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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
A separação, o divórcio ou o momento de rutura de um casal é uma experiência intensa e marcante, constituindo-se como um verdadeiro choque psicológico.
De facto, o contexto específico da crise da separação faz-se acompanhar por um intenso stress que ambos os envolvidos terão de enfrentar e que é gerado por inúmeros sentimentos e realidades que se impõem. Ambos os envolvidos terão de enfrentar a partir de então, nos seus processos e ritmos certamente diferentes e de acordo com a natureza do processo da separação, a tristeza perante a partida do outro, o eventual sentimento de se ter sido abandonado ou rejeitado, a culpabilidade perante o fracasso de não se conseguir manter a relação com o outro e a insegurança perante um futuro incerto. Acrescem-se ainda a inevitabilidade das realidades que se alteram e que são também elas geradoras de um grande stress, como por exemplo, a alteração da situação económica do casal, a frequência de oportunidades relacionais com os filhos e com a família alargada do ex-parceiro/parceira.
É assim compreensível que esta convergência de fatores gere um nível de stress elevadíssimo, que torna mais claro que a resolução deste momento de crise extremamente penoso possa estender-se a 2 anos.
É preocupante que é que esta crise por ser habitada por sentimentos tão dolorosos pode tornar-se destrutiva se não forem encontradas formas de a serenar.
É então importante sabermos que dificilmente se pode eliminar o stress associado à crise, mas que podemos sim reduzi-lo para níveis não destrutivos e que no processo sejam encontradas formas de se armazenar e gerar energia capazes de gerir uma crise que parecia insuperável.
Assim, e de forma a evitar cair num caminho de destrutividade, é importante conseguir-se evitar duros julgamentos relativos aos envolvidos até porque, e apesar da natureza da tomada de decisão da separação, ambos estarão provavelmente a elaborar, a compreender e a incorporar a situação no seu projeto de vida.
Importa compreender que sob o efeito de um stress tão intenso e com a revolta como líder verifica-se a tendência a serem adotados comportamentos atípicos, estranhos ou bizarros ao ponto de os envolvidos não se reconhecerem ou reconhecerem a outra pessoa da qual tinham um entendimento que permitiu cimentar uma vivência em conjunto. Assim, o enviesamento que este choque imprime distorce frequentemente a avaliação do outro que acaba por sair naturalmente contaminada, chegando a colocar-se em causa o valor do outro, o que se torna perigoso nos casos, em que ambos necessitarão um do outro para um exercício harmonioso da “função parental”.
De forma recorrente, torna-se difícil nestes momentos evocar as memórias saborosas dos momentos partilhados a dois, e apesar de certamente estes aspetos positivos não terem desaparecido, é como se se tivessem tornado invisíveis.
De facto verifica-se que para se sobreviver enquanto pais, após a desunião observada entre marido e mulher é necessária apelar à qualidade do perdão dos erros falhas e faltas cometidas e resistir à tentação de se realçar os desvios e deslizes do comportamento do outro. De forma a facilitar a compreensão, o casal desagregou-se exatamente pela divergência e é paradoxalmente o que se solicita como tarefa: uma tolerância a essa diferença, após a separação, para que possam continuar a exercer uma função parental saudável, num regime agora diferente.
A separação é inegavelmente um momento muito difícil mas incorrer na tentação de culpar o outro não irá alterar verdadeiramente a dor e a sua compreensão.
O caminho da cicatrização interna é encontrado no caminho de olharmos para nós próprios e procurarmos o que há da nossa responsabilidade nesta crise, porque normalmente numa situação de separação ou divórcio a responsabilidade é partilhada e é importante que cada um descubra o que lhe pertence.
Ultrapassar a crise significa ter a coragem de nela mergulhar, no sentido de a conhecer, compreender e incorporar.
É importante reter que a saída desta crise pode ser uma condição melhorada e que passará por uma elevação do nível de consciência daqueles que fomos, daqueles que somos e daqueles que pretendemos ser.