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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Com frequência são revelados em consultório os sentimentos de desilusão e frustração que se abatem sobre os casais de famílias reconstituídas. Este é um sinal de alerta significativo, já que as estatísticas indicam que a taxa de separação é maior nestas famílias comparativamente com as famílias tradicionais, deixando-nos de sobreaviso para o risco acrescido de ruptura das famílias reconstituídas.
É então importante apelar à “saúde” e preservação das famílias reconstituídas alertando os membros do casal de que as tarefas que têm a seu cargo são diferentes das famílias tradicionais e que envolvem uma maior complexidade e maturidade emocional.
É importante dizer também a estes casais que estas tarefas poderão ser desempenhadas com naturalidade e satisfação mas que é importante conhecer as diferenças, singularidades e os desafios que as mesmas comportam, para que possam ser satisfatoriamente superadas.
Tem-se verificado com frequência uma pressa em (re)casar ou em unir as duas famílias, por parte dos dois cônjuges, o que não é senão prejudicial à nova constituição. Veja-se, com naturalidade conta-se nas famílias reconstituídas com a presença de filhos, pelo que naturalmente o casal será muito solicitado no seu papel parental.
É importante então alertar este casal de que o seu primeiro passo continua a ser: namorar. Primeiro há que nutrir, solidificar e preservar este espaço conjugal. A dica é namorar, só depois juntar.
A idealização de que este (re)casamento será a oportunidade em que “tudo vai dar certo” e em que “não vai haver erros”não é senão ilusória.
É importante que cada um dos membros do casal aceite que todas as relações trazem inevitavelmente negociações e embates de opiniões pelas naturais diferenças inerentes aos novos membros do casal. Assim, é então importante que cada um dos membros do casal esteja disponível, primeiro para ver as diferenças e depois para falar sobre elas, pois só falando se contornam e se dissolvem os temíveis “erros”.
Muitas vezes o casal inibe-se de falar pois paira sobre ele o fantasma da separação: o receio de se repetir a experiência passada (exceptuando-se os casos de viuvez ou de monoparentalidade). O truque consiste em não fingir que este fantasma não existe mas também em não viver assombrado por ele. A dica é então, enfrentar as diferenças, olhando para elas, falando sobre elas.
Apenas falando, negociando, renegociando, umas vezes em acordo, outras naturalmente em desacordo é que o novo casal poderá enterrar os padrões, regras e códigos utilizados na relação anterior e que já não fazem sentido nesta nova relação, bem como edificar novos acordos satisfatórios para o novo funcionamento familiar.
Outro desafio importante nestas famílias relaciona-se com o “mito do amor instantâneo”. É importante que o casal perceba que as relações idealizadas de solidariedade entre o padrasto/madrasta e os filhos do outro membro do casal poderão não chegar a existir e que tenha em mente que o tempo será o melhor aliado nas identificações e aproximações.
Convém ainda realçar que é importante que o papel parental seja desempenhado pela figura parental biológica sendo o padrasto/madrasta apenas um precioso auxiliar, que com o tempo e com a eventual fortificação das relações pode começar a tornar-se uma figura mais activa. A dica para os padrastos e madrastas consiste em não ter pressa em ser visível, para não correr o risco da sua presença ser gritante.
Por fim, é importante sublinhar que já se observa uma nova tendência nas famílias reconstituídas que começam a organizar o seu quotidiano entre duas casas. Assim, ao (re)casar ou ao juntar-se novamente, a dica consiste em experimentar o que melhor funciona para a nova organização familiar e em não teimar em seguir cegamente o arquétipo de família tradicional. Não há censura que o venha castigar, pelo contrário, sairá certamente a ganhar ao adaptar-se às (re)organizações necessárias da sua nova família.