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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Tânia da Cunha
Psicóloga Clínica
De um modo geral, todos nós numa ou noutra situação deparámo-nos com a dificuldade em tomar uma decisão. Podemos ir hesitando ou mesmo procrastinando, “deixando para amanhã o que poderíamos fazer hoje”.
No contexto da psicoterapia o dilema da escolha surge com alguma frequência. Uma possível explicação para a dificuldade de tomar decisões ocorre do facto de alguns de nós pensarmos a priori que há uma “boa” e uma “má” solução para o problema que temos de enfrentar. E neste sentido, tentar optar pela boa a todo o custo, sob pena de consequências graves e definitivas.
A grande maioria das opções com as quais nos vamos deparando na vida têm soluções que apresentam vantagens e desvantagens, por outras palavras, são opções em que nada está determinado previamente. É muitas vezes a maneira como nos comprometemos que torna a escolha boa ou má a posteriori.
Para facilitar a tomada de decisão experimente o seguinte exercício: Faça uma longa lista de coisas que tem que fazer e inicie as frases com as palavras "Eu tenho que...". Depois volte às frases que escreveu e substitua "Eu tenho que..." por "Eu escolho...". Gostaria que se desse conta de que, de facto, tem o poder de fazer uma escolha.
E-mail recebido
"Caros Oficina de Psicologia
Gostaria de ter alguma atenção da vossa parte se possivel, para o meu caso que tenho esperança conseguir alguma coisa perto da cura.
Acho que fazem um excelente trabalho, porque é importante alertar,informar, para que as pessoas tenham mais conhecimento sobre as doenças do foro mental.
E conseguir fazer campanhas como se fazem em outros paises, para prevenir este sofrimento atroz que causam estas doenças.
Chamo-me Maria e sou apenas mais uma pessoa que faz parte dos 22% neste momento o numero que existe para estas doenças reacionadas com o foro mental, (como sabem) estas doenças a que chamam silenciosas, depressão,bipolaridade,borderline, etc... Deixo aqui o meu testemunho pessoal.
Tenho depressão á 10 anos, não chegou de mansinho,nem lentamente, chegou de um dia para o outro abruptamente, numa altura
de enorme stress profissional. Lutei com todas as minhas forças para a combater. (psiquiatras,psicologos,ginástica,caminhadas,socializar, sair de casa todos os dias) Mas apesar de tudo.VENCEU-ME!
Estávamos em Setembro de 2001,deixei de trabalhar em finais de Novembro e obviamente piorei, mas decidi lutar com todas as forças que tinha, eram dias muito dificeis acompanhados com medicações erradas e com muitos sintomas dificeis de aguentar, fui ficando cada vez mais debilitada e em Junho a alternativa foi ir para casa dos pais, para não estar sozinha. A minha filha que era muito pequena ficou com o pai e o meu sofrimento é indescritivel. Foi um dos momentos mais dificeis de aguentar.
Fiquei quase 2 anos sem sair de casa ao cuidado dos meus pais,sem conseguir sequer aproximar-me da porta de entrada, devido ao sindrome
que desenvolvi.
Consegui recuperar e comecei a trabalhar num negócio de familia, e surgiu-me também uma oportunidade para os fins de semana que aceitei de imediato,porque queria recuperar a minha vida e o tempo perdido. Dessa oportunidade surgiu a possibilidade de fazer parte desse negócio,aceitei também julgando assim ser mais fácil chegar ao meu objectivo.
O meu marido quis o divórcio. Estava divorciada e perdi a custódia da minha filha.
Investi todo o dinheiro que tinha, força, trabalho e esperança em detrimento da minha saude. E convenci a minha filha que o pouco tempo que tinha para ela seria para podermos ter uma casa, uma nova vida,que tinhamos que começar do inicio.
PERDI! O dinheiro e a saude que tinha conseguido recuperar.
Fiquei mais uma vez 1 ano em casa e desta vez muito mais doente, em alguns dias perdia a locomoção em outros a fala, deixei de comer, dai a ser internada foi apenas um passo. O internamento foi dos momentos também muito dificeis pelos quais passei.
Recuperei-me, mas não consegui voltar a trabalhar durante 4 anos.
Em Fevereiro recomeçei um trabalho que me surgiu e agarrei-o com todas as minhas forças, agora estou de baixa porque me mandaram para casa.
Voltaram as crises de ansiedade,o choro consecutivo,o estado de deprimida mas não se pode trabalhar assim disseram-me, foi apenas o que me disseram.
Fiz um esforço enorme para não deixar de ir trabalhar,para não desistir. Não foi suficiente!
Nestes dias que tenho estado em casa não melhorei, sinto-me no limite,naquele limite em que ou consigo continuar ou vou desistir de viver.
