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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Isabel Policarpo
Psicóloga Clínica
A menopausa, enquanto última fase do ciclo reprodutivo da mulher, marca a transição para uma fase com mudanças físicas e psicológicas que como já tivemos oportunidade de verificar é influenciada pelo contexto social e histórico-cultural em que a mulher se insere.
É nas culturas ocidentais, orientadas para o culto da beleza e da juventude, que a menopausa se encontra mais penalizada, não só pelas fortes conotoções negativas a que está associada, mas também por ser a cultura onde paralelamente as perturbações e as mudanças que acompanham a menopausa parecem adquirir maior impacto.
Mas será que todas as mulheres do ocidente sentem e vivenciam a menopausa da mesma forma? Em que medida que o papel que as diferentes mulheres ocupam na sociedade interfere com a forma de olhar e vivenciar esta fase de mudança?
Diversos estudos têm demonstrado que as mulheres que desempenham papéis nos quais a actividade intelectual, a criatividade ou a força espiritual são valorizadas – como artistas, políticas, escritoras ou terapeutas, lidam melhor com a transição da menopausa. Enquanto que as mulheres cujo valor sempre dependeu mais da sua aparência física ou do seu papel na família – como actrizes e/ou mulheres só mães e donas de casa, se sentem mais diminuídas no seu estatuto e parecem mais predispostas à depressão nesta fase da vida.
Também as mulheres de classe média e média-alta tendem a diferenciar-se das mulheres de classes mais desfavorecidas, por considerarem que a menopausa representa uma libertação que lhes abre novas oportunidades. Isto é, finalizada a tarefa de cuidar e apoiar os filhos, estas mulheres não sentem vazio, nem que a sua vida perdeu o sentido.
O crescimento e a emancipação dos filhos não tem que representar uma perda, mas antes pode ser perspectivado como uma oportunidade de investimento pessoal e de auto-reflexão. As mulheres têm mais tempo para si, o que lhes permite maior consciência do seu valor.
Interessante é notar, que o facto destas mulheres se sentirem mais confiantes e com mais auto-estima, e curiosamente menos dependentes das opiniões e expectativas dos outros, tende a ser encarado como um sinal negativo da “menopausa” pelos seus companheiros, que estão pouco habituados a que as mulheres pensem em si e por si.
A forma como a menopausa é vivida por cada mulher depende em última instância do seu funcionamento psicológico e do contexto sociocultural, mas este fenómeno biológico tem necessariamente um impacto enquanto finalização da vida reprodutiva e anúncio do envelhecimento. Como qualquer processo comporta perdas e ganhos.
Algumas mulheres lidam com estes sentimentos de modo positivo e tentam superá-los encontrando novas formas de realização e de satisfação, seja a nível profissional, intelectual ou espiritual. Também no âmbito familiar e/ou social, ao inverso de assumirem uma visão catastrófica de “fim”, tendem a ter a sensação de “missão cumprida”.
Contudo, outras mulheres sentem-se insatisfeitas em todas ou em algumas das vertentes, e consequentemente sentem-se fracassadas, tornando-se deprimidas e impotentes.
No fundo, a identidade de cada uma de nós é o produto final da articulação das suas vivências, representações, fantasias e interacções com o mundo real. É neste fluir que cada mulher adquire a forma como se vê e como pensa que é vista pelos outros.
Os sentimentos oscilantes de realização e/ou de fracasso dependem sobretudo da sua experiência de vida e do modo como se relaciona com o mundo externo e de como se projecta no futuro.
A menopausa prepara-se no hoje.