira vez que deixou o seu filho sozinho foi quando ele ficou a dormir em casa dos avós, para poder ir fazer aquele programa que há muito não fazia, ou quando o convite da festa de aniversário de um amiguinho excluía os adultos ou simplesmente quando o deixou pela primeira vez no infantário. Depois disso, houve muitos outros momentos em que o deixou aventurar-se por si próprio, munido com as ferramentas e valores que lhe passou para ser bem sucedido. Provavelmente nem sempre foi fácil nem tranquilo, mas o facto de o ter deixado ir significou que confiava que nele, que acreditava que ele tinha aprendido com as experiências anteriores e/ou sabia lidar com as circunstâncias do presente e sair delas com uma sensação de conforto e satisfação.

 

Acresce que quando os filhos saem de casa também o nosso papel como pais muda. Deixamos de estar fisicamente presentes, para passarmos a ter uma presença mais remota e distante. Provavelmente deixamos de saber como foi o seu dia-a-dia, assim como deixamos de saber se hoje estava alegre ou triste. Mas isso não significa que o nosso papel de pais desapareça, de facto ele mantém-se, mas de um modo distinto, o que requer um ajustamento da nossa parte, um ajustamento que é absolutamente necessário e no interesse do jovem.

 

Como sobreviver a este tempo de mudança?

O stress e a ansiedade podem tornar-nos irritadas, deprimidas e auto-centradas, o que pode conduzir a zangas com o companheiro. É importante ter a noção que ambos estão a passar por uma fase de adaptação que é difícil. A melhor coisa que podem fazer um pelo outro é ouvir, dar o ombro para o outro se encostar e ser tolerante e apoiante. Para aqueles que são pais “solteiros”, é importante que possam contar com amigos e familiares para ajudar. Também encontrar outras pessoas que estejam a passar pela mesma fase de vida com quem falar, pode ser uma boa alternativa.

 

Não se esqueça de ouvir o seu filho e procure perceber em que é que ele precisa e em que é que ele não precisa de si. Tente compreender qual é a ideia dele acerca da nova relação convosco. É importante dar apoio e encorajá-lo. Faça-lhe saber que apesar de ser uma nova fase da vida dele, que acredita que vai ser bem sucedido. É importante que tentar relacionar-se com ele de um modo adulto.

 

E não se esqueça que agora chegou o momento para tomar conta de si, para se nutrir de todas as formas que lhe fazem sentir-se bem. Pode-lhe apetecer ir ao ginásio, aprender a pintar ou uma nova língua, relacionar-se com amigos antigos ou fazer novos amigos, voltar à escola, arranjar um trabalho ou ser voluntário. Há tantas coisas que pode fazer por si, basta sentar-se e pensar nisso. Pode igualmente envolver-se em projectos que teve de deixar de lado – projectos como ter a casa organizada, ir de viagem ou arrumar álbuns de fotografias.

 

A saída de casa de um filho marca o inicio de uma nova fase, não só para ele, mas também para si. Procure olhar a vida noutra perspectiva e explore coisas novas ou tão somente as antigas que ficaram em stand-by, mas acima de tudo dê a si mesma um intervalo, permita sentir-se triste, alegre, optimista, receosa ou qualquer que seja a emoção. E lembre-se que não está sozinha.

publicado às 14:31


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