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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Irina António
Psicóloga Clínica
O exercício de criar novas facetas aos fenómenos da nossa vida é uma das práticas mais habituais no processo terapêutico. Para perceber melhor como isso acontece, quero propor-vos uma experiência com um fenómeno muito bem conhecido por todos nós – a preguiça.
A preguiça é uma qualidade reconhecida pela falta de vontade de trabalhar expressa pela moleza e lentidão. Mas este é um ponto de vista tradicional, consegue encontrar os outros?
Actualmente, com o ritmo de vida alucinante que todos levamos no nosso dia a dia, a preguiça pode ser vista como um mecanismo de defesa que nos “obriga” a parar, sendo que a falta de vontade de fazer seja o que for pode servir de sinal da sobrecarga física e psicológica do nosso organismo. Os fisiólogos têm um termo “inibição protectora” que significa mais ou menos o seguinte: quem trabalha sem ter consciência dos limites, um dia pode acordar sem forças. O organismo deixa de obedecer ao seu dono e começa boicotar as incitativas dele. O dono começa a ter enorme vontade de dormir, ficar deitado no sofá, falar horas pelo telefone com a amiga, ver todos filmes que tinha gravado há muito tempo e tantos outros “caprichos” dignos de um verdadeiro preguiçoso. Esta situação pode surgir com alguma frequência no meio de pessoas mais conhecidas como “Workahólic” cujo dia, como se costuma de dizer, tem “25 horas”.
A outra faceta da preguiça encontra-se na ausência da motivação. A falta de vontade persistente, por exemplo, pode ser vista como uma mensagem do nosso inconsciente “era mesmo bom se fizesses uma revisão do caminho que tinhas feito até agora para perceber onde te encontras actualmente. Será que faz sentido continuar a seguir o mesmo itinerário?”. A essa paragem habitualmente causa conflitos em que o preguiçoso é acusado de falta de cumprimento do dever: o chefe ficará irritado por o subordinado nunca mais concluir o projecto, os pais – indignados com irresponsabilidade do filho na escola, a mulher decepcionada com ausência do marido em casa à hora combinada, etc., etc. Nos casos desta natureza faria sentido fazer uma reflexão a dois para desmascarar essa atitude preguiçosa.
Para alem disso uma aparente preguiça pode estar associada a um esgotamento nervoso, um estado depressivo, uma experiência traumática.
Mas todas estas facetas da preguiça não são um motivo de desespero para o seu “detentor”, a não ser que sejam acompanhadas por uma outra variedade da preguiça – preguiça de pensar, de reflectir, porque é muito mais fácil andar por inércia mesmo que não se sinta satisfeito com o modo da vida que leva, do que parar e experimentar fazer algo de diferente. E em vez de martirizar a cabeça do filho por ele não ajudar em casa, dê-se ao trabalho de pensar “como posso motivá-lo para isso?”. Em vez de se queixar de falta de dinheiro, tente reflectir sobre os seus gastos e proveitos, sobre uma organização financeira mais eficaz. Porque precisamente esta faceta da preguiça, influencia negativamente a nossa postura interna, que transparece para o exterior como falta de atitude perante a vida.
Se alguém o(a) chama preguiçoso(a), experimente reflectir sobre o que está a acontecer, pelo menos não desista de pensar. Em vez de persistir com algo que não está a mover, pare e faça a si mesmo umas perguntas “o que está a acontecer?”, “ o que isso me faz sentir?”, “o que estou a evitar quando não faço algo?”, “o que necessito para conseguir algo?”. Procure respostas realistas e de preferência com alguma perspectiva “ o que quero nesta fase da minha vida?”. E se descobrir que a sua preguiça simplesmente sinaliza a necessidade de fazer uma pausa e oferecer a si mesmo um momento de prazer e de descanso, faça isso seguindo uma boa sugestão “não guarde para amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã”.