Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Através das histórias de conhecidos e amigos bem como pelas imagens e histórias transmitidas pelos meios de comunicação social, relativas às vidas e decisões das figuras públicas, deparei-me com uma expressão e visibilidade crescente relativamente às famílias adoptivas.
Por saber que estas famílias conhecem e atravessam desafios difíceis, pareceu-me pertinente partilhar convosco etapas e fases cruciais relativas ao desenvolvimento destas famílias.
As famílias adoptivas são constituídas por famílias de pais e filhos que não tendo uma ligação biológica estão ligadas por laços afetivos ou legais.
Segundo Rosenberg, a família adoptiva nasce com a chegada da criança e esta etapa constitui-se como fase primordial na qual irá ser estabelecido o vínculo entre pais e filhos, que será tanto mais difícil quanto mais avançada a idade da criança, visto, nestes casos, já estar estabelecido um modelo interno de vinculação.
Palácios, com o intuito de avaliar o nível de risco que pode caracterizar a família adoptiva propõe um modelo em que cruza factores de risco relativos aos pais adoptivos e factores de risco relativos aos filhos adoptivos. Assim, explicita que contribuem para o nível de risco dos pais, expectativas inadequadas, pouca capacidade em lidar com o conflito e a tensão, atitudes pouco comunicativas, pouca expressão de afeto e escassez de apoios sociais e profissionais e para os factores de risco dos filhos, a elevada idade de adoção, a institucionalização prolongada, história prévia de conflitos graves e presença de problemas sérios de comportamento.
Todas estas questões poderão emergir durante o processo de adopção e ao longo do ciclo vital destas famílias e é importante que estas famílias consigam recorrer ao apoio da família alargada, social e mesmo apoio técnico.
Uma das dificuldades que os pais podem sentir com filhos pequenos diz respeito ao desenvolvimento de uma autoridade e disciplinas eficazes, por exemplo, por medo de não conseguirem o afeto da criança ou por receio de serem muito duros devido ao passado da criança.
Uma tarefa importante a realizar na idade escolar, quando a criança já é mais capaz de compreender cognitivamente o significado de adopção, será exatamente a veiculação da notícia, pois o segredo é destrutivo na estrutura familiar. Após a revelação é importante apoiar a criança a compreender esta realidade, pois esta poderá realizar nesta altura confabulações relativas aos motivos de adopção, por exemplo, assumi-la como retaliação pelo seu comportamento, podendo assim emergir problemas escolares, dependência emocional ou comportamentos agressivos ou de desafio, de forma a testar a garantia e disponibilidade do amor dos pais.
A adolescência nestas famílias constitui-se como um dos períodos mais difíceis, pois pode nascer no adolescente o desejo de ligar as várias partes da sua história de vida e assim querer conhecer a sua família biológica e raízes geográficas, sem que isso signifique que queira deixar a sua família adoptiva. No entanto, estas são tarefas dolorosas que despertam medos e angústias na díade de pais e filhos.
Apesar das tarefas difíceis explicitadas que estas famílias atravessam, segundo Relvas, observa-se que relativamente ao nível de coesão e adaptabilidade não se registam diferenças significativas relativamente às famílias biológicas, visto haver um grande investimento na coesão por parte das famílias adoptivas para fazer nascer a família, por saberem que a coesão não germina espontaneamente, sendo também que a maior parte das famílias adoptivas revela satisfação pela adopção, caracterizando-se como famílias funcionais.
Fonte: Alarcão, M. (2000), (des)Equilíbrios Familiares, Quarteto, Lisboa