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O síndrome da Fada Sininho

por oficinadepsicologia, em 29.04.12

Autora: Filipa Jardim Silva

Psicóloga Clínica

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Filipa Jardim Silva

Peter Pan é um menino que mora na Terra do Nunca, um lugar onde não tem de crescer e onde os dias nunca são iguais. Entre os seus amigos destaca-se a Fada Sininho, uma fiel companheira que o protege e lhe alimenta um conjunto de fantasias procurando o agradar incessantemente.

 

Se olharmos à nossa volta ou mesmo para dentro de nós talvez reconheçamos características da fada Sininho. Mulheres com elevados desempenhos, tendencialmente bem sucedidas na vida profissional, que transmitem uma postura de independência que não raras vezes atrai mas também assusta alguns homens, divididas entre acreditar e investir numa relação estável e duradoura e a opção de ficarem sozinhas pontualmente acompanhadas. A Psicoterapeuta francesa Sylvie Tenenbaum considera o autor do conto de Peter um visionário, no sentido em que desenhou um conjunto de personagens – Peter Pan, Wendy e Fada Sininho – que hoje podem assumir-se como arquétipos modernos.

 

Existem alguns homens que sentem alguma relutância em crescer e assumir os desafios que chegam com as responsabilidades, tal como o Peter Pan. Mas também existem mulheres que se sentem impelidas a assumir um papel de proteção, tal como a fada Sininho, ainda que nem sempre se permitindo a amar verdadeiramente ou respeitando as suas necessidades e limites. E assim se conjugam forças ambivalentes, em que por um lado existe a procura de conexão íntima e a necessidade de cuidar do outro e por outro lado um medo de perder o controlo e ficar dependente. Não sendo possível mantermo-nos sempre emocionalmente controlados, o que tende a suceder é uma sensação de vazio prolongado no tempo em que de relação em relação, ainda que cuidando do outro e fazendo-o encantar, nada ressoa verdadeiramente porque não será possível sentir-se o outro sem nos colocarmos vulneráveis, isto é, sem nos permitirmos dar a conhecer com todos os riscos que isso implica. O que também acaba por acontecer um dia, sem aviso prévio e ainda que seguindo todos os passos do guião do controlo, é que o corpo cede e a mulher perde-se de amores, de uma forma tão avassaladora e intensa que pode ficar transitar para o outro extremo, o da incapacidade de se gerir emocionalmente.

 

Esta tentativa de evitamento da vulnerabilidade encarando-a como sinal de fraqueza leva a que muitas vezes passemos a viver as nossas vidas desempenhando um personagem como se se tratasse da vida de outra pessoa que não nós.

 

Em primeiro lugar, importará recuperar a menina pequenina dentro de todas estas mulheres para restaurar as suas fundações emocionais. Por debaixo dos medos, defesas, zangas e máscaras tenderá a encontrar-se tristeza e algumas fragilidades base, como “eu não sou suficientemente boa” ou “não consigo me proteger”, que necessitam ser reparadas, reajustadas ao momento presente tantas vezes diferente do passado, permitindo então reaprender formas diferentes de se relacionar e de se colocar na relação com o outro, partindo sempre de uma base de auto-aceitação e segurança interna que é criada de dentro para fora.

publicado às 09:13

Ser psicoterapeuta é...

por oficinadepsicologia, em 28.04.12

Autor: Luís Gonçalves

Psicólogo Clínico

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Luis Gonçalves

Sentir. Sentir muito. Às vezes até demasiado. Etimologicamente, é curar pela mente. É tentar fazer um caminho a dois, superando qualquer obstáculo. É conduzir e ser conduzido. É arregaçar as mangas e transformar o que impede no que ajuda. É caminhar num sentido e, de repente, fazer o inverso ou descobrir outro completamente novo. É não agredir quando se é agredido. É amar incondicionalmente. É ter tanto de forte como de frágil e viver bem com isso. É destruir para construir. É fazer eco do que o cliente sente sem se ter medo dos efeitos secundários. É fazer de espelho para que ele veja o que pensa, sente e faz. É saber ouvir e saber concertar. É abdicar da descrença para acreditar na luz. É partilhar as trevas e não fazer disso uma tragédia. É acreditar, como Pessoa, que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

 

É aprender a cuidar de si próprio para melhor cuidar de quem nos procura. É sorrir ou chorar em segundos. É dar a mão. É fazer do consultório um espaço seguro, sagrado e protegido. É viver bem com o silêncio. É ser-se observador e, simultaneamente, participante. É, simplesmente, estar-se sem se estar de saída.

