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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Motivação Intrínseca: o que nos motiva a fazer algo quando não temos de fazer nada!
Prazer. Essa palavra ligada a tudo aquilo que nos faz sentir tão bem. Quando está presente, perdemos a noção do tempo e até do espaço. O nosso organismo agradece imenso, vicia-se até nele. Liberta-se dopamina, um neurotransmissor dos mais importantes, e que vai afetar o hipotálamo, uma glândula endócrina das mais importantes. Como consequência, o centro da emoção, a preciosa amígdala, causa bem-estar e sentimentos de alegria, vitalidade e plenitude. E realmente, todo este processo é imensamente simples. Qualquer atividade que nos leva a fazê-la apenas pela satisfação que a sua realização nos dá mostra o quanto a motivação “interior” pode ser poderosa.
Quando passamos a vida centrados nas recompensas exteriores (como encontrar o ordenado, a família, o parceiro ou até o país “certos”), dependemos imenso deles para atingir prazer com a vida e criamos uma falsa ilusão que nos afasta da solução e contribui para o problema. É como se as necessidades que temos dentro de nós ficassem presas com uma corrente das fortes à possibilidade de encontrarem resposta no mundo que nos rodeia... Este funcionamento leva a doses imensas de frustração. É que o exterior é muito difícil de mudar (em alguns casos, impossível) e de ter controlo sobre. O nível de insatisfação aumenta de dia para dia e que nos faz esperar e cobrar mais do mundo exterior. As expectativas tornam-se gigantescas, sem hipótese de satisfação pelo mundo. Este é um processo que acontece muito na minha prática clínica: o início do processo estar ligado a eventos exteriores que tiveram e têm impacto negativo nos clientes. Penso que este é um erro em que caiem muitos profissionais de saúde mental, incluindo eu próprio: ceder à sedução de focar a terapia nos eventos destrutivos da vida lá fora. De facto, há momentos na vida em que tudo nos acontece. Mas o que faz a diferença é trabalhar o impacto que eles têm nas nossas emoções! E é precisamente por isso que o primeiro objetivo da psicoterapia é encontrar e fomentar pontos que o cliente pretende trabalhar, melhorar e mudar em SI PRÓPRIO.
Este trabalho é o foco nas necessidades do cliente (reparando-as ou encontrando-as) e a definição de caminhos e estratégias para as preencher. Pense no quanto precisa, por exemplo, de pessoas importantes em termos sociais e afetivos; de sentir que tem um perfil profissional e académico que faz de si alguém único e competente; de sentir novidade e desafio na sua vida e equilibrar os momentos de maior estagnação e monotonia; de ajudar, contribuir e partilhar a vida de pessoas e projetos significativos ou de sentir que a sua vida está a evoluir, que tem um rumo suportado por objetivos ambiciosos e realistas. O segredo está todo aqui, no que precisamos. É o contacto íntimo com este mundo interno que nos vai ver a vida com outros olhos e, curiosamente, aumentar a probabilidade de termos os tais motivadores extrínsecos que tanto queríamos no início. É que a motivação intrínseca contribui para a subida da nossa auto-estima, para a melhoria do nosso desempenho profissional e relacional. O prazer leva-nos a persistir e aperfeiçoar o que sabemos, como fazemos e quem somos. Os eventos negativos lá fora poderão ser os mesmos mas o seu significado muda para nós: encontramos neles recursos que estavam escondidos ou simplesmente, deixamos de lhes dar importância. As responsabilidades dão estrutura à nossa vida mas é a satisfação que nos ilumina o caminho. E de cada vez que conseguimos atingir um objetivo, é proibido o esquecimento do auto-reforço: dê momentos valiosos a si próprio sempre que isso acontece, faça-se sentir bem e com valor. É que o tem mesmo!
Espero que tenha tido prazer com estas palavras, ponha-as então em prática e verá como o mundo exterior o trata bem. Depois diga-me como correu! que nos motiva a fazer algo quando não temos de fazer nada!