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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Ana Beirão
Psicóloga Clínica
Voltar para casa dos pais, hoje em dia, é cada vez mais comum.
O movimento de sair de casa é algo natural que deve ser feito, é um passo para a independência e autonomia do(s) filho(s) e, devido à situação económica, à dificuldade em encontrar trabalho ou em permanecer naquele onde estavam, os adultos jovens optam por voltar para a casa dos pais.
Chamam-na “Geração Bumerangue”. O bumerangue é um objecto de arremesso usado na Austrália, que volta a quem o arremessa quando não acerta o alvo. O que acontece hoje é uma simbologia do uso desse objecto, os filhos que haviam saído de casa estão novamente a regressar. E agora, como vivem novamente pais e filhos adultos debaixo do mesmo tecto?
Os filhos viveram durante algum tempo sozinhos, aprenderam a gerir o seu dia-a-dia, a controlar o dinheiro que ganhavam para as suas despesas, a regular as tarefas da casa da sua própria maneira, a terem as actividades dentro e fora de casa, tais como receber amigos ou irem ao cinema ou ao teatro. Mas ficaram sem emprego ou o ordenado diminuiu e de repente já não conseguem coordenar como antes as suas vidas e pedem aos pais para regressarem durante algum tempo.
Começa então uma nova co-habitação entre adultos que são pais e filhos. É necessário haver uma mudança, os filhos já não são crianças mas é com os pais que se encontram novamente e estes têm a sua maneira de viver e gerir a sua casa. Existem regras, tarefas, lidas da casa para fazer, contas para pagar.
Antes de mais é preciso distribuir tarefas e discutir os limites, as regras da casa. Por vezes ambas as partes voltam a uma época passada e acabam por retomar os papéis que antes tinham, como por exemplo, geralmente são os pais que acabam por ficar responsáveis por todas as tarefas e deveres da casa. Começam os conflitos, a diferença de ideias e comportamentos.
Assim, dialogar sobre o que vai acontecer com esta reunião é o melhor caminho para que todos se sintam confortáveis e para que haja espaço para uma adaptação de papéis. Deve-se falar sobre a possível duração da estadia, a responsabilidade que ambas as partes assumem nesta nova etapa de vida. As novas rotinas são importantes e demora algum tempo até se ajustarem, por isso é importante que não se esqueça de si, seja pai/mãe ou filho(s), encontre os meios necessários para ter tempo para si e tente ter algum descanso e espaço para usufruir de alguma actividade que proporcione prazer. Só assim poderá estar mais disponível para os outros e ultrapassar os pedidos e as preocupações que advém do dia-a-dia.
Não se esqueça, quanto mais clara for a dinâmica que se pretende estabelecer, melhor. Viverão todos mais tranquilamente ajudando-se mutuamente.
Para quem gosta de passar os olhos pelas revistas, no mês de Outubro o Courrier Internacional publicou vários textos sobre o papel da família. São artigos que proporcionam uma leitura diferente e com direito a várias abordagens, sem no entanto deixarmos de ser críticos quanto ao que nos informam.