É aceitar um abraço de agradecimento ou fragilidade. É dar um abraço que salve uma vida ou simbolize mais um caso que termina. É ler, pesquisar mas também esquecer uma parte (e assim ser-se humano, unicamente pessoa). É viajar, explorar, conhecer, arriscar e cair. É tocar qualquer forma artística que nos enriqueça e aumente a nossa visão de vida. É estar longe do espaço terapêutico o tempo suficiente para recuperar o fôlego. É não ter medo da morte. É aceitá-la como a forma perfeita de dar brilho à vida.

 

É ter dúvidas. É ter fracassos. É pegar no pouco que sobrou e fazer disso um melhor profissional. É revisitar a vida pessoal e encontrar algo útil para quem está à nossa frente (ou para nós próprios). É abdicar de barreiras, máscaras ou referenciais teóricos. É descobrir a chave para quem procura a sua própria fechadura. É ser-se único, arrojado e genuíno. É não ter medo de se ter medo.

 

É assumir a responsabilidade de se ser um modelo, uma referência e uma fonte de afeto para tanta gente incrível (para muitos, a primeira que alguma vez tiveram). É saber pedir ajuda e compreender quem a pede. É chegar ao fim de mais um dia de trabalho e respirar fundo. É sentir no corpo e na alma o desgaste do que é ter-se dado e recebido tanto durante imenso tempo. É olhar pela janela e contemplar a beleza da lua. É ganhar balanço. É também sorrir porque amanhã é outro dia.

 

Ser-se psicoterapeuta é uma profissão que nos muda, nos marca e nos transforma (também). E foi uma parte desse brilho que hoje quis partilhar consigo!

publicado às 10:23

Desconstruindo a rejeição

por oficinadepsicologia, em 27.04.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Quem é que nunca se sentiu rejeitado? Abandonado? Aposto que a maioria já experienciou a rejeição ou ainda vai experienciar!

Hoje numa sessão, a minha cliente referia como se sentia rejeitada pelo namorado que saiu da relação que tinha com ela.

A medida que ela falava, parecia que ficava cada vez mais pequena e que ele, na minha fantasia, ficava cada vez maior. Com o poder de a “deixar”.

 

Comecei a pensar sobre a noção de rejeição, algo que está presente em nós desde sempre. Percebi que cada vez que alguém se sente abandonado, excluído, posto de parte por outra ou outras pessoas, automaticamente surge no pensamento a ideia:”fui rejeitado”, e a sensação de rejeição que traz tristeza, falta de energia, falta de apetite entre outras manifestações desconfortáveis.

 

Mergulhando nas incontáveis histórias de rejeição que já ouvi, encontro vários indícios prévios de que a relação não estava bem, que a sintonia já não existia e entendemos que na verdade, a tal “rejeição” não passou apenas de um culminar de várias situações. Muitas vezes pergunto à pessoa “rejeitada” se ela mesma gostaria de continuar na relação e muitas vezes a resposta que ouço é algo como: “não sei”, “já tinha pensado em terminar”, “não sei se ainda gosto dele/a”. Ou seja, estamos na verdade perante uma situação de “desencontro” emocional ENTRE duas pessoas onde uma delas toma uma decisão de sair. E não numa situação onde um forte, que já não ama, decide abandonar o outro, frágil, que ainda ama muito.

 

Então surgem as questões: O que leva um a sair e não o outro? O que leva então, a pessoa que não decide sair, a sentir-se rejeitada? Amo alguém que não me ama?

Perante essas dúvidas, sentei-me diante das minhas notas e fui pesquisar o que acontecia nas histórias dessas pessoas. Encontrei algumas respostas que me permitem generalizar algumas explicações.

