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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
O divórcio é invariavelmente um momento de crise para todos os envolvidos até pelas mudanças que necessariamente impõe enquanto fase de transição.
Uma separação ou divórcio subscreve o fim de uma relação conjugal e paradoxalmente após a separação impõe-se a necessidade de nutrição de uma relação de cooperação entre os pais: a relação co-parental.
A relação co-parental é muitas vezes difícil de alimentar pois com frequência após uma separação a relação emocional entre os cônjuges está ainda rodeada de mágoas e ressentimentos que dificultam a clara diferenciação da ex-relação conjugal, da relação parental.
De uma forma mais clara, a separação põe fim à relação conjugal mas não à função parental, o que pressupõe que neste momento de encruzilhada se consiga distinguir no outro de quem nos separámos o ex-cônjuge do pai/mãe atual, pois não é válido o pedido ou desejo de que passe também ser ex-pai/mãe.
É importante que se perceba que a co-parentalidade é um fenómeno relativo, na medida em que pode variar consideravelmente a quantidade e a qualidade de envolvimento de cada um dos pais, ou seja, não se pode falar de forma universal e estandardizada de uma divisão igualitária em todos os momentos das responsabilidades parentais.
O que algumas vezes acontece é que batalhas são mantidas, alicerçadas em contantes acusações relativas a diferenças no tipo de envolvimento, tipo e forma de contribuição, ficando muitas vezes relegado para segundo plano o bem-estar dos filhos e inclusivamente o próprio bem-estar de cada um dos pais. A verdade é que cada um os pais pode contribuir de formas distintas quer a nível material, afetivo e/ou social.
No entanto, seria também utópico pensar que um casal que não ultrapassou as suas diferenças na vida em conjunto o possa fazer de forma perfeita ou mesma livre de qualquer conflito, no momento da divisão. De fato, a separação harmoniosa sem qualquer discussão, tem mais a ver com a utopia do que com a realidade humana e é importante saber que os conflitos geralmente fazem parte do processo de separação parental e que inclusive podem ser uteis para o encontro de negociações saudáveis, no entanto é fundamental balizar o nível de conflito para que este não ultrapasse limites aceitáveis.
É sensato pensarmos que mesmo ex- conjugues em conflito desejam que os filhos de ambos sejam felizes e bem sucedidos e que desejem igualmente a felicidade para si próprios.
Pais para sempre é o desafio já assumido pelos pais e na fase da separação proposto numa nova variante, em co-parentalidade, o que pressupõe então que cada um dos pais se assuma como ex-cônjuge, e que vista e invista no seu papel de pai/mãe no sentido de planificar um futuro relacional com os filhos e que contribua igualmente para uma relação o mais harmoniosa a cada momento, de cooperação parental.