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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Na minha prática clínica tenho-me deparado com uma grande dificuldade dos meus clientes em expressarem desacordo, mágoa, ressentimento, ou agirem de formas contrárias àquilo que sentem que são as expectativas ou desejos de outros significativos.
Ao explorar o que é que receiam que aconteça se se expressarem de forma congruente com o que estão a sentir, surge frequentemente o medo de perder o outro, que o outro não suporte a crítica ou o desacordo e que haja uma ruptura na relação.
Um trabalho útil com estes clientes é treinar a assertividade, explorando formas de nos afirmarmos perante estes outros significativos de uma forma cuidadosa que melindre o outro o menos possível; mas a realidade é que estes clientes não deixam de ter algum fundamento no seu receio, frequentemente os primeiros movimentos de auto-afirmação são de facto mal recebidos do outro lado.
A reflexão que vos venho propor é até que ponto é que esta reacção menos positiva do outro implica necessariamente perda ou, pelo contrário, potencia transformação da relação.
Não sejamos utópicos, se introduzo uma dinâmica nova na relação (por exemplo expressar mágoa por a minha opinião não ter sido levada em conta numa decisão com implicações para os dois), não posso esperar que o outro mantenha a mesma postura, ele terá que digerir a novidade e precisaremos os dois de um período de ajustamento à nova dinâmica, ou de um período de negociação de uma terceira dinâmica, construída em conjunto, que responda de forma mais equilibrada às necessidades de ambos. Ou seja, preciso dar espaço ao outro para que ele me devolva o ponto de vista dele sobre a situação que desencadeou o problema, como é que ele lida com esta mudança no sistema que eu estou a propor, e que condições é que ele precisaria ter satisfeitas para conseguir de forma mais tranquila responder à minha necessidade (por exemplo, o outro poderia devolver que não se tinha apercebido que eu tinha uma opinião diferente, mas que de facto era importante para ele que eu estivesse confortável com a decisão e precisaria por isso que eu passasse a expressar as minhas opiniões com mais clareza para ele perceber que há ali uma opinião contrária que precisa ser levada em conta).
E pensarão: “mas comigo isto não funciona assim, o outro não vai reagir tão bem”. Talvez tenham razão, é provável que a primeira reacção seja de defesa e de desagrado pelo comentário, mas lá está o tal período de ajustamento e de negociação, em que o treino de assertividade referido inicialmente tem um papel importante no mantermo-nos afirmativos das nossas necessidades e direitos por um lado, e ao mesmo tempo abertos a perceber o ponto de vista do outro, que elementos é que estão a dificultar a compreensão da mensagem de ambos os lados, e como é que podemos atingir um equilíbrio entre aquilo de que cada um não abre mão e no que estamos disponíveis para ceder.
Autora: Débora Água-Doce
Psicóloga Clínica
Esta reflexão pretende discutir a problemática da relação entre a vida cognitiva e afectiva, remetendo para a importância dos processos afectivos na educação. Os afectos (emoções e estados de espírito) têm sido entendidos como “cognições”, como entidades delineadas por processos cognitivos, como parte integrante das cognições ou como entidades independentes das cognições. Estas distintas abordagens têm implicações na forma como se entende o impacto dos afectos no modo como pensamos e nos comportamos.
Afecto é o atributo psíquico que dá valor e representação à realidade. Os afectos valorizam tudo aquilo que está fora de nós, como os factos e os acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjectivas), tal como os nossos medos, os nossos conflitos e anseios. Valoriza também os factos e acontecimentos do nosso passado e as nossas perspectivas em relação ao futuro. Existem diversos factores e acontecimentos que fazem alterar a forma como percepcionamos a realidade e os afectos podem ter uma representação negativa da própria pessoa. Para entender a afectividade é necessário compreender antes alguns elementos do mundo psíquico: as representações, as vivências e os sentimentos.
Durante toda a nossa vida, os factos ou acontecimentos vividos por nós são as experiências de vida e passam a fazer parte da nossa consciência. Dos factos e acontecimentos teremos lembranças e sentimentos, assim como também teremos lembranças desses sentimentos, portanto, lembrar-nos-emos não apenas das nossas experiências de vida mas também se elas foram agradáveis ou não, aprazíveis ou não. Os processos cognitivos são interpretações, não representações da realidade. São condicionados por factores importantes e apresentam uma sequência evolutiva geral, na medida em que, primeiro são os processos de observação sensorial e, em seguida, os processos de representação e do pensamento a adquirir a eficiência funcional. Dão-se em forma sensorial, racional e emocional. Os conhecimentos do indivíduo originados por seu intermédio organizam-se de modo selectivo.
Autora: Catarina Castro Lopes
Psicóloga Clínica
Oficina de Psicologia
Andamos de um lado para o outro em compras extenuantes, à procura do melhor presente e em preparativos para o Natal. O presépio, a árvore de Natal, a decoração da casa, as refeições, as roupas para estrear... Tudo tem que estar perfeito e proporcionar uma óptima festa para todos. Esta azáfama deixa-nos muitas vezes mal-humorados e irritados pois vamos até às ultimas consequências físicas, monetárias e emocionais, sentindo que muitas vezes o nosso esforço e empenho não é reconhecido pelos outros (familiares e amigos), podendo despoletar sentimentos de frustração e ineficácia.
