Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Era uma vez um manjerico como outro qualquer. Sim, leu bem… vim contar uma história sobre uma dessas plantas tão típicas dos Santos Populares. E uma pergunta fará já de seguida: mas que tem a ver uma planta com psicologia? Nada, aparentemente nada. Mas talvez esta o inspire, a minha ideia é essa.
Certo dia, um rapaz comprou um manjerico por altura do Santo António. Depois de ouvir e ver histórias sobre a sua grande sensibilidade e curto período de vida, decidiu abraçar este ambicioso projeto. Juntou então a sua grande ligação à Natureza ao gosto por desafios e decidiu tentar manter a planta viva e facilitar o seu crescimento. Não arranjou o manjerico por uma questão de ser habitual as pessoas terem-nos por esta altura. Nem tão pouco pela quadra tão típica que ele trazia, por muito cativante que fosse como prenda amorosa seguindo a tradição popular. A sua intenção era apenas cuidar atenciosamente dele, fazendo-o sobreviver e reproduzir-se. Mas sem sequer pensar que o desafio se iria tornar muito maior do que ele alguma vez supôs…
E os primeiros dias revelaram-se promissores. O manjerico parecia estar a corresponder muito bem à atenção que lhe era dada. Parecia saudável e o contentamento do rapaz crescia de dia para dia. Afinal de contas, tinha feito uma “aposta” com a sua mãe. Havia sido ela que, em tempos distantes, lhe tinha dado a conhecer este ser vivo tão lisboeta e bem cheiroso. Na sua infância, lembrava-se dela comprar sempre um para festejar o Santo António e alegrar a casa. Mas eles não duravam muito, havia ali qualquer coisa que falhava. E o rapaz decidira agora que estava na altura de tentar inverter a tendência. Tudo parecia apontar para o sucesso, à medida que o manjerico se mostrava cheio de vitalidade e pronto para crescer. Até que um dia…
Até que um dia surgiu uma corrente de ar em casa que fez tombar o vaso, criando um cenário desolador. Em segundos, havia bocados de barro cozido, terra e de manjerico por todo o lado. O rapaz ficou desolado porque não gostava de ver nenhum ser vivo naquele estado. E claro que se sentiu frustrado por, mais uma vez, assistir ao fim de um manjerico. A tal planta que era suposta dar alegria.
Mas ele não se deu por vencido: pegou meticulosamente nos pedaços que sobraram, improvisou um vaso e juntou-lhe alguma terra. Não havia tempo a perder! Acreditou ser possível fazer renascer este resquício de vida apenas com o seu afeto. Houve até momentos em que achou que não ia conseguir, a tarefa tinha-se tornado gigante. Dia após dia manteve o seu cuidado pelo que sobrava do manjerico outrora vistoso e jovial. E à medida que o tempo passava, havia algo nele que lhe dizia para continuar. Para persistir. Para acreditar.
Chegou então um dia em que o rapaz olhou com maior detalhe para o seu manjerico sobrevivente, como se procurasse secretamente um sinal do desfecho desta história. E tal não foi o seu espanto quando reparou que a planta estava de ótima saúde, verde e cheia de vitalidade. Mas não era tudo, o melhor vinha a seguir. Observou que pequenas folhas despontavam por todo o lado, num fenómeno de vida simplesmente notável. O desafio que era grande e que, mais tarde, se tornou quase intransponível, havia sido vencido com um grande sorriso à mistura!
O que tirei desta história foi que devemos sempre lutar por aquilo em que acreditamos. Aconteça o que acontecer, há que manter a fé e a determinação. Devemos continuar sensíveis à sensibilidade que nos rodeia, mesmo quando a desilusão toma conta de nós e nenhum resultado vemos do nosso esforço. Seremos até resilientes ao ponto de transformar obstáculos em momentos de superação e energia, ressignificando-os como recursos positivos. E que nunca devemos esquecer o mundo natural. Devemos aprender a lê-lo e respeitá-lo: ele tem chaves que mudarão a nossa existência.
E no final disto tudo, olharemos para trás e sentiremos que valeu a pena. Que nos tornámos mais e melhor. Que conseguimos.
(Já agora, o rapaz da história sou eu e o manjerico valente é este!)