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Depois da espada da separação, a cicatrização

por oficinadepsicologia, em 26.06.12

Autora: Inês Mota

Psicóloga Clínica

www.oficinadepsicologia.com

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Inês Mota

A separação, o divórcio ou o momento de rutura de um casal é uma experiência intensa e marcante, constituindo-se como um verdadeiro choque psicológico.

 

De facto, o contexto específico da crise da separação faz-se acompanhar por um intenso stress que ambos os envolvidos terão de enfrentar e que é gerado por inúmeros sentimentos e realidades que se impõem. Ambos os envolvidos terão de enfrentar a partir de então, nos seus processos e ritmos certamente diferentes e de acordo com a natureza do processo da separação, a tristeza perante a partida do outro, o eventual sentimento de se ter sido abandonado ou rejeitado, a culpabilidade perante o fracasso de não se conseguir manter a relação com o outro e a insegurança perante um futuro incerto. Acrescem-se ainda a inevitabilidade das realidades que se alteram e que são também elas geradoras de um grande stress, como por exemplo, a alteração da situação económica do casal, a frequência de oportunidades relacionais com os filhos e com a família alargada do ex-parceiro/parceira.

 

É assim compreensível que esta convergência de fatores gere um nível de stress elevadíssimo, que torna mais claro que a resolução deste momento de crise extremamente penoso possa estender-se a 2 anos.

É preocupante que é que esta crise por ser habitada por sentimentos tão dolorosos pode tornar-se destrutiva se não forem encontradas formas de a serenar.

 

É então importante sabermos que dificilmente se pode eliminar o stress associado à crise, mas que podemos sim reduzi-lo para níveis não destrutivos e que no processo sejam encontradas formas de se armazenar e gerar energia capazes de gerir uma crise que parecia insuperável.

Assim, e de forma a evitar cair num caminho de destrutividade, é importante conseguir-se evitar duros julgamentos relativos aos envolvidos até porque, e apesar da natureza da tomada de decisão da separação, ambos estarão provavelmente a elaborar, a compreender e a incorporar a situação no seu projeto de vida.

 

Importa compreender que sob o efeito de um stress tão intenso e com a revolta como líder verifica-se a tendência a serem adotados comportamentos atípicos, estranhos ou bizarros ao ponto de os envolvidos não se reconhecerem ou reconhecerem a outra pessoa da qual tinham um entendimento que permitiu cimentar uma vivência em conjunto. Assim, o enviesamento que este choque imprime distorce frequentemente a avaliação do outro que acaba por sair naturalmente contaminada, chegando a colocar-se em causa o valor do outro, o que se torna perigoso nos casos, em que ambos necessitarão um do outro para um exercício harmonioso da “função parental”.

 

De forma recorrente, torna-se difícil nestes momentos evocar as memórias saborosas dos momentos partilhados a dois, e apesar de certamente estes aspetos positivos não terem desaparecido, é como se se tivessem tornado invisíveis.

 

De facto verifica-se que para se sobreviver enquanto pais, após a desunião observada entre marido e mulher é necessária apelar à qualidade do perdão dos erros falhas e faltas cometidas e resistir à tentação de se realçar os desvios e deslizes do comportamento do outro. De forma a facilitar a compreensão, o casal desagregou-se exatamente pela divergência e é paradoxalmente o que se solicita como tarefa: uma tolerância a essa diferença, após a separação, para que possam continuar a exercer uma função parental saudável, num regime agora diferente.

A separação é inegavelmente um momento muito difícil mas incorrer na tentação de culpar o outro não irá alterar verdadeiramente a dor e a sua compreensão.

 

O caminho da cicatrização interna é encontrado no caminho de olharmos para nós próprios e procurarmos o que há da nossa responsabilidade nesta crise, porque normalmente numa situação de separação ou divórcio a responsabilidade é partilhada e é importante que cada um descubra o que lhe pertence.

 

Ultrapassar a crise significa ter a coragem de nela mergulhar, no sentido de a conhecer, compreender e incorporar.

É importante reter que a saída desta crise pode ser uma condição melhorada e que passará por uma elevação do nível de consciência daqueles que fomos, daqueles que somos e daqueles que pretendemos ser.

publicado às 11:04


2 comentários

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De Patrícia a 26.06.2012 às 13:07

Texto muito pertinente e interessante, não só pelo conteúdo como também pela fluidez do texto!
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De oficinadepsicologia a 08.07.2012 às 21:21

Cara Patrícia,
muito obrigada pelo comentário positivo. Toda a equipa da Oficina de Psicologia procura escrever sobre temáticas de interesse geral, de uma forma descomplicada e fluída, para que conteúdos por vezes mais técnicos e abstractos se tornem acessíveis e desconstruídos.

Um abraço,
Filipa Jardim da Silva

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