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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Sentir. Sentir muito. Às vezes até demasiado. Etimologicamente, é curar pela mente. É tentar fazer um caminho a dois, superando qualquer obstáculo. É conduzir e ser conduzido. É arregaçar as mangas e transformar o que impede no que ajuda. É caminhar num sentido e, de repente, fazer o inverso ou descobrir outro completamente novo. É não agredir quando se é agredido. É amar incondicionalmente. É ter tanto de forte como de frágil e viver bem com isso. É destruir para construir. É fazer eco do que o cliente sente sem se ter medo dos efeitos secundários. É fazer de espelho para que ele veja o que pensa, sente e faz. É saber ouvir e saber concertar. É abdicar da descrença para acreditar na luz. É partilhar as trevas e não fazer disso uma tragédia. É acreditar, como Pessoa, que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
É aprender a cuidar de si próprio para melhor cuidar de quem nos procura. É sorrir ou chorar em segundos. É dar a mão. É fazer do consultório um espaço seguro, sagrado e protegido. É viver bem com o silêncio. É ser-se observador e, simultaneamente, participante. É, simplesmente, estar-se sem se estar de saída.
É aceitar um abraço de agradecimento ou fragilidade. É dar um abraço que salve uma vida ou simbolize mais um caso que termina. É ler, pesquisar mas também esquecer uma parte (e assim ser-se humano, unicamente pessoa). É viajar, explorar, conhecer, arriscar e cair. É tocar qualquer forma artística que nos enriqueça e aumente a nossa visão de vida. É estar longe do espaço terapêutico o tempo suficiente para recuperar o fôlego. É não ter medo da morte. É aceitá-la como a forma perfeita de dar brilho à vida.
É ter dúvidas. É ter fracassos. É pegar no pouco que sobrou e fazer disso um melhor profissional. É revisitar a vida pessoal e encontrar algo útil para quem está à nossa frente (ou para nós próprios). É abdicar de barreiras, máscaras ou referenciais teóricos. É descobrir a chave para quem procura a sua própria fechadura. É ser-se único, arrojado e genuíno. É não ter medo de se ter medo.
É assumir a responsabilidade de se ser um modelo, uma referência e uma fonte de afeto para tanta gente incrível (para muitos, a primeira que alguma vez tiveram). É saber pedir ajuda e compreender quem a pede. É chegar ao fim de mais um dia de trabalho e respirar fundo. É sentir no corpo e na alma o desgaste do que é ter-se dado e recebido tanto durante imenso tempo. É olhar pela janela e contemplar a beleza da lua. É ganhar balanço. É também sorrir porque amanhã é outro dia.
Ser-se psicoterapeuta é uma profissão que nos muda, nos marca e nos transforma (também). E foi uma parte desse brilho que hoje quis partilhar consigo!