 

Olhando para a pessoa que sai da relação, percebi que a decisão muitas vezes foi precipitada e favorecida por uma série de factores que se encontravam presentes no momento:

Ex: ganhavam mais; estavam mais realizados no trabalho; tinham uma rede mais sólida de suporte; tinham conhecido alguém por quem se interessavam; tinham casa própria ou a casa alugada estava em nome dele/a.

 

Quero dizer com isso que, na maioria das vezes, aquilo que facilita a que uma determinada pessoa tome a decisão de sair de uma relação, são um determinado conjunto de factores que se encontram presentes no momento que favorecem uma sensação de maior segurança.

Por exemplo, num casal que se separa, como é o caso da minha cliente, a relação já sofria com a falta de comunicação, de carinho, de sintonia. Mas, num determinado momento, o namorado, que se encontrava numa condição profissional favorável, viu-se numa posição propícia a tomada de decisão.

 

Muitas vezes essa tomada de decisão confunde-se (na mente do “rejeitado”) com ausência de afecto – “ele/ela, não gosta mais de mim.

Chegamos então à segunda questão, o que leva a pessoa que não decide a sentir-se rejeitada? Para responder a essa questão fui buscar na história dessas pessoas, a origem do sentimento de rejeição, tentando dessa forma, entender como começou a experiência, quais eram as suas características e os seus gatilhos.

 

Encontrei nos diferentes relatos muitas respostas comuns, tais como:

- quando me sinto rejeitado sinto-me fraco/pequeno/impotente/sem força

- a primeira vez que me senti rejeitado foi na infância, pelos: pais, irmãos, amigos

- quando me sinto rejeitado sinto que o amor me foi retirado/que não mereço ser amado

- ele/ela é melhor do que eu/não vou encontrar ninguém tão bom

 

Olhando para essas respostas, o que vemos? Em primeiro lugar vemos uma confusão entre a decisão do outro de sair da relação, com a noção de amor retirado ou não merecido, esta liga-se com a crença errada de que o outro é melhor do que eu.

Estas noções estão na base da sensação de rejeição e colocam a pessoa num lugar desnivelado da relação com o outro, isso não permite o desenvolvimento saudável da relação.

 

Se a pessoa à partida não está com a sua auto estima num “sítio” saudável, se tem crenças negativas erradas sobre si mesmo, isso não permite que ela esteja numa relação de uma forma feliz e saudável. Essa pessoa sente que o outro está lá a cumprir uma função, sente que precisa do outro. Assim, tem de se esforçar para que o outro não se vá embora. A relação perde a leveza, a espontaneidade e a incondicionalidade.

Observamos que as primeiras sensações de rejeição começam na infância onde de facto existe a sensação do outro ser mais forte/maior, e por isso pode nos deixar. No entanto, fico com a sensação de que trazemos essa mesma sensação para a nossa vida adulta, onde ela já não deveria existir, dando lugar a uma simetria onde não há um forte e um frágil, e sim dois iguais em processe e em movimento constante.

Ao responder a terceira questão, “amo quem não me ama?”, provavelmente chegaremos à raiz do problema! Será que amar alguém que não me ama é possível?

 

As pessoas saudáveis amam-se a si próprias e aos outros incondicionalmente, aceitam-se como são, verificando suas forças e suas fragilidades, adaptando-as ao contexto, de uma forma construtiva. Essas pessoas, perante uma decisão do outro de sair da relação, observam que a decisão teve a ver com o processo do outro, não pondo em causa a si próprias. Não confundem o afecto, que é intocável, com o processo de cada um. Ao mesmo tempo, amam o outro e querem o seu bem, respeitando assim o seu próprio processo.

 

Assim, seria impossível ser saudável e continuar a amar alguém e a querer estar com alguém, que toma uma decisão no sentido contrário.

Ao desembrulharmos o afecto da decisão do outro, entendemos que quando alguém sai da minha vida, isso não diz nada sobre mim e sim sobre o percurso e o timing do outro. A rejeição deixa de ser um conceito que existe no nosso vocabulário e passamos a falar em desencontro.

Também interiorizamos o respeito pelo processo do outro e pelo nosso próprio processo. Se eu me amo, só fará sentido estar com alguém que também quer estar comigo, qualquer outra coisa será inaceitável.

