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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Irina António
Psicóloga Clínica
Para última etapa de trabalho proponho experiências que ajudam a dar suporte à sua autoestima mais realista e ajustável a cada momento.
Experimentamos por começar a mudar frases expressas pela voz crítica. Por exemplo: “eu digo sempre disparates” em “eu digo coisas que me fazem sentido neste momento”.
É importante que esta nova frase esteja sintonizada com uma sensação interna “eu falo de acordo com algo que me faz sentido, e não só com o que os outros querem ouvir ou esperam de mim”.
Experimente procurar a modificar a cada frase “critica” de várias maneiras até encontrar uma que expresse melhor como quer ser, sentir e agir. Sensações de leveza, descontracção e satisfação podem servir como critérios seguros no caminho de construção da linguagem da sua autoestima adequada.
A Autoestima desajustada leva alguns anos para ser formada e ela é dificilmente resultado de uma situação singular. Se disser a alguém 100 vezes “não és capaz”, a 101 vez torna-se desnecessário porque a pessoa já terá essa frase como resposta automática em situações ligadas, por exemplo, ao processo de tomada de decisão. O caminho inverso da construção de autoestima adequada também necessita de tempo e de algum “treino” com certa persistência, porque habitualmente as vozes antigas não são de ceder facilmente o seu domínio. Experimente a seguinte táctica: em vez de ir contra vozes críticas, tente reforçar as vozes amigáveis. O segredo está na procura de fazer desequilibrar o esquema antigo, composto por “automatismos críticos”. Crie uma nova base que o(a) possa apoiar, inspirar em situações que o(a) vão deitar abaixo ou chamar para desistir.
Escreva no papel: suas capacidades, qualidades, pontos fortes, conquistas pessoais mesmo que sejam pequenas e até antigas. Pense também em recursos externos: pessoas mais próximas ou nem tanto que existiram ou ainda existem na sua vida, nos quem gosta e acredita em si. Como elas falam de si?
Agora experimente imaginar o seu futuro, alguns anos à frente. Como gostaria de ser? Tente construir pormenorizadamente esta imagem futurista: a sua aparência, onde está a trabalhar, com quem convive, pessoas à sua volta, o que está a fazer, como passa o seu tempo livre? Esta imagem também é um recurso importante que pode ajudar na reconstrução da sua autoestima.
Escreva uma lista dos seus pontos fracos, excluindo ofensas e humilhações do género “sou estúpido(a), e tente transformá-los em pontos fortes ou indicações para seu desenvolvimento pessoal. Por exemplo, “sou muito lento a pensar antes de responder” em “eu reflicto muito bem antes de responder seja a que for”. Não esqueça de recorrer a essa lista quando sentir a sua autoestima mais fragilizada e desequilibrada, ou quando voltar a criticar a si mesmo(a).
E claro, não esqueça do humor, um dos nossos recursos mais poderosos e inteligentes que tem um potencial inesgotável também em momentos quando estamos a perder esperança. Quando sente a sua pessoa a mergulhar nas águas amargas da autocrítica, não se iniba de cortar firmemente as frases críticas com uma canção, uma expressão humorística, um pequeno conto que gostava quando era criança.
A nossa autoestima está muito ligada à necessidade de aceitação e valorização pelos outros. Queremos ser bons para eles, queremos ter relações satisfatórias com eles, porque disso também depende a nossa saúde emocional e psicológica e até a nossa felicidade. No entanto é importante definir o grau de dependência da opinião dos outros, para não perder contacto com os nossos próprios interesses e necessidade. Nós não nascemos com o dever de sermos sempre bons uns para os outros, mas podemos ser bons dentro de certos limiteis que podemos ir reajustando ao longo da vida de acordo com circunstâncias e necessidades em cada momento.
Autosugestões do género “sou bonito(a), inteligente, fantástico(a), comunicável, etc” têm um efeito efémero até porque não são tão importantes para construção da autoestima verdadeiramente satisfatória. Sentimos autoestima como não satisfatória não porque não somos suficientemente bonitos(as), inteligentes ou não termos feito uma melhor carreira, mas porque não nos sentimos suficientemente amados e aceites pelos outros. E para que autoestima se desenvolva como realista e satisfatória necessitamos de saber e repetir, caso necessitar vezes sem conta, que temos direito de existir e ser aceite pelo mundo tal como nós já somos, temos direito de satisfazer nossas necessidades, direito de expressar a nossa personalidade, direito de escolher, de agir e de pertencer aos grupos significativos, direito de ser independentes e ao mesmo tempo receber apoio dos outros, retribuindo reciprocamente.