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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
E-mail recebido
"Desculpe incomodar, mas estou precisando de ajuda. Vamos começar pelas apresentações: Meu nome é A, tenho 38 anos e uma filhota de 5 anos. Estou casada a 11 anos, com mais 4 de namoro.
Neste momento vivo o meu luto da separação e em conflito constante. Há 1 ano que que vasculho dentro de mim o desejo que até então tinha por meu marido, mas nada encontro. Há um ano que vivo fechada numa “jaula” que eu mesma criei. Não consigo, simplesmente dizer: Acabou. Quero o divórcio.
Não há ninguém extra conjugal, apenas ruiu/despareceu o sentimento. Precisei deste ano para me testar e impor limites à minha certeza, mas esta é uma decisão que todos os dias ganha mais consistência em mim. Mas não tenho coragem para dizer a meu marido. Não é tanto pelo medo que tenho de poder vir a ser julgada como insensível, mas apenas porque não tenho coragem. Não sei como fazer…o que dizer.
Pode me ajudar, aconselhar?"
Cara A
Poucas situações existirão que sejam tão dolorosas, confusas e plenas de ambivalência como encontrarmo-nos perante a conclusão que já não queremos estar junto da pessoa que estamos. Esta situação torna-se particularmente penosa quando existe um laço prolongado, confirmado em casamento, e do qual resultam filhos pequenos – como parece ser o seu caso. A descrição que aqui nos deixa parece ser a de uma lâmpada que se fundiu. Como se um dia parasse para reflectir em si e na sua vida e, ao longo do tempo, fosse tomando forma a conclusão de que já não sente pelo seu marido aquilo que a levou a estar com ele durante 15 anos. Fala-nos, também, em falta de coragem. Com franqueza, não me parece ser esse o caso. Estranho seria se tomasse a decisão de terminar uma relação de 15 anos de maneira leviana! E insensível, quando muito, seria comunicar essa decisão de ânimo leve ao seu marido e família. Hesitar quanto à forma de proceder é aquilo que me parece ser o mais expectável dadas as circunstâncias. Não a conhecendo a si, nem ao seu marido, há algumas questões que me parece ser útil ponderar. Em primeiro lugar, o que será que torna tão difícil comunicar ao seu marido o que sente? Será que para si é uma certeza que não há qualquer possibilidade de recuperar o que sente ter desaparecido com o tempo? Aquilo que não quer mais é o seu marido, ou a sua relação como ela se encontra no momento? O que poderiam ser as consequências positivas, e as potenciais dificuldades, de o comunicar?
Reflectir sobre estas questões poderá ajuda-la a posicionar-se, e a ver as coisas com mais clareza. Se continuar a sentir as dificuldades com que se debate, parece-me que a pessoa mais indicada para a ajudar será, seguramente, um terapeuta de casal. Contrariamente ao que os filmes e séries muitas vezes dão a entender, a terapia de casal não serve, apenas, para reparar relações danificadas. Serve para estabelecer um patamar de comunicação aberta e eficaz, no qual se podem tirar conclusões e experimentar soluções: seja no sentido de recuperar a relação, seja para ajudar a compreender e transitar de forma harmoniosa para uma separação.
Espero que esta resposta seja de facto o ponto de partida para que encontre algumas respostas suas. Caso a possamos ajudar de mais alguma forma, por favor não hesite em contactar-nos.
Um abraço,
Francisco de Soure
Oficina de Psicologia