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Gente feliz com lágrimas

por oficinadepsicologia, em 21.06.12

Autora: Susanne Marie França

Psicóloga Clínica

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Susanne Marie França

“Não compreendera ainda como o tinha eu salvo da crucificação. Mas quando os seus braços musculados se abriram para o meu corpo delgado, senti que o peito se lhe tornara discretamente ofegante, ao reconciliar-se com o meu. E, estando eu morto, ressuscitei. E, pedindo-me ele de novo que comesse, agarrei na tigela com as mãos muito trémulas e pus-me a sorver, em apressados e sôfregos tragos, aquele delicioso caldinho de farinha, com cujo sabor se cruzou para sempre a memória doce da minha infância. E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas - assim você me perdoe o facto de a minha história comportar também episódios felizes..."João de Melo (escritor)


Este excerto foi tirado da inesquecível obra do escritor açoriano, João de Melo: “Gente Feliz com Lagrimas”. Uma escrita comovente, visceral, e demasiado íntima, que por vezes nos obriga a virar a cara, porque ignora a razão e deixa marca na alma. O livro arrasta-nos exaustiva e irresistivelmente através de cinco universos na busca incessante da felicidade. Com uma estética polifónica, descreve os diversos modos de viver a amargura que oscila entre a violência familiar, a escassez própria da pobreza, o abandono da terra, os horrores da Guerra do Ultramar, o regime do Estado Novo…É uma peregrinação absoluta e uma lição para a vida que nos leva a rever a nossa própria história, e a ir ao reencontro das nossas próprias raízes. É um livro pesado e extremamente comovente, na forma como os protagonistas enquanto crianças procuram desesperadamente um gesto de ternura….

 

E as suas raízes o que é que dizem de si?

 

Alguns autores afirmam que a “criança interior” consiste na nossa verdadeira essência, a nossa verdadeira base, até mesmo no nosso verdadeiro eu. Assim, a fonte da desarmonia emocional vivenciada na idade adulta, pode residir e originar em situações da infância, que moldaram a nossa criança interior, que não sabe racionalizar, compreender e processar os acontecimentos a que esteve exposta. Estes acontecimentos, se por vezes marcadamente traumáticos, por outras, aparentemente triviais e difíceis de perceber. Lembro-me de um caso de uma paciente de Hipnoterapia Clínica que tinha medo de dormir sozinha com as luzes totalmente apagadas. Sempre que o marido viajava, trazia o filho para o quarto para não dormir sozinha. Quando exploramos as possíveis causas do medo, deparamo-nos com uma “criança” amedrontada a ver na televisão uma cena de um filme que a chocou profundamente. A “adulta”, já nem se lembrava do sucedido, e nem queria acreditar que fosse algo tão simples….Mas, a informação na infância não foi corretamente processada e ficou bloqueada, e o medo generalizou-se e foi desencadeado por outros estímulos.

 

E depois tenho encontrado pessoas com “crianças interiores” tão sobejamente coloridas de vida, que lembram um verdadeiro arco-íris. São uma excelente fonte de recursos no âmbito psicoterapêutico. A imagética aqui entra no seu esplendor criando cenários mágicos que ficam gravados no nosso inconsciente, para serem posteriormente reactivados fora do contexto terapêutico.

 

A terapia da “criança interior” é um processo de cura que nasce e resplandece de dentro para fora. Só assim, vamos conseguir sarar as nossas feridas, aumentar a nossa auto-estima, preencher o nosso vazio e ultrapassar a nossa solidão privada, e permitir que a nossa “criança interior” encontre a sua verdadeira expressão, mesmo que seja ser: feliz…com lagrimas.

 

"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"

Carl Gustav Jung psiquiatra suiço (1875-1961) 

publicado às 08:57


2 comentários

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De Anónimo a 30.10.2018 às 20:22

Peço-lhe imensas desculpas, estou totalmente em desacordo sobre o seu entendimento a cerca do livro de João de Melo Gente feliz com lágrimas .
Deu-me a plena certeza de ser um livro completamente desinteressante, complicado e exaustivo de ler.

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