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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico
A época Natalícia é uma altura de emoções fortes, ninguém duvida. Sentimos alegria por estarmos com quem mais amamos. Sentimos tristeza se não os temos por perto. Voltamos atrás no tempo e relembramos quem um dia fomos, as pessoas que nos sorriram, as prendas que nos deram e os locais onde crescemos. Onde tudo era deliciosamente simples e, ao mesmo tempo, transcendente. Para dizer a verdade, vivemos tão ocupados na nossa vida presente que esquecemos as nossas raízes, onde tudo começou. Há dias em que sentimos a necessidade de lá voltar… ao nosso jardim mágico.
Era lá que um menino brincava sem fim. Onde árvores imponentes lhe davam sombra e escondiam aves que o deixavam estupefacto. Onde lagos cristalinos davam vida a peixes que o intrigavam ansiosamente. Havia também águas sem fim onde se banhavam imponentes patos que passeavam todo o seu esplendor. Tudo servia para o menino se fascinar. Não lhe interessava o que vinha a seguir ou se se ia aleijar ou sujar, simplesmente tinha tanto prazer naquele momento que se esquecia que o sol se punha dali a pouco. Corria por caminhos de terra sem fim e tropeçava por vezes, na azáfama de um menino com ânsia de viver. A dor da queda fazia-o mais forte, mais crescido, mais confiante. As folhas caiam por entre céus intermináveis e dormiam sobre a terra húmida de vida. Apanhava também as castanhas que se desprendiam de castanheiros anciãos e ia dar aos seus pais com o orgulho de quem dá uma prenda tão valiosa. Esse menino jogava à bola acreditando que era uma estrela de futebol mundial. Bastava essa fé para marcar mais golos porque era assim que jogava o seu ídolo, não o podia desiludir. Corria sem fim enquanto sorria para os pais que o observavam calmamente de um banco vermelho de madeira intemporal. O menino mostrava-lhes os seus dotes e mesmo quando a finta não saía bem, tinha por perto o afeto dos cuidadores e as palavras de incentivo levantavam-no rapidamente da areia, que se colava nas calças tão docemente preparadas pela mãe. O cansaço era tanto que se deixava cair e rebolar na relva viva de esperança. Logo a seguir, o menino observava o seu pai a dar milho aos pombos e queria tanto ajudar. Aprender tudo com o mestre para ser como ele e, finalmente, ser “um homem”. Como era importante para aquele menino saber todos os detalhes da vida animal e vegetal. Era mesmo fascinante cuidar da Natureza e invadir os seus sentidos com todo o seu agradecimento. Por fim, era altura de mais uma corrida atrás do esférico, driblando as sombras da noite bela que chegava. Esse menino não conhecia limites, aquele jardim era à medida da sua imaginação incontrolável. Outros meninos e seus pais brincavam com aquela criança ávida de vida. A sua energia era contagiante e o seu sorriso um hino à humanidade. O corpo já pedia descanso, tinha sido uma longa tarde. Até que os pais o chamavam, chegara a noite de Natal e o lar acolhedor já os esperava… era tempo de sair do jardim mágico, até ao próximo Domingo.
Naqueles anos, tínhamos ideais e ídolos. Acreditávamos no Amor, na Justiça e na Verdade. Sonhávamos em salvar o mundo, sorrindo sem hesitar. Todos nós fomos crianças e se a vida nos parecer uma grande dúvida, talvez precisemos de voltar atrás no tempo. É que éramos tão felizes como agora podemos ser.