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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Marta Gonçalves Porto
Psicóloga Clínica
Os fenómenos de condução agressiva e road rage (raiva na estrada) aumentam exponencialmente o risco de colisão e a pertinência da abordagem destes temas prende-se com a elevada quantidade de acidentes graves de viação que resultam em ferimentos graves e vítimas mortais.
Segundo Leon James, psicólogo norte-americano especializado nas componentes cognitiva e comportamental relacionadas com os fenómenos supracitados, as pessoas tornam-se automática e potencialmente mais agressivas pelo facto de se sentarem ao volante de um automóvel, devido à incapacidade de resistir à provocação e ao desejo de retaliação. Segundo o autor, as pessoas canalizam as suas frustrações para o trânsito, abordando os outros condutores como se fossem apenas automóveis e não como seres humanos, colocando-se em primeiro lugar. Neste sentido, o condutor percepciona a sua viagem tendo em consideração apenas os seus desejos e necessidades, não respeitando os interesses de cada um dos utentes que circulam e que se encontram igualmente a fazer a sua própria viagem.
Diane Nahl, colaboradora de James, acrescenta que a raiva e o descontrolo emocional estão relacionados com a ideia de morte, sendo que na condução existe um número muito elevado de estímulos que nos remetem inconscientemente para o perigo de vida. Este factor, aliado à procura de excitação, impaciência, aborrecimento, hostilidade e/ou pressa, contribui para o despoletar de um comportamento agressivo e uma abordagem baseada na raiva no que diz respeito à condução.
Em Portugal, deparamo-nos com uma intensa escassez de estudos neste âmbito. De acordo com Mário Horta, director do Departamento de Prevenção Rodoviária Portuguesa, a frustração pode contribuir para que o sujeito se veja a si próprio como parte do veículo, fazendo com que o indivíduo tenha uma falsa sensação de poder e até de omnipotência.
Nesta perspectiva, a falsa percepção de controlo por parte dos condutores agressivos dificulta o reconhecimento dos seus erros, diminuindo a probabilidade de adopção de uma condução mais defensiva, contribuindo para a perpetuação da agressividade ao volante.
Quando um condutor impede, por exemplo, a passagem a outro, despoleta na pessoa a quem foi negada a passagem, a evidência da sua impotência, sendo que a ilusão de controlo é desvanecida, dando lugar ao aparecimento da agressividade como resultado dessa frustração.
É importante referir que o anonimato e a atribuição a causas exteriores (trânsito congestionado, reacções de outros condutores) contribuem para que o condutor agressivo se sinta confortável para assumir determinados comportamentos em que relega o outro para segundo lugar, podendo colocar a sua vida e a do outro em causa.
A influência social contribui igualmente para a reprodução de comportamentos agressivos na estrada, uma vez que o efeito cumulativo de situações diárias caracterizadas pela hostilidade e a sensação de impunidade, promovem uma cultura de desrespeito nas estradas.
Após uma revisão teórica da condução agressiva, torna-se fulcral referir o que podemos fazer na prática para transformar os comportamentos agressivos na estrada em comportamentos que espelhem uma condução defensiva, promotores de um viagem segura e serena.
Assim, antes de iniciar a condução, é importante estar ciente de que vai praticar uma tarefa potencialmente perigosa e que exige a sua plena atenção. Nesta perspectiva, é fundamental ter em consideração os seguintes aspectos:
Para quê a agressividade?