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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Débora Água-Doce
Psicóloga Clínica
Esta reflexão pretende discutir a problemática da relação entre a vida cognitiva e afectiva, remetendo para a importância dos processos afectivos na educação. Os afectos (emoções e estados de espírito) têm sido entendidos como “cognições”, como entidades delineadas por processos cognitivos, como parte integrante das cognições ou como entidades independentes das cognições. Estas distintas abordagens têm implicações na forma como se entende o impacto dos afectos no modo como pensamos e nos comportamos.
Afecto é o atributo psíquico que dá valor e representação à realidade. Os afectos valorizam tudo aquilo que está fora de nós, como os factos e os acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjectivas), tal como os nossos medos, os nossos conflitos e anseios. Valoriza também os factos e acontecimentos do nosso passado e as nossas perspectivas em relação ao futuro. Existem diversos factores e acontecimentos que fazem alterar a forma como percepcionamos a realidade e os afectos podem ter uma representação negativa da própria pessoa. Para entender a afectividade é necessário compreender antes alguns elementos do mundo psíquico: as representações, as vivências e os sentimentos.
Durante toda a nossa vida, os factos ou acontecimentos vividos por nós são as experiências de vida e passam a fazer parte da nossa consciência. Dos factos e acontecimentos teremos lembranças e sentimentos, assim como também teremos lembranças desses sentimentos, portanto, lembrar-nos-emos não apenas das nossas experiências de vida mas também se elas foram agradáveis ou não, aprazíveis ou não. Os processos cognitivos são interpretações, não representações da realidade. São condicionados por factores importantes e apresentam uma sequência evolutiva geral, na medida em que, primeiro são os processos de observação sensorial e, em seguida, os processos de representação e do pensamento a adquirir a eficiência funcional. Dão-se em forma sensorial, racional e emocional. Os conhecimentos do indivíduo originados por seu intermédio organizam-se de modo selectivo.
O conceito de afectividade é utilizado para caracterizar o conjunto de todas as vivências de sentimento, emoção e disposição anímica intensa, tornando-se assim sinónimo de “emocionalidade” uma vez que, as emoções são um fenómeno psicológico que envolve reacções fisiológicas, experiências subjectivas, cognições (emoções explicam cognições), expressões/comportamentos ou varias combinações destes elementos. Uma tentativa importante para explicar o que provoca a emoção é a teoria da atribuição da activação, de Schachter e Singer, que defendem que a emoção que sentimos é uma interpretação das respostas corporais e, especialmente, da activação autónoma à luz da situação à qual esta é atribuída. Os efeitos de falsas atribuições da activação autónoma têm lugar quando a situação é inexactamente creditada com activação; o transporte da activação pode também ocorrer, como na transferência da excitação. Damásio tem vindo a provar a importância das emoções, mostrando que não há razão sem emoção.
A actualidade está profundamente marcada pelo conceito de mudança e, praticamente em todas as áreas do saber, a mudança ocupa um lugar central. A área da educação sofre, ou beneficia, de um processo de alteração paralelo em que os aspectos cognitivos dos processos de aprendizagem são tratados de uma forma conjunta com os aspectos de ordem emocional e emotiva.
Torna-se portanto visível a necessidade de valorizar os aspectos emotivos e afectivos no campo da educação. Será importante considerar a emoção no contexto da educação nomeadamente na inter-relação entre as emoções e a aprendizagem. É através dos sentimentos, (que são dirigidos para o interior e são privados) que as emoções, (que são dirigidas para o exterior e são públicas) iniciam o seu impacto na mente. Daniel Goleman em 1995 publicou o livro intitulado “inteligência Emocional” e salienta a influência que têm os estados emocionais sobre a actividade mental, sendo esta conhecida desde há muito pelos professores. O autor dizia que os alunos ansiosos, zangados ou deprimidos não aprendem e, as pessoas que se encontram nestas situações não conseguem absorver nem reter informação de uma forma eficiente. Insere-se aqui o impacto dos afectos no modo de processar a informação, em que os estados de espírito podem influenciar de forma positiva ou negativa a aprendizagem.
Penso ser importante referir que a evolução que caracterizou esta última passagem de século, aponta para a necessidade de ter em conta os processos emotivos e afectivos para além dos meramente racionais ou cognitivos. É de salientar a extrema capacidade que alguns professores têm em reconhecer o estado emocional dos seus alunos e, baseados na sua observação, agir de forma a influenciar positivamente o seu processo de aprendizagem, dar-lhe o apoio e a resposta adequada para que consiga atingir um elevado grau de compreensão quanto à eficiência e ao prazer do processo de aprendizagem. As quatro emoções mais comuns que aparecem nas listas de vários teóricos são o medo, a raiva, a tristeza e a alegria. Plutchnik acrescentou o repúdio, a aceitação, a antecipação e a surpresa. Ekman (1992) focou um conjunto de seis a oito emoções básicas que têm associadas expressões faciais. O modelo de Kort et al – Modelo Afectivo da Inter-relação entre Emoções e Aprendizagem – identifica cinco emoções básicas a que chamam “Eixos”. Trata-se da ansiedade – confiança; aborrecimento – fascínio; frustração – euforia; desanimado – encorajado e terror – encantamento.
Para terminar, devo salientar que o mundo das emoções é altamente complexo e pode conter outras misturas de palavras e de conceitos para além das aqui referidas, além disso, é importante referir que os processos cognitivos são elos de um movimento de desejo. Por conseguinte, encontram-se em íntima relação com os processos de motivação; por um lado, a cognição é regulada por processos de motivação, por outro, a motivação é influenciada por processos cognitivos.