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Quando partiste...

por oficinadepsicologia, em 31.08.12

Autora: Ana Crespim

Psicóloga Clínica

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Ana Crespim

Não pude deixar de ganhar raiva ao sol… Por que é que ele continua a erguer-se todos os dias se já não estás? Odeio os rios… porque continuam a correr quando já não podes andar? Não quero ouvir o canto dos pássaros… porque é que o fazem quando tu já não podes falar? Mas sobretudo, odeio-me a mim mesma! Odeio-me porque estou viva e tu não, porque não te disse aquilo que sentia, partindo do princípio que teria ainda muito tempo para o fazer… mas estava errada… por vezes até, odeio-te a ti, porque partiste sem avisar, sem olhar para trás e deixaste-me aqui sozinha, obrigada a continuar, quando não o quero, não o desejo… O mundo ficou mais pobre no dia em que partiste… e eu… fiquei incompleta, pois enterrei contigo um bocado de mim”.

                                                                                                                                                                         Anónimo

 

 

Quando perdemos alguém, ficamos de luto para o mundo, tudo perde o sentido, a piada. Não é só a pessoa que faleceu que parte, toda a nossa alegria, força e vontade de viver, muitas vezes, parecem ter partindo com ela.

Familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos, chegam-se a nós, sobretudo durante aqueles dias que medeiam entre o falecimento e o dia que se segue ao funeral. Parece que nem temos espaço para respirar… Não nos deixam… As frases que proferem, repletas de boa vontade, são todas retiradas do mesmo manual e vão todas bater ao mesmo ponto: “Tens que ser forte”; “Tens que continuar… ele(a) não iria gostar de te ver assim”. E quase que sentimos não dever chorar, como se nos retirassem esse direito ao associá-lo à fraqueza, afinal “tens que ser forte”. Numa situação de luto, patológico não é chorar e deprimir. Patológico é agir como se nada fosse e adiar o sofrimento: “agora não, penso nisto depois”. Já viu o que acontece quando chove? As ruas ficam mais limpas, as árvores parecem brilhar, as flores ganham vitalidade. Quando choramos, acontece algo parecido, só que dentro de nós. As lágrimas, tal como a chuva, têm o poder de “limpar”, não o que nos rodeia, mas a nossa alma. São uma forma de descarregar, não as nuvens, mas a nossa dor, a nossa tristeza.  

 

É esperado, e até saudável, deprimir perante uma perda. Mas seguem-se os dias mais difíceis. Contrariamente ao que por vezes pensamos, os piores momentos, nem sempre são os da notícia da morte, do velório e do funeral. São os tempos que se seguem, em que somos forçados a constatar na realidade de cada dia, que aquela pessoa que tanto amamos já não está ali connosco, que já não podemos partilhar com ela as nossas vitórias, alegrias, tristezas e até as pequenas banalidades do quotidiano. É também aquela altura em que já não nos encontramos rodeados de tanta gente… e agora? O que faz com que algumas pessoas superem estes momentos com mais facilidade do que outras? Porque é que algumas parecem ficar “agarradas” a quem partiu sem conseguir seguir em frente?

 

Na próxima publicação, vou procurar abordar estas questões, explorando variáveis como as caraterísticas individuas e o contexto.

publicado às 09:58



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