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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Filipa Cristóvão
Psicóloga Clínica
Por estes dias, muitos são os amigos e conhecidos que revelam uma estranha sensação. É Natal, mas sente-se um desconforto “devia estar feliz, mas não estou e não consigo perceber porquê”; “à medida que se aproxima o Natal, sinto-me mais esquisito, mais ansioso”, “é tanta coisa que não consigo aproveitar” e assim se passa uma quadra com uma sensação mal definida de desconforto embora sem razão aparente.
Já lhe aconteceu?
Da próxima vez, páre por uns instantes. Sinta o seu corpo, que parte fica ativada quando se lembra do Natal? Surgem tensões? Em que zonas? Que emoções as acompanham? Que memórias? Que imagens lhe preenchem o espírito?
Podemos antever algumas hipóteses:
- Demasidos estímulos – “Compras, prendas, consoada, festa na escola das crianças, festa no lar dos avós, uff” Natal é sinónimo de correrias. Se para muitas pessoas, este acréscimo de actividade é sinónimo de entusiasmo e funciona como motor, para tantas outras, este ritmo não se coaduna com a sua natureza por isso um desequilíbrio de energia. Por outro lado, ficam muitas vezes evidentes dificuldades de gestão de tempo e de necessidades, que até podem acontecer ao longo do ano, mas dado o desafio da data tornam-se mais claras.
- Perfeccionismo. “Quero ter a casa e iguarias perfeitas para receber pais, tios e primos”. Muitas vezes as expectativas e a tentação de agradar tudo e todos resultam num aumento de tensão e stress. No meio desse investimento, sobra muito pouco tempo para perceber quais são as reais necessidades e o que é esperado socialmente para esta fase.
- O dar e receber- Para algumas pessoas, receber prendas é um momento muito difícil. Muitas vezes porque não se está habituado, não se acha merecedor, ou não se sabe como agir, gerando constrangimento.
- Onde fica a sogra? - As festas natalícias, dado o enfoque na família, obrigam a gestão de relações interpessoais. As preocupações em torno do “quem não se dá com quem”, e como se vai encaixar e gerir desconfortos acabam muitas vezes por invadir não só a festa mas os dias que se lhe antecedem.
- O jantar da empresa - Nestas alturas aparecem os convites para as festas das empresas com um código de conduta próprio. Para muitos este é um momento de encurralamento no “é suposto” apesar de nem sempre as relações organizacionais com colegas e chefias serem favoráveis.
-Existencial - O Natal é também uma data, um marcador. Logo, lembra-nos o que tínhamos programado/sonhado fazer o ano anterior, e qual a realidade do aqui e agora. Não poucas vezes essa diferença sentida o que “ eu queria” ou “isto devia ser” e o “isto é/está” traz frustração e tristeza.
- Luto- É inevitável no Natal não recordar aqueles que partiram, ou que por outra qualquer razão de ruptura já não pertencem à nossa rede de relacionamentos. Existem as memórias, as fotos, “o ano passado foi assim”, e muitas vezes, dores que se julgavam adormecidas, voltam a acordar.
Talvez encontre muitas outras razões. As suas. Talvez estas não lhe sirvam para fazer desaparecer esse mau-estar interno, mas sirvam sim de guião para o descodificar. Pelo caminho, dá-lhe um nome, atribui-lhe significado, convida-o a sentar-se consigo, olha para ele ternamente e não como crítica “que raio de pessoa sou eu, para não gostar do Natal?”.
Neste Natal Respeite-se. Use este momento voltar para dentro e estar um pouco consigo próprio e deixe que as sensações que o acompanham (ainda que lhe pareçam negativas!) possam apenas fluir. E quem sabe, usar essa preciosa informação para delinear planos futuros para tantos cenários que se avizinham neste novo ano.