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Desconstruindo a rejeição

por oficinadepsicologia, em 27.04.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

www.oficinadepsicologia.com

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Fabiana Andrade

Quem é que nunca se sentiu rejeitado? Abandonado? Aposto que a maioria já experienciou a rejeição ou ainda vai experienciar!

Hoje numa sessão, a minha cliente referia como se sentia rejeitada pelo namorado que saiu da relação que tinha com ela.

A medida que ela falava, parecia que ficava cada vez mais pequena e que ele, na minha fantasia, ficava cada vez maior. Com o poder de a “deixar”.

 

Comecei a pensar sobre a noção de rejeição, algo que está presente em nós desde sempre. Percebi que cada vez que alguém se sente abandonado, excluído, posto de parte por outra ou outras pessoas, automaticamente surge no pensamento a ideia:”fui rejeitado”, e a sensação de rejeição que traz tristeza, falta de energia, falta de apetite entre outras manifestações desconfortáveis.

 

Mergulhando nas incontáveis histórias de rejeição que já ouvi, encontro vários indícios prévios de que a relação não estava bem, que a sintonia já não existia e entendemos que na verdade, a tal “rejeição” não passou apenas de um culminar de várias situações. Muitas vezes pergunto à pessoa “rejeitada” se ela mesma gostaria de continuar na relação e muitas vezes a resposta que ouço é algo como: “não sei”, “já tinha pensado em terminar”, “não sei se ainda gosto dele/a”. Ou seja, estamos na verdade perante uma situação de “desencontro” emocional ENTRE duas pessoas onde uma delas toma uma decisão de sair. E não numa situação onde um forte, que já não ama, decide abandonar o outro, frágil, que ainda ama muito.

 

Então surgem as questões: O que leva um a sair e não o outro? O que leva então, a pessoa que não decide sair, a sentir-se rejeitada? Amo alguém que não me ama?

Perante essas dúvidas, sentei-me diante das minhas notas e fui pesquisar o que acontecia nas histórias dessas pessoas. Encontrei algumas respostas que me permitem generalizar algumas explicações.

 

Olhando para a pessoa que sai da relação, percebi que a decisão muitas vezes foi precipitada e favorecida por uma série de factores que se encontravam presentes no momento:

Ex: ganhavam mais; estavam mais realizados no trabalho; tinham uma rede mais sólida de suporte; tinham conhecido alguém por quem se interessavam; tinham casa própria ou a casa alugada estava em nome dele/a.

 

Quero dizer com isso que, na maioria das vezes, aquilo que facilita a que uma determinada pessoa tome a decisão de sair de uma relação, são um determinado conjunto de factores que se encontram presentes no momento que favorecem uma sensação de maior segurança.

Por exemplo, num casal que se separa, como é o caso da minha cliente, a relação já sofria com a falta de comunicação, de carinho, de sintonia. Mas, num determinado momento, o namorado, que se encontrava numa condição profissional favorável, viu-se numa posição propícia a tomada de decisão.

 

Muitas vezes essa tomada de decisão confunde-se (na mente do “rejeitado”) com ausência de afecto – “ele/ela, não gosta mais de mim.

Chegamos então à segunda questão, o que leva a pessoa que não decide a sentir-se rejeitada? Para responder a essa questão fui buscar na história dessas pessoas, a origem do sentimento de rejeição, tentando dessa forma, entender como começou a experiência, quais eram as suas características e os seus gatilhos.

 

Encontrei nos diferentes relatos muitas respostas comuns, tais como:

- quando me sinto rejeitado sinto-me fraco/pequeno/impotente/sem força

- a primeira vez que me senti rejeitado foi na infância, pelos: pais, irmãos, amigos

- quando me sinto rejeitado sinto que o amor me foi retirado/que não mereço ser amado

- ele/ela é melhor do que eu/não vou encontrar ninguém tão bom

 

Olhando para essas respostas, o que vemos? Em primeiro lugar vemos uma confusão entre a decisão do outro de sair da relação, com a noção de amor retirado ou não merecido, esta liga-se com a crença errada de que o outro é melhor do que eu.

Estas noções estão na base da sensação de rejeição e colocam a pessoa num lugar desnivelado da relação com o outro, isso não permite o desenvolvimento saudável da relação.

 

Se a pessoa à partida não está com a sua auto estima num “sítio” saudável, se tem crenças negativas erradas sobre si mesmo, isso não permite que ela esteja numa relação de uma forma feliz e saudável. Essa pessoa sente que o outro está lá a cumprir uma função, sente que precisa do outro. Assim, tem de se esforçar para que o outro não se vá embora. A relação perde a leveza, a espontaneidade e a incondicionalidade.