 

Trabalhar no sentido de uma auto-estima forte e saudável, vai ajudar-nos também, a interpretar de uma forma construtiva os desencontros naturais que ocorrem sempre na vida de cada um, em vez de usá-los para nos diminuir ou maltratar.

publicado às 10:05

Sobre a liberdade

por oficinadepsicologia, em 25.04.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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"A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência."

Ghandi

 

Joana Fojo Ferreira

 

Neste Dia da Liberdade deixo-vos esta reflexão.

Sente-se livre, ou sente-se preso? E se se sente preso, como é que se está a impedir de se sentir livre?

Talvez esta última questão pareça dura, certamente muitos factores exteriores a nós dificultam que nos sintamos livres, mas não deixamos de ser nós em última análise que nos mantemos aprisionados ou nos mobilizamos para nos libertarmos.

 

Eu sou livre quando vejo desafios onde outros, presos, vêm impossibilidades.

Eu sou livre quando aceito as minhas emoções, mesmo que sejam de tristeza, zanga, medo, e vejo nelas possibilidades de crescimento, enquanto outros, presos, só vêm amarras e dor.

Eu sou livre quando assumo o compromisso de respeitar as minhas necessidades e a responsabilidade de mobilizar recursos para cuidar de mim, enquanto outros, presos, continuam à espera que a liberdade venha de fora e não de dentro.

Eu sou livre quando reconheço que sou eu o agente activo das minhas próprias escolhas, enquanto outros, presos, nem percebem que é já uma escolha não escolher.

Eu sou livre quando me responsabilizo por mudar o que não gosto em mim, enquanto outros, presos, paralisam no culpar-se pelo “mau” que são ou o “mal” que fizeram.

Eu sou livre quando ajo no meu quotidiano em congruência com o que sou, onde outros, presos, agem de acordo com o que julgam que os outros desejam.

 

Neste Dia da Liberdade, liberte-se, acredite mais em si, cuide-se melhor.

 

[algumas das ideias foram inspiradas nos objectivos estratégicos do Meta-modelo de Complementaridade Paradigmática (Conceição & Vasco, 2008)]

publicado às 17:22

A ira conduzida pela insegurança

por oficinadepsicologia, em 16.04.12

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

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Tânia da Cunha

Os seus sentimentos muitas vezes saltam da antipatia ao ódio? Sente-se muitas vezes ameaçado e/ou atacado? Tem dificuldade em confiar nas pessoas? É frequentemente ciumento? Sente-se em muitas situações rejeitado? Se a resposta a estas questões foi na sua maioria positiva, muito provavelmente tende a proteger-se afugentando o perigo, através da hostilidade.

 

Alguém mais sensível ao controle pode tornar-se hostil se é confrontado pela sua própria insegurança. A hostilidade pode ter um carácter defensivo, de forma a criar distância física e emocional de alguém ou de alguma situação que é percecionada como “perigosa”. A hostilidade pode assumir várias formas: pode ser passiva, agressiva, desagradável ou tão simplesmente rabugenta.

 

Podemos considerar que em algumas situações os nossos sentimentos hostis são apropriados? Sim, existem ocasiões em que a ira é uma reação apropriada. Por exemplo quando alguém nos fere, humilha, insulta ou embaraça é natural sentir ira. Quando à ira é associada a insegurança, a humilhação, o insulto ou o embaraço ganham um significado diferente – a ira agrava. Se muito depois do “confronto” ainda está a destilar hostilidade, por outras palavras se esta emoção persistir pode ser sinal de que o que está presente é a insegurança.

 

Se alguma vez encontrar uma situação em que a ira não se dissipe, é um alerta, em vez de suspeitar das falhas do outro, pense se não é a sua insegurança que o está a deixar sem controlo.

publicado às 10:10

Armadilhas mentais

por oficinadepsicologia, em 09.04.12

Autora: Filipa Cristóvão

Psicóloga Clínica

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Filipa Cristóvão

Muitas vezes somos apanhados em armadilhas mentais que tendem a aumentar o stress e a dor. São estilos de pensamento, hábitos mentais comuns que aprisionam, dão a sensação de se estar encurralado, condicionam o humor e prejudicam o bem-estar.