E tenho alertado quem está á minha volta.
Ninguem ouviu! E tentei suicidar-me. Não por não querer viver,mas porque não conseguia aguentar mais a dor.(os deprimidos não querem morrer,querem não sentir mais o sofrimento diario da doença).
Esta semana recebi a carta em como o meu contrato não seria renovado,porque extinguiram o meu posto de trabalho.
Este é um pequeno resumo da minha história ao longo destes anos e é também um apelo, porque estamos a atravessar uma época muito dificil e irão aparecer mais casos e é preciso que as entidades patronais percebam que os deprimidos ficam piores em casa,mesmo muitas vezes querendo lá ficar. E é preciso alertar e esclarecer as pessoas que esta é uma doença dificil,com dor, e em que os que estão mais próximos sofrem muito também.
E fazer saber às pessoas que de profissionais com sucesso,tornamo-nos pessoas com muitas sequelas e limitações, não por preguiça,nem por não querermos,mas porque esta terrivel doença nos obriga.
Atentamente
Maria"
E-mail recebido
"Boa tarde,
Tenho um filho com 14 anos que tem muito medo de cães. Neste momento está a ficar cada vez mais limitado e até isolado nas sua rotina, não vai a casa de ninguém que tenha um cão , não vai ao parque da cidade porque tem medo de encontrar um cão.
Gostava de saber como posso ajudar o meu filho a ultrapassar este medo.
Obg,
P"
Autora: Cristiana Pereira
Psicóloga Clínica
A preocupação, tão presente no nosso dia-a-dia, é a forma que a nossa mente utiliza para ensaiar diferentes vias de solução perante possíveis perigos.
É claro que a preocupação é-nos útil, enquanto conservar uma relação lógica com as situações que vivemos. No entanto, se ela se torna em algo persistente e permanente, que aparece em situações que não apresentam qualquer perigo real, acarreta sérios problemas. Isto porque nos mantém num estado de ansiedade permanente. É uma sensação de inquietação constante, na qual está presente a ansiedade como resposta fisiológica, ou seja, é como se nos apercebêssemos de um grande risco mesmo quando não há nada no exterior que nos indique a sua existência.
Alguns de nós convive permanentemente com a angústia, o que nos impede de aproveitar até os acontecimentos mais elementares da vida, já que estamos sempre preocupados e limitados nas nossas actuações. Como é lógico, este estado não nos deixa viver outras emoções agradáveis, reconfortantes e positivas.
Quando a preocupação é excessiva utilizamos uma grande parte das nossas energias mentais, pois estamos constantemente a ensaiar, uma e outra vez, diferentes soluções para resolver o que nos inquieta. Assim, diante desta agitação é quase impossível concentrarmo-nos noutras coisas. Este desgaste físico e mental pode conduzir a patologias mais graves como as fobias, as compulsões ou os ataques de pânico.
O ciclo da preocupação
Penso que todos nós já experienciámos de alguma forma o ciclo da preocupação: começa com uma conversa interna que salta de uma ideia para outra aumentando com cada uma delas o grau de ansiedade.
Muitas vezes, depois de sofrer um percalço, dizemos “Agora só me faltava mais esta…” Esta frase é um exemplo do início do ciclo da preocupação. Com ela começamos a imaginar futuros e hipotéticos perigos que, muitas vezes, nada têm a ver com a situação desagradável ou perigosa que enfrentamos.
Sabemos à partida que o ciclo da preocupação não nos ajuda a solucionar qualquer tipo de problemas. Contudo, quando acontece entregarmo-nos a ele, sentimos que por nos preocuparmos conseguimos evitar as dificuldades. É como se o hábito funcionasse como uma espécie de talismã que nos livra de futuras desgraças.
No entanto, uma das vantagens que a preocupação nos pode proporcionar é o facto de notarmos com a menor intensidade a ansiedade. Uma pessoa preocupada está tão focada e centrada em solucionar os problemas, que muitas vezes não repara nos sintomas da ansiedade: taquicardia, suores, tremores, etc.
O primeiro alarme toca perante uma dificuldade gerada, normalmente, por um pequeno contratempo. Às vezes nem sequer percebemos o que nos causou o estado de alerta. Com este alarme, existe um moderado ataque de ansiedade que provoca mudanças fisiológicas no nosso organismo. Pode sentir-se um leve desassossego, uma inquietação. Este estado emocional, no qual há uma quantidade de hormonas a circular pela corrente sanguínea, gera um estado de tensão que, por sua vez, despoleta novas preocupações.
Finalmente, a nossa atenção fica totalmente centrada nas preocupações que vão sucedendo. O objectivo deste encadeamento de preocupações é diluir o alarme inicial, o qual julgamos não poder enfrentar, em vez de nos empenharmos na resolução do problema que iniciou o ciclo. E como compensação, a ansiedade diminui.
