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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Amamo-nos muito mas não funciona, não nos conseguimos entender!
As relações íntimas de casal são uma área particularmente importante das nossas vidas, mas apesar de as desejarmos muito e de tendermos a sentir-nos incompletos, não totalmente realizados sem elas, a realidade é que gerir a relação não é fácil e mesmo havendo amor, nem sempre a relação flui; às vezes parece não funcionar.
O que é que acontece? Apesar de numa relação termos à partida um objectivo comum (alimentar a relação, mantê-la viva e saudável), não deixa de ser verdade que temos duas pessoas na equação, muitas vezes com registos de funcionamento diferentes, cujo contraste pode criar choque e este choque, prolongado no tempo, cria padrões de interacção desadequados com uma escalada de frustração, agressividade e/ou afastamento.
Quando dentro destes ciclos desadequados de interacção, as dificuldades são duas:
Primeiro é muitas vezes difícil para cada elemento do casal aceder ao que está a sentir. Começa-se a funcionar em modo automático, em que atacamos o outro e nos defendemos dos ataques do outro, sem conseguir parar para pensar "o que é que está a acontecer comigo, dentro de mim, o que é que eu estou a sentir que faz com que eu haja desta forma agressiva ou, pelo contrário, demasiado distanciada"?
Segundo é muito difícil partilhar de forma adequada o que se está a sentir e o que precisaríamos do outro, da relação, e tendemos a ser críticos e culpabilizantes do outro, apontar-lhe o dedo, crê-lo intencionalmente agressivo ou negligente, mais do que verdadeiramente expressarmos as nossas vulnerabilidades, as nossas angústias, as nossas emoções, as nossas necessidades.
No sentido de tentar quebrar estes ciclos e de tanto aceder como expressar emoções e necessidades em casal, sugiro o seguinte exercício[1]:
Numa folha de papel desenhe um esquema, uma tabela, em que coloca 6 colunas com os seguintes títulos sequencialmente: Situação, Reacção emocional, Reacção comportamental, Emoção de base, Necessidade geral, Necessidade específica. E comece a preencher. Como? Pense: Quando tu… (situação), eu sinto-me… (reacção emocional), e reajo… (reacção comportamental). Isto esconde o meu/a minha… (emoção de base). O que eu realmente preciso é… (necessidade geral) e portanto preciso… (necessidade específica).
Deixo um exemplo: Quando tu chegas tarde, eu sinto-me zangada e reajo criticando-te. Isto esconde a minha ansiedade e sentimento de rejeição. O que eu preciso realmente é sentir que sou importante para ti, e portanto preciso que tu me ligues a avisar que vais chegar mais tarde.
Desta forma, a nossa activação emocional tende a baixar e a receptividade do outro à nossa necessidade tende a aumentar. É como se encontrássemos aqui um ponto de equilíbrio em que conseguimos comunicar um com outro, cria-se um espaço para ouvir e ser ouvido.
[1] do livro Emotion-focused couples therapy: The dynamics of emotion, love, and power de Greenberg & Goldman (2008)