A capacidade de reconhecer essas “armadilhas” permite que não se caia tão facilmente nelas, contribuindo para uma perspectiva mais clara dos acontecimentos, com alterações nos níveis de stress, satisfação, e a forma como se vê a vida.

Vejamos algumas:

  • Catastrofização -Vou para o exame, vou ter uma branca, vou começar a transpirar, os outros vão notar que estou esquisito, vão gozar comigo, aquilo vai correr tudo mal e no final até chumbo o ano”. Trata-se de um estilo de pensamento que perante situações difíceis espera o desastre e automaticamente espera o pior cenário.
  • Filtro mental- “Tive uma apresentação onde todos fizeram bons comentários, mas houve um colega que disse que não escolhi bem o tipo de letra. Foi um desastre a minha prestação”. Neste caso, as experiências positivas não são valorizadas e há uma hipervalorização das negativas. Contribui para estados depressivos e ansiosos, uma vez que se pega num detalhe negativo e se foca toda atenção nele. EX: “Estou a conseguir marcar mais golos mas ainda faço muitos erros”. Esse “mas” desconta o positivo e dá poder ao negativo. Experimente substituir o mas por “e”, e sinta a diferença.
  • Personalização e Culpa- ”O meu filho teve má nota a matemática, é uma prova em como sou uma má mãe”. Considerar-se responsável por uma situação que não está inteiramente debaixo do seu controlo leva a sentimentos de culpa, vergonha e sensação de incapacidade.

“O meu casamento não funciona e toda a culpa é do meu marido”. Por outro lado, culpar os outros ou as circunstâncias pelos seus problemas leva a sensações de impotência, pois é mais difícil mudar os outros ou o exterior. Para além disso, o relacionamento com os outros piora, pois ninguém gosta de se sentir culpado e perante uma acusação, o mais certo é que a mesma volte ao ponto de partida…Se considerar que a solução esta fora de si entra em frustração e reduz o poder para provocar mudança.

  • Tudo ou nada“Tenho de fazer um trabalho perfeito ou não vale a pena”. “Falhei uma pergunta, foi uma tragédia”. “Estou de dieta, hoje comi um bolo, nunca vou conseguir emagrecer”. Trata-se de olhar para as coisas em absoluto, em preto e branco. Se a situação não é perfeita, então é um total desastre.

 

  • Hipergeneralização – “A carta chegou atrasada. É sempre assim os carteiros estão sempre a fazer-me isto”. Com este estilo de pensamento, perante um evento único negativo tende-se a considerá-lo um padrão de desastre ao usar a palavra “sempre” ou “nunca”.
  • Saltar para conclusões - “ O chefe está a olhar para mim, deve-me odiar”- Este exemplo envolve um processo de ”leitura da mente” pois a pessoa convence-se que sabe o que os outros estão a pensar, sentir e porque agem como agem, sem qualquer evidência.

Noutras situações pode-se usar um processo de “adivinhação” onde arbitrariamente prevê que as coisas vão correr mal - “Vou estragar tudo, quando chegar à entrevista vou ficar paralisado, não conseguirei pensar em nada para dizer”.

  • Magnificação ou minimização- “Eu hoje não fiz nada”- Neste caso exagera-se na importância dos problemas ou dificuldades e/ou reduz-se a importância inapropriadamente das conquistas ou qualidades, como se usasse umas lentes enviesadas

 

  • Raciocínio Emocional- Raciocinar a partir do que se sente assumindo que as emoções negativas reflectem a realidade Ex: Eu sinto-me um idiota eu devo mesmo ser um idiota”, “tenho medo de andar em aviões. Então é perigoso voar”.
  • Dever- “Após um ano de aulas, eu não devia cometer erros a tocar guitarra”. Os “devo” ou “tenho de” incorporam uma lista de regras inquebráveis, rígidas para si próprio e para os outros. Se quebrar as regras para si próprio, a culpa emerge porque não se viveu de acordo com as expectativas. Este padrão mental pode levar a culpa, zanga e ansiedade.