Tal é o stress que em vez de aproveitarmos o momento para nos divertirmos, passamos o tempo todo preocupados com o que ainda não fizemos o que provoca uma ansiedade imensa. Estaremos nós a viver o Natal? Ou a viver as nossas preocupações?
Este Natal aproveite o momento! Desfrute da alegria de simplesmente estar junto da sua família e amigos e deixe o stress de lado.
Autora: Tânia da Cunha
Psicóloga Clínica
Estudos demonstram que a depressão e os estados de ansiedade constituem as duas principais perturbações baseadas nas emoções, afectando cada um cerca de um quinto das pessoas nas sociedades industrializadas ocidentais em qualquer altura das suas vidas.
Estas perturbações emocionais são geralmente causadas da mesma maneira que as emoções negativas, por acontecimentos graves. Mas as perturbações emocionais não são só emoções intensas ou duradouras. Para ficarem deprimidas geralmente as pessoas também têm de ser vulneráveis.
É amplamente aceite que os episódios de depressão são usualmente iniciados por qualquer evento grave na vida ou dificuldade. No entanto, nem todos os que experienciam sérias adversidades sofrem de depressão ou estados de ansiedade. O que tornará então uma pessoa mais vulnerável que outra?
Vários estudos apontam factores de vulnerabilidade para o aparecimento das perturbações emocionais como: a experiência precoce, a auto-estima, o pensamento baseado na apreciação, o apoio social ou até mesmo os efeitos genéticos.
No que diz respeito à experiência precoce, considera-se que a vulnerabilidade da negligência precoce pode enviesar a percepção que temos de nós próprios, como não merecedores de amor e cuidado.
Relativamente à auto-estima, existem evidências científicas que pensar negativamente acerca de nós mesmos parece estar envolvido em casos sérios de depressão, bem como em casos menos sérios de fracasso nalguma tarefa.
As relações próximas têm um enorme efeito sobre o facto de as pessoas desenvolverem ou não uma depressão em resposta às adversidades. Parece que ter um relacionamento íntimo actua como um amortecedor. Neste sentido, o apoio social produz um pequeno efeito por si mesmo, mas amortece o impacto dos acontecimentos negativos e das dificuldades da vida quando estes ocorrem.
Quanto à influência dos efeitos genéticos, estudos sugerem que podemos herdar tendências que aumentem o risco de depressão e de ansiedade.
Ainda assim, se identificou alguns destes factores de vulnerabilidade, não desespere:
Autora: Isabel Policarpo
Psicóloga Clínica
A preocupação é uma tentativa de resolver um problema, seja procurando maximizar os bons resultados ou minimizando o impacto dos efeitos negativos, o que permite aumentar a sensação de previsibilidade e de controle face ao desconhecido e/ou inesperado.
A preocupação é algo que todos sentimos, em particular quando nos confrontamos com situações de stress, há contudo pessoas que apresentam níveis excessivos de preocupação, isto é que pela sua intensidade e dificuldade de controlar, interferem com a qualidade de vida e com a sensação de satisfação perante a vida, ao mesmo tempo que têm um impacto negativo em múltiplas áreas da vida da pessoa, quer seja a nível profissional, familiar ou pessoal.
É importante conhecermos os nossos stressores, isto é aquilo que nos pode fazer iniciar um ciclo de preocupação para mais facilmente e de acordo com as diversas circunstâncias do dia-a-dia sermos capazes de antecipar quando poderão surgir. O simples facto de sabermos que os mesmos vão ocorrer permite-nos encarar o que vem a seguir com uma maior sensação de controle, ao mesmo tempo que possibilita que nos prepararemos “para a maratona”. Tal como na fábula da formiga e da cigarra, em que a primeira se prepara para o inverno recolhendo alimentos para os momentos de escassez, também nós podemos criar “músculo e endurance” para os tempos difíceis, assumindo uma atitude preventiva.
O que podemos fazer antes dos problemas surgirem? Podemos começar por aprender a diminuir os nossos níveis de ansiedade, quer aprendendo a relaxar quer por intermédio da prática regular de exercício físico. Igualmente importante, é aprender a bem dormir para que possamos ter acesso a uma noite de sono reparadora – também o sono se prepara, mas em adultos esquecemos isso frequentemente, por exemplo é assim habitual continuarmos a envolvermo-nos em actividades e afazeres diversos até o momento de ir para a cama, como se o nosso cerebro de repente fosse capaz de desligar, como um qualquer interruptor. Também nas ocasiões que precedem o stress particular atenção deve ser dada “aos mimos” que podemos dar a nós mesmos, estamos a falar de coisas tão simples como tomar um banho de imersão ou sentar no sofá a ouvir aquela música que nos tranquiliza e transporta para um momento zen. Os mimos enchem a nossa vida de sensações poderosas de bem estar, capazes de funcionar como verdadeiros anti-stress naturais.
