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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Cristiana Pereira
Psicóloga Clínica
“Estou irritado. Fiquei indignado!” Tantas vezes experimentamos a raiva! Esta emoção não é mais do que a experiência da mágoa, podendo expressar-se de várias formas, como o ficar irritado, ressentido, indignado, incomodado ou amargurado. Perante tantas sensações negativas, podemos perguntar qual o papel da raiva na nossa vida.
Ora, a raiva é voltada para a ação, para a autodefesa, não se tratando, por isso, de uma emoção reflexiva como a ansiedade. Neste sentido, se a função da raiva é dar-nos energia para manifestar a mágoa quando ela está presente, ao negar as nossas emoções ficamos prejudicados, pois é como se passássemos a viver uma falsa realidade.
Sempre que experimentamos a raiva, repetimos o mesmo padrão: sofremos com um determinado acontecimento, adiamos a expressão da mágoa por um ou dois momentos e ficamos ressentidos por termos sido magoados. Quando tal acontece, refletimos sobre o momento, tentamos determinar o que aconteceu e decidimos o que fazer. Logo, é importante que a intensidade da raiva expressa seja adequada ao momento sofrido. Quando manifestado de maneira ineficaz, o ressentimento restante fica na “fila de espera” para ser exposto numa próxima oportunidade, quando muito provavelmente já existirá alguma raiva acumulada.
Sabemos que é comum que esta raiva contida seja libertada na hora errada, no lugar errado e sobre a pessoa errada. E como ela permanece não-resolvida, é como se você ficasse centrado nisso.
Mas, por que é tao comum inibirmos a expressão da raiva, uma vez que este é um sentimento natural? Os motivos são vários: medo de ser rejeitado, de admitir a própria vulnerabilidade, de ser mal compreendido, de alguém sair ferido, de perder o controlo, etc. Culturalmente, aprendemos também que não é bonito expressar a raiva em relação aos nossos pais ou a outras pessoas que devemos respeitar.
Por vezes, fica o sentimento de que ao admitir o sentimento de raiva perde-se a proteção das máscaras de indiferença. E além disso, o facto de admitir a vulnerabilidade pode parecer um risco grande demais para ser assumido.
Desenvolver a tao almejada liberdade emocional não é tarefa fácil, mas é preciso, acima de tudo, deixar que os sentimentos negativos como a dor, a raiva e a mágoa saiam do seu “mundo interior” com toda intensidade, até que se esgotem e desapareçam de vez.
Já pensou no que acontece quando nos permitimos sentir as emoções? Quando o fazemos ficamos conscientes de que elas nos pertencem, mas não fazem parte da nossa essência. Por outras palavras, nós não somos as nossas emoções, ou seja, podemos manifestar e deixá-las para mantermos o nosso verdadeiro “eu” inalterado.
Afinal, a raiva em si não é má, mas o acumular desta emoção é perigoso. Permita-se sentir a mágoa, uma vez que a rejeição, o desapontamento, a traição, a vergonha ou o fracasso aconteceram, apenas os torna pior se os evitar. Podemos dizer que começa a cuidar da sua saúde emocional quando admite a verdade da dor. Reconhecer as suas fraquezas dá-lhe um controlo real, não reforçando a tentativa de manter uma imagem de que você é sempre forte e perfeito.
Se alguém o magoou, expresse a sua mágoa no momento que achar adequado, respeite o seu “tempo interior”, procure sentir esta emoção, respire, mande embora o ressentimento. O ressentimento alimenta a sua raiva, além de o deixar preso ao outro. Reflita na possibilidade de perdoar a outra pessoa o mais cedo possível e finalmente esclareça que não está mais magoado, que a dor passou.