Muitas pessoas tentam motivar-se com “devos” e não “devos” como se fossem delinquentes que têm de ser punidos antes que façam qualquer coisa errada. “Eu não devia comer esse gelado”. Contudo, tipicamente não funciona porque esses “devos” e “não devos” trazem sensações de rebeldia accionando impulsos para fazer o contrário.

Por outro lado, se são os outros a quebrar as regras surge zanga e ressentimento “Ela não devia ser teimosa”

  • Rotulagem - “Eu sou uma falha” (em vez de: “Eu fiz um erro”).Neste caso, existe uma identificação com os resultados, e uma confusão entre o que se é, e o que se faz. Essas abstracções levam a zanga, ansiedade, frustração e baixa auto-estima.

Por outro lado, também se pode rotular outros. Quando alguém faz algo, rotula-se de e depois pensa-se que o problema da pessoa é o seu carácter em vez de ver que é o seu pensamento ou comportamento. Ao ver a situação como completamente má as sensações de hostilidade e impotência sobre a situação aumentam, deixando pouco espaço para a comunicação construtiva.

 

Agora que conhece algumas das típicas armadilhas. Faça um pequeno exercício. Em quantas destas armadilhas já se viu enredado? Permaneça consciente dos estilos de pensamento que o bloqueiam. Desta forma aumenta a oportunidade para escolher olhar para uma situação com outras lentes, ou olhar para os pensamentos como apenas simples acontecimentos, e não como factos per se. Ao ganhar este conhecimento de como a sua mente funciona, pode controlá-la melhor, ao invés de ser dominado por ela.

 

Vamos experimentar?

publicado às 17:30

Expressões faciais das emoções

por oficinadepsicologia, em 06.04.12

Autora: Sandra Duarte

Psicóloga Clínica

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Sandra Duarte

Numa conversa entre duas amigas:

- Ontem esqueci-me de te enviar a morada do médico – disse a Ana desiludida.

- Não te preocupes – diz a Bárbara.

- Ficaste zangada? Era importante para ti – questionou a Ana.

- Não, não fiquei. Estás desculpada amiga – disse calmamente a Bárbara.

 

Estas amigas entenderam-se sobre um simples compromisso que ambas tinham feito. Mas mesmo assim pode ter existido alguma dificuldade no reconhecimento das emoções que uma e outra estavam a demostrar. Por exemplo a zanga, que foi questionada pela amiga A. Será que a expressão facial de cada uma das amigas estava em harmonia com o conteúdo que estavam a verbalizar, o seu tom de voz e postura corporal?

Para Ellis e Singh (1998), desde bebés que os seres humanos começam a ler mensagens emocionais expressas nas faces humanas, primordialmente das suas mães. À medida que vão crescendo e transpondo as fases da vida que se apresentam, aprendem diferentes noções das emoções. Na esfera afectiva, vai-se interiorizando que o sucesso das relações interpessoais depende, em larga escala, do modo como se percepciona correctamente o efeito que a informação que se está a transmitir/comunicar tem no outro (receptor), através da observação e interpretação da expressão facial do receptor da mensagem.

 

Mas como é que se faz essa percepção? Neste exemplo de comunicação interpessoal, visualiza-se que consoante a contracção ou a extensão de um determinado músculo da configuração da face em detrimento de outro, significa que uma emoção particular está a ser expressa. Assim uma pessoa tem a capacidade de distinguir uma face triste de uma alegre ou uma zangada de uma surpreendida.

 

Sem dúvida que não é assim tão simples. Existe uma enorme variabilidade humana, pois algumas pessoas reconhecem expressões faciais de emoção melhor do que outras pessoas, ou reconhecem expressões faciais do tipo alegre melhor do que a zangada. Geralmente as pessoas conseguem interpretar correctamente as mensagens emocionais, sendo que, de acordo com Ellis e Singh (1998), a maioria reconhece correctamente emoções pelas expressões faciais do outro, em pelo menos 80% das situações em que se encontram em interacções interpessoais.

