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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Pedro Diniz Rodrigues
Psicólogo Clínico
Para falarmos em saúde espiritual ou bem-estar espiritual, precisaríamos primeiro considerar o termo espiritualidade. Seria difícil definir em nós o grau mais ou menos elevado de algo, que não sabemos exactamente o que é.
Ao reflectirmos sobre este tema na nossa vida, rapidamente nos deparamos com a dificuldade de estar a tentar definir ou avaliar aquilo que por natureza não parece estar acessível a uma análise lógica e objectiva.
Estamos afinal, a falar de algo que é habitualmente proclamado como incompreensível, por transcender a razão humana, uma das principais ferramentas que utilizamos para dar sentido à realidade que nos rodeia.
Como definir então a espiritualidade ou avaliar o grau de bem-estar espiritual?
Partindo do princípio que tal tarefa seria possível, como iriamos relacionar psicoterapia com o aumento de bem-estar espiritual?
Na literatura sobre este assunto, existem vários estudos que se debruçam na definição e avaliação de espiritualidade e saúde espiritual, e em saber quais os factores que ajudam no seu desenvolvimento.
Algumas das definições propostas parecem ter em comum o facto de assentarem numa definição multidimensional da nossa vida.
A espiritualidade é assim conotada como uma dimensão fundamental para a saúde e bem-estar globais, na qual estariam incluídas todas as outras dimensões de saúde, nomeadamente, a saúde física, mental, emocional, social e vocacional. É como se de alguma forma, fossem circunscritas por esta dimensão mais abrangente.
Com contornos em parte semelhantes, outros modelos criados propõem a existência de domínios, que se debruçam em aspectos como a nossa relação connosco mesmos e a consciência pessoal que daí advém, e que se reflecte na auto-estima, identidade e sentido da vida. Consideram também a qualidade e profundidade das relações que estabelecemos, bem como as expectativas que temos em relação às mesmas. Num outro domínio desta mesma dimensão (espiritual), é também tida em conta a percepção que possamos ter do mundo físico, que poderá ir desde o simples respeito a um profundo sentimento de admiração ou mesmo união com o universo. Num plano mais global, também é contemplado o possível relacionamento que possamos estabelecer com alguma entidade para lá do nível humano, ou a nossa atracção pelo desconhecido no Universo, não deixando de salientar que o maior ou menor destaque dado a cada um destes aspectos, está dependente das ideias ou valores pessoais e culturais que temos interiorizados.
O bem-estar espiritual, tal como qualquer outra dimensão da nossa vida, não é, portanto, encarado como estanque, mas sim como modificável à medida que vamos sendo confrontados com os vários desafios que ela nos coloca.
A nossa saúde espiritual seria então o efeito combinado do bem-estar em cada uma das dimensões mencionadas, bem como o grau da harmonia entre as mesmas. A sua melhoria seria, por sua vez, potenciada, por relações mais positivas em cada domínio e pelo aumento da aceitação de novos domínios na nossa vida.
Assim sendo, se considerarmos que o contexto psicoterapêutico exerce influência em factores como o aumento da consciência, aceitação e harmonia, entre muitos aspectos da nossa saúde global, nomeadamente a visão de nós mesmos, auto-estima, identidade, qualidade ocupacional, relacional e visão do mundo, poderíamos lançar a hipótese de que estamos na presença de um veículo privilegiado de manutenção e aumento de bem-estar espiritual.