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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Irina António
Psicóloga Clínica
“ O que é a psicoterapia? Duas pessoas encontram-se numa sala e conversam…ou não conversam. Isto parece tão simples, que se torna difícil de acreditar, como isto é complexo!”
W. Bion, psicanalista britânico
Se lhe pedir uma imagem do que representa para si a psicoterapia, muito provavelmente pensará em duas pessoas a conversar num ambiente seguro e tranquilizador. Agora, experimente retirar o contexto a essa imagem, e a interacção das mesmas poderá tomar inúmeros significados. Porque, como qualquer contacto, o contacto terapêutico só funciona quando está claro o seu contexto próprio que o diferencia dos outros contactos humanos, nomeadamente, das conversas entre melhores amigos.
A primeira diferença consiste em que a conversa em psicoterapia, mais do que uma conversa habitual, está relacionada com sentimentos, experiências internas e imagens do cliente, com seus problemas e dificuldades. Em conversa quotidiana, a partilha das emoções e dos sentimentos, não é uma prática frequente. O psicoterapeuta é um técnico que estudou e treinou para sentir e reconhecer suas próprias emoções, e escutar, ver e sentir as vivências emocionais do cliente. Até porque num contacto habitual nem sempre sentimos à vontade em abrir ao outro os nossos sentimentos mais profundos e os nossos segredos pessoais, mesmo que ele seja alguém muito próximo. A conversa terapêutica está protegida pela condição de confidencialidade.
A segunda diferença: é que esta conversa tem uma duração limitada. Habitualmente, o tempo do encontro terapêutico está fixado num intervalo entre 50 minutos à uma hora, embora, cada terapeuta pode escolher uma duração mais apropriada para si e para o seu cliente. A frequência pode diferenciar entre 2-3 por semana até 1 por mês. O cliente e o terapeuta acordam uma periodicidade necessária e oportuna, bem como o tempo total (aproximadamente calculado) do todo processo terapêutico.
A terceira diferença baseia-se no facto que a conversa com terapeuta acontece num lugar definido – no seu gabinete, um espaço seguro e confortável.
A quarta diferença: cliente paga a conversa com o terapeuta. O valor do honorário pode diferenciar de terapeuta para terapeuta. Este valor é definido pelos diversos factores: competência técnica do terapeuta, sua experiência, qualificação, complexidade do caso, bem como o nível de rendimentos do cliente. O cliente paga ao seu terapeuta pela competência: pelo que durante sessão ele recorre aos seus conhecimentos técnicos, aos seus sentimentos e às suas experiências da vida, interagindo em prol dos interesses do seu cliente, com intenção de ajudar a resolver seus problemas de acordo com o pedido do mesmo.
A quinta diferença deriva do facto de psicoterapia ser um processo que proporciona uma mudança. As pessoas não se encontram para conversar, mas sim, para mudar a situação actual, resolver o problema, aliviar ou diminuir os sintomas, adquirir novas qualidades e competências pessoais. Para isso acontecer, é necessária não só uma participação activa do terapeuta, mas também a do próprio cliente, o seu interesse em mudança, a capacidade de assumir responsabilidade pelas suas atitudes e acções. Feliz ou infelizmente, o terapeuta sozinho não consegue introduzir mudanças na vida do seu cliente, por isso, a psicoterapia é também um trabalho para o cliente que arrisca experimentar, marcando assim o caminho do seu desenvolvimento pessoal e a saída da situação problemática.
No entanto, se o cliente, veio à terapia somente para falar com o terapeuta, partilhar seus sentimentos, pensamentos, sem querer mudar rigorosamente nada, ninguém o vai impedir aproveitar a sua hora terapêutica para este fim. O psicoterapeuta é um técnico que oferece um serviço, mas o seu proveito será determinado pelo cliente.