 

Destaca-se que as dificuldades humanas no correcto reconhecimento das seis expressões faciais básicas das emoções (felicidade, medo, nojo, raiva, surpresa e tristeza), segundo as autoras podem estar associadas a problemáticas de perturbações de humor, autismo, esquizofrenia, entre outros. Neste tipo de patologias pode-se confirmar o que Shean, Bell e Cameron (2007) defendem, que a dificuldade para percepcionar correctamente expressões emocionais está relacionada, no âmbito interpessoal, com a desconfiança, a falta de relações de amizade, de intimidade ou isolamento. O facto das expressões faciais manifestadas continuadamente, serem ou não adequadas ao contexto comunicacional, verbal ou não-verbal é o factor-chave (Wolf et al, 2006).

 

Se sente esta dificuldade relacional no reconhecimento de emoções, venha saber mais sobre a criação de um vínculo relacional, a importância da interactividade de afectos entre as pessoas, a sua exteriorização pelas expressões faciais, de forma a conseguirem estabelecer esse elo de ligação.

publicado às 12:17

O controlo é apenas uma ilusão de segurança

por oficinadepsicologia, em 02.04.12

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

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Tânia da Cunha

É habitual e pode ser saudável querer ter controlo sobre a vida. Em algumas situações como por exemplo a antecipar perigos. De um ponto de vista da evolução, o desejo de manter controle parece ter significado adaptativo. Queremos dizer com isto que, o desejo de uma vida menos vulnerável e mais controlada não constitui um problema. O mesmo não poderemos dizer quando a insegurança, a dúvida, a desconfiança ou o medo nos leva a ver perigos em lugares seguros ou a antecipar só o que é errado na vida.

 

Ao vivenciar o controle como forma de combater a sua insegurança, tenderá a criar os seus dias num tormento. E em vez de viver plenamente momento a momento, torna-se atafulhado com pensamentos que possibilitam a construção de um mundo distorcido por percepções de insegurança.

 

Se a necessidade de controlo já se tornou demasiado importante para si, provavelmente será mais susceptível a determinadas armadilhas: afirmações do dever ser, “e se...”, visão de túnel, leitura da mente, “tem que”, pensamento a preto e branco e chamar nomes.

  • Afirmações do dever ser: “Devo ter mais sucesso”; “Devo seu um filho exemplar”. Estas afirmações evocam um sentimento de culpa e de falhanço. A alternativa saudável é evitar este tipo de afirmações substituindo-as por afirmações como “Quero ter mais sucesso”; “Seria boa ideia estar mais atento aos meus pais”.
  • “E Se...”: “E se eu não conseguir o emprego?”. Trata-se de uma antecipação do problema antes de acontecer. A alternativa saudável é compreender que os “E se...” minam a sua autoconfiança perseverando a ideia de que só pode estar seguro se conseguir antecipar a vida antes de acontecer.
  • Visão de Túnel: ou afunilamento do campo perceptivo. “Não consigo fazer nada certo”. Em vez de ver o quadro total, vêm-se apenas aspectos escolhidos da situação. A alternativa é compreender que a vida é raramente limitada a um ponto de vista, uma opção ou uma solução.
  • Ler a mente: “As pessoas pensam que eu sou um chato”. Ler a mente é uma tentativa de interpretar as acções das outras pessoas como se soubesse o que elas estão a pensar. Como alternativa insista na verdade objectiva. Faça perguntas em vez de se pôr a adivinhar.
  • Ter que: “Tenho que ter sucesso”; “Não tenho escolha”. O “ter que” é semelhante à visão de túnel na medida em que o seu campo perceptivo se estreita até aquilo que sente que deve fazer. Enquanto a visão de túnel limita as suas escolhas perceptivas, o pensamento “ter que” elimina as suas escolhas. Compreenda que “ter que” é uma débil tentativa para adquirir controle e domínio sobre um mundo perigoso.
  • Pensar a Preto e Branco: “Nunca mais serei feliz”. Aprenda a tolerar alguma ambiguidade na sua vida, a reconhecer que uma decisão impulsiva, se errada, apenas cria mais problemas.
  • Chamar Nomes: “Sou estúpido”; “Sou demasiado gordo”. A alternativa saudável é ser duro e dizer a si próprio que chamar nomes não é permitido. Pare de se torturar. Não compensa.

publicado às 14:57


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