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Laranja perfeita ou laranja podre?

por oficinadepsicologia, em 14.10.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Na época do secundário tive a sorte de ter um professor de filosofia que me inspirou para sempre. Na altura, muitos dos conceitos trazidos por ele não foram imediatamente absorvidos por mim, mas foram suficientemente marcantes para que eu continuasse a pensar sobre eles anos mais tarde, até que seus significados ficassem claros.


Uma vez chegou à aula e colocou sobre a mesa duas laranjas. Uma madura, linda, redonda, e a outra cheia de bolor, com as naturais irregularidades de uma laranja que passou o prazo de ser consumida. Olhou para nós e perguntou: Qual dessas laranjas é perfeita para vocês?
Olhamos e respondemos: a madura!


E ele, com seu olhar sempre inquieto e desafiador, disse, “as duas!”.
Disse, “se pensarmos na essência das coisas, antes de as julgarmos, vamos perceber que muitas das nossas ideias de perfeição são desconstruídas. A laranja madura é perfeita enquanto laranja madura, que está nessa fase da sua existência, pronta para ser consumida. A segunda, é perfeita também, se pensarmos na essência do que é ser uma laranja podre, ou seja, uma laranja que está nessa fase da sua existência, e que não foi consumida antes”. Tudo depende daquilo que esperarmos desse mesmo tudo.


Todos os dias recebo clientes com ideias construídas de perfeição, por exemplo, a Marina que tem 25 anos e está ansiosa pois não se sente realizada no trabalho onde está, o Carlos, que está ansioso pois está muito insatisfeito com a sua relação, esperava que após 6 meses de namoro as coisas estivessem mais estáveis, ou a Rebeca que terminou seu casamento de 17 anos e esperava que passados 6 meses do divórcio ela estivesse mais feliz.


Estes são bons exemplos de pessoas que não são capazes de olhar para a situação ou fase em que estão e antes de fazerem um julgamento, questionarem, qual é a essência dessa fase?


No caso da Marina, que está no 1º emprego da sua vida, que tem 25 anos, a essência dessa fase profissional não é a estabilidade e sim a construção. Ela está na “laranja podre”. Olhando para a fase como aquilo que ela é realmente, uma fase de investimento, pouco retorno, aprendizagem, etc, podemos aceitá-la como sendo uma “laranja podre” e assim, tirarmos o proveito dessa situação em vez de ficarmos ansiosos a desejar que ela seja algo que não é, uma “laranja madura”.


O Carlos, gostaria que a sua relação fosse mais estável, sente que está em constante ajuste com a namorada e descreve a sua relação como sendo “de altos e baixos”. Gosta da namorada e não quer desistir, ao mesmo tempo que deseja que essa fase seja diferente. Ao analisarmos a essência de 6 meses de namoro com a sua namorada, observamos que é uma fase onde realmente os ajustes são necessários, onde se estão a conhecer, a perceber seus projetos, seus limites. Isso cria por vezes alguma instabilidade. Ao deixar de desejar que a sua relação seja nesse momento aquilo que não é, Carlos foi capaz de retirar da instabilidade de relação, a informação necessária para a construir mais forte e bem estruturada.


A Rebeca chega ao consultório muito triste e com algumas crises de pânico. Afirma que não entende o que se passa com ela, visto que “já me separei há 6 meses!”. Pergunto se ela considera que 6 meses é muito tempo e ela me diz que sim! Quando analisamos a essência de 6 meses de separação, após um casamento de 17 anos, Rebeca percebeu que essa fase é caracterizada por períodos de profunda tristeza, outros de leveza e alívio, por vários tipos de pensamentos e por uma sensação de perda. Também se sente instável e com altos e baixos emocionais. Essa é a sua “laranja podre”. Ao parar de tentar que essa fase seja o que não é, Rebeca sente-se mais leve e menos ansiosa, sem ataques de pânico.
Temos a tendência a julgarmos e a querermos terminar e afastar emoções que doem, pensamentos que são duros, e quando o fazemos, estamos a desrespeitar a essência de determinadas fases caracterizadas por essas emoções e pensamentos. Eles podem ser duros ou dolorosos, mas na maioria das vezes não são maus e trazem informações valiosas para nós.


Aceitar a essência das situações, das emoções, faz-nos mais livres, menos ansiosos e por consequência, mais capazes de tirar a informação e o proveito dessas mesmas situações e emoções.


Comece então por fazer uma lista de situações que o angustiam e depois questione-se sobre a sua essência. Perceba se grande parte da angústia não virá exatamente do facto de não estar a aceitar que a situação seja o que é.
Muitos clientes perguntam, mas se eu aceitar, isso não me fará passivo perante a situação?
Ao contrário. A aceitação é feita no presente, liberta-nos da ansiedade e dá-nos maior consciência e clareza, por consequência, maior espaço e liberdade para deixar a situação fluir e para resolvê-la com mais sucesso.

publicado às 17:32


1 comentário

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De Ronald Cassane a 17.11.2016 às 11:24

Ótimo post !
Estou com os pés no chão novamente.
Muito obrigado ! :)

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