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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
Eu vou dizer isto baixinho, porque pode ser segredo, de tão ignorado que é. E melhor que ninguém repita, está bem? Não é por nada, apenas porque a maior parte das pessoas parece gostar de acreditar no oposto e fica irritado com esta ideia peregrina… Pronto, vou dizer, que me parece que ninguém está à escuta: o ser humano não cabe numa caixinha! Por mais que se retorça e contorça, não cabe, pronto. É grande demais, mesmo se pensarmos na maior caixinha que a nossa imaginação consiga desenhar; vai sempre sobrar qualquer coisa, uma perna, um braço, nem que seja o dedo mindinho, que vai sobressair, transvazar paredes, mostrar a sua imensidão.
Mas nós não parecemos saber disso – dia após dia, segundo após segundo, inventamos caixinhas feitas do verbo ser onde nos tentamos simplisticamente conter. “Eu sou…”, digo, e com isto, reduzo-me à simplicidade e ao menosprezo de todas as vezes e todas as situações em que, precisamente “não sou…”. À força de o repetir, vou perdendo maleabilidade – “Eu sou fraco”, logo basta-me arrancar com o programa da fraqueza a cada situação nova que se me depare, sem me deter um segundo a mobilizar as forças que decidi não estarem lá. À força de o acreditar, vou-me conformando a um desenho de mim mesmo que entendi, por portas travessas, que me reflectia. “Eu sou pessimista”. Enterrando-me na previsibilidade, ignorando a maravilhosa incongruência que faz parte do capital genético do ser humano, de algo e o seu contrário, numa simultaneidade paradoxal, desperdiçando oportunidades de agir, pensar e sentir diferente. “Eu sou ansioso”. Em caixinhas me vou enroscando, preguiçando sob o calor enganador de etiquetas aleatórias. E, na caixa, carimbo “Frágil”. Com um pouco de sorte, alguém escreve, também, “Este lado para cima”.