Observamos que as primeiras sensações de rejeição começam na infância onde de facto existe a sensação do outro ser mais forte/maior, e por isso pode nos deixar. No entanto, fico com a sensação de que trazemos essa mesma sensação para a nossa vida adulta, onde ela já não deveria existir, dando lugar a uma simetria onde não há um forte e um frágil, e sim dois iguais em processe e em movimento constante.

Ao responder a terceira questão, “amo quem não me ama?”, provavelmente chegaremos à raiz do problema! Será que amar alguém que não me ama é possível?

 

As pessoas saudáveis amam-se a si próprias e aos outros incondicionalmente, aceitam-se como são, verificando suas forças e suas fragilidades, adaptando-as ao contexto, de uma forma construtiva. Essas pessoas, perante uma decisão do outro de sair da relação, observam que a decisão teve a ver com o processo do outro, não pondo em causa a si próprias. Não confundem o afecto, que é intocável, com o processo de cada um. Ao mesmo tempo, amam o outro e querem o seu bem, respeitando assim o seu próprio processo.

 

Assim, seria impossível ser saudável e continuar a amar alguém e a querer estar com alguém, que toma uma decisão no sentido contrário.

Ao desembrulharmos o afecto da decisão do outro, entendemos que quando alguém sai da minha vida, isso não diz nada sobre mim e sim sobre o percurso e o timing do outro. A rejeição deixa de ser um conceito que existe no nosso vocabulário e passamos a falar em desencontro.

Também interiorizamos o respeito pelo processo do outro e pelo nosso próprio processo. Se eu me amo, só fará sentido estar com alguém que também quer estar comigo, qualquer outra coisa será inaceitável.

 

Trabalhar no sentido de uma auto-estima forte e saudável, vai ajudar-nos também, a interpretar de uma forma construtiva os desencontros naturais que ocorrem sempre na vida de cada um, em vez de usá-los para nos diminuir ou maltratar.

publicado às 10:05


24 comentários

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De Anónimo a 15.02.2013 às 19:41

Mio dios el mejor texto q ya lee muchas gracias por escribir tan biem y ayudar otras personas...
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De Edivaldo n.miranda a 21.03.2013 às 02:21


Foi de grande ajuda,deus abemçoe,em o mome de jesus!



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De Debora a 21.06.2013 às 16:44

Gostei muito do texto, que boa desconstrução da sensação de rejeição :)
Agora só falta conseguir interiorizar!
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De Frustrado a 17.08.2013 às 14:19

Muito bom o texto. Recentemete perdi um amor e avaliando com calma realmente o termino foi o resultado de muito tempo da omissao de ambos para a relaçao. Gosto de entender o porque das coiss acontecerem. A origem. Entende? Entao pergunto. Racionalmente eh facil compreender, mas por que emocionalmente nos sentimos destruidos e como se nada mais fizesse sentido? Nossa mente devaneia dia e noite com isso. Na pratica o que auxilia a mente a \"curar-se\" dessas armadilhas? Obrigado pelo post. Gostaria de saber mais sobre a terapia tbm Como procedo?
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De SILVANA DE BARROS BORBA a 02.10.2014 às 01:25

Show!!!!
Consegui me olhar por dentro.
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De Marcio Antunes da silva a 26.02.2015 às 20:27

Otimo
artigo....
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De Mari a 01.08.2015 às 14:16

Amei o texto. Apenas uma colocação : acho q não devemos Tbm deixar de nos refazer, admitindo nossos erros. Autoestima é essencial, mas n deixemos de reconhecer nossos erros procurando o crescimento pessoal e aceitando nossas falhas. Obrigada
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De Anónimo a 25.12.2015 às 13:25

Só hoje eu descobri o que se passa comigo. Fiz terapia por 2 anos, sem resultado. É uma pena que eu não tenha descoberto esse sentimento antes. Parece que ele estava ali sempre comigo, eu só não sabia o nome. Obrigada pela matéria.
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De Denise Malateaux a 16.03.2016 às 23:54

Olá! Gostaria do contato da Fabiana Andrade, seria possível? Obrigada!
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De Sapinho galante a 08.04.2016 às 14:39

Pra você a rejeição é tão comum quanto necessária ... o artigo tornou-se enfadonho e desnecessário e recuso-me a lê-lo. Seja mais solidária, saia do jarguao por favor a você mesma. Como você mesmo diria já que deve até ser adepta de ditados populares...você chove no molhado.

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