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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico
Nestes anos que levo como profissional, tenho encontrado tantos e tantos portugueses capazes que, simplesmente, não conseguem ter um emprego aceitável. É que, por mais que se esforcem, parece que todas as portas se lhes fecham sem lhes perguntar o nome. Os exemplos são tantos que ficamos sem esperança de algum dia conseguir ter uma vida tranquila. Muitos deles acabam por sair de cá e ir conquistar outros países, com mérito amplamente conhecido. Mas Portugal ainda tem heróis que a história irá um dia lembrar e contar. Pessoas que lutam até ao limite das suas forças para conseguir uma oportunidade na vida. Pessoas que me inspiram todos os dias com a sua perseverança. Com a sua fé.
Existe uma história que conheci há uns anos atrás e que me fez tanto sentido que decidi vir partilhar consigo hoje. Tanto pela sua aplicação na vida de todos nós como pela dose de humor que contém, ingrediente essencial para lidar com momentos de crise.
Esta pequena história fala de um pescador português que, quando ia à pesca, nunca tapava o balde onde colocava os caranguejos que apanhava. As pessoas que o conheciam achavam aquela situação um tremendo mistério. Até ao dia em que alguém lhe perguntou se ele não se preocupava com a possibilidade dos caranguejos apanhados fugirem, já que tinha sempre o balde destapado. O pescador respondeu prontamente e acabou por revelar o seu segredo. É que ele apanhava caranguejo português, uma espécie destes crustáceos que tem uma característica peculiar: é que quando um deles começava a tentar trepar o balde, os outros iam logo atrás dele e puxavam-no para baixo!
Nunca tive a oportunidade de testemunhar esta situação in loco mas apenas a ideia nela contida foi suficiente para lidar até com algum insucesso que eu tivesse tido. A cultura portuguesa parece incluir um terrível aspeto e que é uma espécie de sabotagem nacional. Não gosto de generalizações mas uma coisa é certa: os portugueses valorizam muito pouco as suas capacidades e valorizam demais o que vem de fora. E se por acaso alguém de cá as maximiza ao ponto de ter sucesso honesto na vida, começa a enfrentar dificuldades inesperadas. Parece que em vez de serem vistas como exemplos a seguir e como uma fonte de motivação para todos, estas pessoas acabam por sentir tenazes que os puxam para baixo, de formas tão diferentes. Em vez de partilharmos as conquistas de todos, em vez de crescermos juntos, passamos demasiado tempo focados naquilo que outros atingiram ou naquilo que não temos. E aquilo que já conseguimos? E aquilo que podemos atingir? E aquilo que podemos aprender e ensinar para fazer de Portugal um belo país para se viver? É que temos um clima fantástico, com uma gastronomia sem igual, costumes milenares, uma paisagem e uma localização geográfica esplêndidas e um povo histórico que mudou a Humanidade.
E será que temos noção disso? E será que SENTIMOS isso? Não me parece. Se isso ocorresse não continuávamos a perder os nossos melhores talentos para outros países, sabotando intemporalmente o nosso próprio progresso e hipotecando o futuro das novas gerações. A verdade é que desde que conheci esta história, sonho e incentivo a que possamos ser felizes juntos. E você que aí está pode ajudar-me mais do que parece. Como? Tente ser ainda melhor todos os dias, superando-se e aprendendo com os que fazem sucesso. E quando o seu esforço tiver bons resultados, partilhe a sua felicidade. Dê a mão a quem precisa da forma como gostaria que o fizessem consigo. Portugal merece!