Autora: Filipa Cristóvão
Psicóloga Clínica
A doença oncológica é recorrentemente uma situação temida e traumática, constituindo uma experiência contínua de ansiedade e stress, assim como o seu tratamento, tendo impacto tanto ao nível individual, como familiar.
Também neste contexto a psicoterapia pode ser um recurso essencial, sendo que a investigação tem provado os seus benefícios ao nível das estratégias para lidar com a situação, nível do ajustamento doença e tratamento, bem como no prognóstico.
Em particular, a psicoterapia pode ajudar o doente a alcançar estes objectivos:
Para o efeito, na Oficina de Psicologia intervimos com um conjunto de técnicas entre elas EMDR, hipnoterapia, estratégias de relaxamento, que devidamente integradas no processo psicoterapêutico e em parceria com o tratamento médico proporcionam maiores níveis de bem-estar.
Fonte: Seligman, L. (1996). Promoting a fighting spirit – psychotherapy for câncer patients, survivors, and their families. San Francisco: Jossey-Bass Inc.
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Só se deprime quem não se deixa entristecer
António Branco Vasco
Esta é sem dúvida uma das frases marcantes do meu percurso académico e a minha experiência clínica tem confirmado todos os dias quão verdadeira ela é.
Talvez soe estranho, estamos habituados a associar a depressão à tristeza e a temer que se nos permitirmos entristecer podemos acabar a deprimir. Por lógico que possa parecer o raciocínio, é na realidade falso.
A tristeza é uma emoção com funções adaptativas muito importantes: por um lado mostrarmos aos outros que precisamos de conforto e auxílio no sentido de reduzir o nosso sofrimento psicológico, por outro recolhermo-nos em nós próprios no sentido de ultrapassar as nossas perdas significativas. Ambos estes movimentos são fundamentais para recuperarmos o equilíbrio e voltarmos a investir nas nossas vidas.
A depressão é como uma panela de pressão, cheia de tristeza a ferver e sem que aliviemos o pipo para deixar alguma sair. Ao não nos permitirmos entristecer, não libertamos alguma desta energia dolorosa mas real, e ficamos inundados por ela; no esforço de não a deixarmos sair, bloqueamos todas as saídas, que são também as entradas, e a vida deixa de fluir.
Quando a tristeza lhe bater à porta, e ela bate com alguma frequência, dê-lhe alguma atenção, dê-lhe algum colo, procure algum conforto junto de quem lho saiba dar. Acredite que não vai deprimir.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Passaram alguns dias desde a épica vitória da seleção portuguesa de futebol e que foi um grande momento de orgulho nacional. Foi incrível testemunhar ao vivo um momento assim e onde senti o bom que é ser português. É um pouco disso que lhe trago hoje.
Goste-se ou não de futebol, era impossível ficar-se indiferente à atmosfera que lá se viveu. Famílias inteiras de várias idades e culturas diferentes vestidas com as cores nacionais a sofrer pela seleção, como poucas vezes vi num estádio. As alegrias, as dúvidas e as tristezas vividas com grande intensidade por todos, sem distinção. Arrepiante foi mesmo o inspirador Hino de Portugal ser cantado três vezes desde que entrei até que saí do recinto. Desconhecidos, amigos, companheiros, pais, filhos e avós a uma só voz a celebrar o Grande povo Português. Transcendente!
Numa altura tão cinzenta como a que vivemos, assistir e participar nesta explosão patriótica foi, para mim, o momento alto da semana. O português ganha um novo alento nos momentos de dificuldade, une-se, renasce, dá as mãos e vai em frente. E se pensarmos que temos sido alvo de medidas duríssimas de austeridade, que temos uma taxa de desemprego enorme, que vivemos numa sociedade em perigo de rutura social e por aí adiante…é incrível o modo como estamos a lidar com tudo isto. Se olharmos para outros países, vemos que a contestação social estrangeira tem tido momentos de grande agressividade, instalando-se até o caos e a confusão. E perdoem-me aqueles que acham o povo português um povo de brandos costumes. A nossa história explica porque temos tão baixa auto-estima nacional mas uma coisa é certa: somos resistentes, persistimos e acreditamos que depois da tempestade vem a bonança.
É que me revolta ver muitas das notícias do dia e reparar que (ainda) existem tantos Velhos do Restelo em Portugal. Mentes que parecem apenas ver o lado negativo de tudo, rejeitando o que de bom fazemos e proliferando um clima de medo, angústia e desespero. Todas estas mensagens fazem parte do problema, nunca da solução. Há que ter consciência do momento difícil mas, acima de tudo, focar a atenção em formas de melhorar a nossa condição de vida. É que não é por acaso que uma das primeiras palavras que as crianças portuguesas aprendem a dizer é o “não”…
Acreditar que a nossa vida vai melhorar exige um grande esforço. Há dias em que, simplesmente, não conseguimos mais. Se num deles sentir que está a perder a esperança, lembre-se que não está só... e procure mais portugueses valentes como você: é que a união faz mesmo a força!