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Co-dependência: quando o amor se transforma num inferno

por oficinadepsicologia, em 14.06.12

Autora: Susanne Marie França

Psicóloga Clínica

www.oficinadepsicologia.com

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Susanne Marie França

“Quando a namorada do Paulo termina o relacionamento, ele ameaça que se vai suicidar. A vida sem ela não faz sentido. Tudo o que ele valoriza na vida, está relacionado com ela….Tem sido uma dedicação total…e agora, como é que ele vai viver sem ela? “

 “Cristina faz tudo para agradar ao marido. Ter a sua aprovação é fundamental. Chega a fazer coisas que não tem vontade… chega a humilhar-se….e ele é um bruto! É violento…mas depois fica tão amoroso…tão querido…e promete que vai mudar…que é a última vez…Estar com ele sempre é melhor do que estar sozinha…”


 Quantos de nós não queremos acreditar que os relacionamentos amorosos podem ser uma fonte de crescimento, partilha e uma experiência de respeito mutuo? No fundo todos nós nutrimos a esperança de encontrarmos alguém com quem nos possamos sentir valorizados/as, amados/as e acompanhados/as no percurso da vida.

Mas, para alguns, um relacionamento pode ser uma experiência autenticamente infernal!

Gostaria de abordar convosco o tema dos relacionamentos de co-depêndencia.

 

Acredita-se que o co-dependente é uma pessoa que não tem um sentido do eu bem definido, e consequentemente, não está em sintonia com as suas próprias necessidades, desejos e emoções, sentindo assim uma enorme dependência afectiva, que por sua vez vai exercer pressão nas relações, provocando ansiedade cronica, dificuldades de controlo e expressão emocional adequada e marcantes flutuações de humor. Frequente, é igualmente, a necessidade doentia inesgotável e se sentir amado/a e correspondido/a, levando à procura incessante de “provas de amor”, cujo efeito apaziguador, nunca perdura o tempo suficiente para dar descanso ao desgaste que o ritmo deste tipo de relacionamento impõe.

 

O ponto-chave subsiste no tema do controlo. Pessoas com este tipo de problema sofrem frequentemente de formas de ciúme patológico, comportamentos obsessivos, agressividade passiva, e/ou explicita. Existem autores que consideram este tipo de relacionamento como o equivalente à total perda de auto-estima e perda da capacidade de racionalização e juízo critico. Weiss & Weiss, 2001, classificam este problema na área dos comportamentos aditivos como a toxicodependência, alcoolismo e perturbações de comportamento alimentar, associando outras perturbações como as perturbações de humor (depressão), ansiedade, de personalidade e abuso de substâncias e álcool.

 

Se nos “sintonizar-mos” com pessoas co-dependentes com estes tipos de comportamentos, surge-nos na base de toda esta amálgama de sentimentos e comportamentos disfuncionais, uma “criança interior” desamparada e aterrorizada com medo do abandono e da solidão. Para o adulto co-dependente, ter que defrontar-se com o seu próprio “vazio” é de tal modo amedrontador, que recorre a todos os meios que possam levar os outros a “preencher” esta grave lacuna, transformando-se numa fonte insaciável sorvendo aprovação e amor.

Paradoxalmente existe dificuldade em conseguir reconhecer e receber amor genuíno, temendo a intimidade e a partilha saudável de sentimentos e carinho.

 

Para ajudar a resumir, podemos classificar as dificuldades das pessoas com este tipo de problema em cinco componentes principais:

  • Dificuldade em gerir e reconhecer as suas próprias necessidades, desejos, emoções, vontades, etc.
  • Dificuldade em estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos afectivos.
  • Dificuldade em reconhecer e responsabilizar-se pelo próprio comportamento disfuncional.
  • Dificuldade em identificar e expressar competências de controlo emocional e comunicar assertivamente.
  • Dificuldade em valorizar-se e sentir-se merecedor/a de amor.

