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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico
Há uns anos atrás conheci uma história simples. Daquelas tão simples que mudam tudo. Comenta-se que vem até dos tempos do fabuloso Aristóteles, antes do também inspirado Jean Buridan, filósofo francês do século XIV. Independentemente das várias versões ou origens, a história que ouvi falava de um burro que, perante dois fardos de palha equidistantes e igualmente apetecíveis, acaba por morrer à fome por não conseguir decidir qual deles devia comer. Bem, aquilo fez-me sentido imediato! Não é que nos acontece o mesmo regularmente? Tantas e tantas vezes damos por nós sem conseguir escolher, ficando até totalmente paralisados e agitados. Acabamos por medir tanto as distâncias que perdemos o momento e as opções. Acima de tudo, perdemo-nos a nós próprios. Uma espécie de auto-sabotagem. E porquê?
Porque não é a razão que nos faz felizes, é a EMOÇÃO. A racionalidade serve apenas, e acima de tudo, para questões materiais. A emoção é a sabedoria de milhares de anos de evolução que habita o corpo de cada um de nós. O brilho dos nossos olhos, o calor do nosso corpo e a vitalidade que sentimos perante um caminho de vida, perante um local ou uma pessoa são tudo o que precisamos para saber que rumo escolher. Relembre agora alguns dos eventos mais importantes da sua vida. Repare quantos deles aconteceram porque, precisamente, correu riscos, porque saiu da sua zona de conforto e quis ir mais além. Experimente até fechar os olhos e focar-se no mais intenso deles, neste preciso momento... e repare como o seu corpo começa, a pouco e pouco, a responder e a fazê-lo sentir tão vivo! Ah pois, o seu corpo é sábio. Lembro-me do meu primeiro salto de paraquedas num evento que organizei de coaching. Olhar lá para baixo metia-me medo, muito medo. Era natural, nunca tinha feito tal coisa! Mas se ensaiasse o salto mais me iria paralisar, mais me sentiria incapaz e pequeno. E assim, mais dificuldades surgiriam na minha cabeça, consumindo-me nesse processo e impedindo toda a satisfação que o momento me podia dar. Mas a adrenalina era tanta que saltei determinadamente e para um dos mais excitantes momentos que vivi até hoje. Foi brutal!
Mas de onde vem a nossa capacidade e confiança para fazer opções? Da nossa educação, socialização e história de vida. Ora vejamos! Será que fomos cuidados e encorajados a validar e expressar as nossas emoções e necessidades desde pequenos? Será que nos fizeram sentir fortes e capazes ao longo dos anos? Será que nos fizeram sentir que o erro faz parte da aprendizagem e que o nosso valor não ficava posto em causa se falhássemos uma vez ou outra? Ou será que nos incutiram que a opinião dos outros sobre nós é muito importante, até mais do que a nossa própria? Será que fomos tão protegidos (fazendo-nos, com isso, sentir frágeis e/ou dependentes) que não caímos vezes suficientes para aprender a andar cedo e bem? Será que nos fizeram sentir culpados de cada vez que tentámos ser autónomos e crescidos? Pois é, acredito que se possa rever em algumas destas opções. São apenas alguns exemplos do que decide a nossa capacidade de escolher. E, portanto, de viver!
Infelizmente, podemos não conhecer, acarinhar e viver as nossas necessidades e desejos. Podemos viver tão centrados nas dos outros que vivemos uma vida que julgamos feliz e plena. Até que algo acontece. Subitamente a vida como a conhecemos começa a perder o encanto. Falta-nos qualquer coisa mas (ainda) não sabemos o quê. Pensamos, analisamos e voltamos a analisar para a descobrir. Nada de novo: apenas estamos a repetir formas passadas e intelectualizadas de gerir o desconforto e a novidade! E nesse processo em que o medo é uma constante, ficamos como o burro de Buridan. Definhamos e ficamos frágeis e indecisos. E quanto mais frágeis nos sentimos, mais usamos a razão para “tentar” ter certezas da “melhor” decisão. Pura ilusão! É que os dias passam e sentimos uma parte “nova” de nós a irromper do nosso peito, já não a conseguimos esconder mais. Ela é feita da nossa essência, do nosso verdadeiro eu. Tem tanta emoção que vibra apaixonadamente por vida, por fusão, por plenitude. É, afinal, um grito de mudança. Talvez a vida que temos vivido não fosse realmente a nossa. Precisamos agora de mais e melhor. E mesmo que o receio do desconhecido nos possa levar a abafar essa voz, ela não se calará jamais. Porque se iniciou um processo irreversível e é agora uma questão de dias até que volte outra vez e com maior fervor. Voltará até ao dia em que a abrace definitivamente, reorientando a sua vida como ela tanto lhe pede.
E aí sim, você será verdadeiramente feliz!