Todos os relacionamentos apresentam dificuldades e situações de crise. Faz parte integrante de um relacionamento saudável, abraçar a mudança e crescer dentro do próprio sistema relacional. Os relacionamentos co-dependentes trespassam por vezes o senso comum e formam ciclos de funcionamento viciados, sem rumo para aparente crescimento ou mudança.

Se por um lado não podemos viver na fantasia de que os relacionamentos amorosos são como os “contos de fadas”. Por outro, será que não merecemos viver um relacionamento que nos proporcione pequenos momentos de felicidade, em que nos esquecemos de tudo, e por preciosos momentos vivenciamos a experiencia de sermos uma princesa ou um príncipe….Numa história com um final feliz!

 

Se tem consciência de que está num relacionamento de co-dependência, por favor procure ajuda de um psicólogo ou outro profissional de saúde da sua confiança!

publicado às 13:25


11 comentários

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De Ana a 14.06.2012 às 15:37

Eu vivo um situação destas. A muito custo consegui que ele fizesse psicoterapia, mas ele parou sem me dizer ao certo se foi ele que desistiu ou se lhe foi dada alta. Acho que ele "enganou" a terapeuta. Melhorou em alguns aspectos mas a base continua a mesma.
Isto tem "cura"?
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De oficinadepsicologia a 08.07.2012 às 22:40

Cara Ana,
antes de mais valorizamos a sua coragem por assumir a situação que está a viver. Muitas vezes, a grande dificuldade começa por se conseguir admitir e reconhecer que se vive uma relação pouco saudável, em que as situações de crise superam os momentos de bem-estar.
Pode-se sempre pedir ao/à nosso/a companheiro/a que procure ajuda ou pode-se inclusivamente procurar apoio de forma conjunta em terapia de casal, mas no final do dia, apenas podemos controlar os nossos comportamentos e decisões. Como tal, será importante que se foque em si enquanto mulher e pessoa, com necessidades e limites próprios, e que possa considerar os benefícios de a própria Ana iniciar um processo psicoterapêutico. Estamos disponíveis para qualquer dúvida ou questão adicional que tenha.

Um abraço com coragem e força,
Filipa Jardim da Silva
Psicóloga Clínica
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De Anónimo a 09.07.2012 às 15:23

Obrigada pelas palavras de coragem, são sempre bem vindas. Mas tenho a certeza que a minha relação com o meu marido se degradou mais, porque eu fiz precisamente psicoterapia. Cresci. Aprendi a valorizar-me e aumentei a auto-estima, e como o control que ele tinha sobre mim foi-se desvanecendo, porque ainda o tem de alguma forma, fez com que ele se sentisse ameaçado. Isto julgo eu....E, além disso ele foi fazer psicoterapia, andou lá um ano, melhorou em alguns aspectos, mas eu acho que ele conseguiu "enganar" a terapeuta. E nesta fase estou sem alternativas.
Beijos e Obrigada
Ana
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De Psicólogia Avulsa a 03.05.2014 às 18:31

Gostava de saber com que qualificações pode dizer que "Eu vivo um situação destas". Será psicóloga?
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De Anónimo a 26.02.2019 às 15:20

ela diz que esteve um psicólogo envolvido, é com base nisso que afirmou viver uma situação dessas!
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De Flávia Etchebehere a 12.01.2013 às 10:12

Descobri a seis meses que sou co dependente, sentia todos os sintomas, mas nem sabia que existia isso, a psiquiatra orientou que eu fizesse terapia, pois não fiz, passaram seis meses, agora estou em crise total, vou em busca da terapia, pois não me sinto amada por ninguém, exatamente ninguém neste mundo. Sofro muito, mas quero me recuperar.
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De Karla a 04.07.2013 às 19:03

Lendo este texto me identifiquei muito como sendo uma pessoa co-dependente, totalmente co-dependente. Sofro desde sempre com esses problemas mas nunca imaginei que os meus sintomas fossem uma doença especifica. Faço acompanhamento actualmente com psicóloga e psiquiatra e nem mesmo eles me deram esse diagnostico. Estou até tomando medicamento para conter a ansiedade e depressão.
Mas o que sinto não é algo que medicamentos podem resolver. Me sinto rejeitada, mal amada e sinto que tenho baixa auto-estima, embora todos me achem uma pessoa bonita, bem sucedida, divertida, amiga, etc.
Infelizmente sofro muito em todos as minhas relações amorosas, relações que me causam profunda dor e sofrimento. Sinto que realmente me coloco numa situação de dependência da pessoa amada de tal forma que ficar sem ela é algo tão insuportável que me faz sujeitar-se a qualquer tipo de situação, por mais ridícula a> que ela seja. Sinto que ficar sem aquela pessoa é algo tão insuportável que não sinto nem mesmo vontade de continuar vivendo. Choro o tempo inteiro e não consigo me desapegar da pessoa. Parece que meu ouvido fica seletivo e apesar de ouvir o que a pessoa me diz e normalmente são coisas duras e que me machucam mesmo assim continuo procurando a pessoa, implorando pela sua atenção, faço de tudo pra que a pessoa lembre de mim, ou seja, me coloco numa situação ridícula a> .
Gostaria muito de saber o que faço?


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De valdemir a 06.07.2013 às 00:23

valeu ae....
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De Márcia Antonia Ferreira a 09.07.2013 às 21:25



Boa tarde, Susanne

Tenho 44 anos e nunca fui feliz nos meus relacionamentos, sou a mais velha de uma família de 11 irmãos, digo, meio irmãos, pois minha mãe já me tinha quando se casou com meu padrasto. Antes não era assim, quando adolescente, mas depois dos meus 20 anos desenvolveu-se em mim uma car~encia sem tamanho, não consigo acreditar quando alguem que estou me relacionando diz que me ama. Qualquer coisa é motivo pra eu brigar e terminar o namoro, mas quando a pessoa se vai me sinto sem chão, sem ar, me sujeito a tudo pra te-la de volta. Atualmente estou me relacionando com uma mulher e sinto que a amo, mas não temos nada em comum, ela me faz sofrer muito, pois se aproveita da minha carência. ´Quando termino, é como se quisesse fazer a pessoa sofrer pra provar pra mim seu amor, mas depois de algum tempo quando tudo parece tranquilo sempre arrumo outro motivo pra terminar e espero que a pessoa corra atrás para me sentir amada de novo. Socorro nunca consigo manter um relacionamento saudável, nunca me sinto segura. Pelo amor de Deus, estou sofrendo muito, pois não tenho dinheiro pra pagar tratamento psicológico. Me ajudem!!!

Obrigada,
Márcia Antonia
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De Samy a 14.08.2016 às 03:52

Ola, vivo um relacionamento a mais ou menos 6 anos com um dependente quimico, ja passamos por diversas situações difíceis e eu sempre me mantive fiel e sempre estive ao lado dele, só que com o tempo , nossa relação foi se desgastando, pela agressividade dele, pela instabilidade de ele estar bem em quatro dias da semana e no restante sempre causar alguma situação desagradável, com sua grosseria e falta de controle. No momento me sinto exausta desta relação, não o amo mais, não o desejo mais, e tenho grande dificuldade de larga-lo pois olhando para ele, tenho a sensação sitada no texto de que ele é uma criança abandonada e desesperada, só que percebo também, que se eu continuar neste relacionamento irei prejudicar demais a minha vida e meu psicológico. Em casa eu que resolvo a maior parte das coisas e pago a maior parte das contas, me sinto abusada e desanimada mas não consigo me desligar, por favor. Podem me dar uma luz?Agradec
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De Telma Farias a 02.02.2020 às 13:14

A solução é vc fazer uma terapia, vai lhe ajudar a sair desta prisão sem grades.

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