Autora: Fabiana Andrade
Psicóloga Clínica
Cada vez mais dou por mim a identificar nas pessoas que me procuram, ou mesmo em amigos próximos, dois tipos de Estado. Chamo-lhe estado pois estamos a falar de um nível estrutural de ser e de viver.
O Estado de Amor ou o Estado de Medo.
Veja se isso lhe parece familiar?
Ana está infeliz no seu trabalho, todos os dias acorda sem vontade de ir trabalhar. Está num sítio com o qual não se identifica e o trabalho em si não a realiza. No entanto, não questiona sair. Seus pensamentos são: “O país está em crise; e se eu saio e não consigo trabalhar em outra coisa; eu devia era estar agradecida de ter esse trabalho”. E assim por diante, numa lista infindável de boicotes à sua felicidade e à sua capacidade.
Quando falamos sobre o seu sonho: trabalhar ao ar livre, viver no campo. Ela o vê como inatingível.
Pedro está infeliz na sua relação. Todos os dias se sente preso, sem energia, triste. No entanto, não questiona sair pois têm uma casa juntos, o país está em crise e essa não é a melhor altura para vender a casa. “E se eu fico sozinho?”, “E se nunca mais conheço ninguém interessante?”.
Quando falamos no seu sonho: viver fora de Lisboa, sair dessa relação, estar feliz. Ele também o vê como inatingível.
Essas histórias parecem familiares? A mim sim! Todos os dias trabalho com pessoas que estão infelizes no seu contexto actual mas ao mesmo tempo não conseguem sair dele pois se sentem COM MEDO. Com medo de não serem capazes de fazer transformações felizes, com medo de não atingirem resultados, com medo e com medo disso e daquilo. Esse estado de medo faz com que elas não tomem as rédeas da sua vida e fiquem presas em situações ou pessoas que trazem uma falsa sensação de segurança.
Aquilo que está na raiz desse estado de medo é uma desconexão precoce das suas capacidades. De alguma forma essas pessoas perderam a fé em si mesmas, nos seus recursos e nas suas capacidades, e assim, entregam a sua segurança à algo externo. O problema é que essas fontes externas não trazem segurança e sim sensação de prisão, estagnação.
Em oposição a este estado de medo, temos o Estado de Amor, que é exactamente o oposto. As pessoas nesse estado trazem em si mesmas (e sabem disso), os recursos, as ferramentas e as capacidades para gerir e resolver tudo em sua vida. Essa real segurança permite liberdade, permite que elas possam fazer mudanças, arriscar em direcção à sua felicidade sem sentir medo paralisante.
Todos nós podemos deixar de estar e de viver em estado de medo e passar a viver em estado de amor se assim o quisermos. A psicoterapia é uma ferramenta nesse sentido. Permite à pessoa conhecer-se melhor, aceitar-se tal como é, entrando em contacto com as suas capacidades.
Permite também fazermos uma distinção do que são as nossas capacidades reais e do que são crenças negativas que interiorizamos sobre nós mesmos, ao longo dos anos e que servem de boicote à nossa felicidade.
É um trabalho cujo objectivo final é esse mesmo, voltar à conectar o indivíduo com o seu estado de amor, por si mesmo, pelos outros e pelo mundo, acabando com os “e se” e com “porque eu não faço, ou não sou”. Passamos então a funcionar num estado de permanente observação, consciência, concentração, foco, acesso à todas as nossas capacidades e dimensões de nós mesmos, com total aceitação.
É por isso que me sinto todos os dias feliz por fazer o que faço. Assim, tenho a oportunidade de observar e participar dessa fantástica viagem do indivíduo ao encontro de si mesmo.
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
A criação do poema é tangente ao inicio do processo terapêutico.
Estabelecemos um objectivo e, com base no sonho, emoção e sentimentos, damos cor e vida a uma sincronia de palavras e frases, dançando com estímulos, personagens e caminhos, que tentamos ordenar numa mistura entre o real e o que é apenas percepção.
Descrevemos sentimentos, desejos e o que antecipadamente imaginámos, mas o mais complexo é confrontarmo-nos com a definição da nossa própria personagem.
Como no filme "Florbela", no qual o evoluir das cenas permite ouvir o queimar dos cigarros com maior intensidade, como uma aliteração que nos transporta para a vivência do texto, também o terapeuta, durante o relato, se serve da empatia para a vivência de uma vida que não é a sua.
São caminhos de um mapa claro e fácil, pelo menos na ideia inicial, na inspiração. No final, mesmo sem nada rimar, mesmo sem ponto em comum com o pretendido, tudo nos faz sentido.
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Já experimentou o sentimento de culpa? Recorda-se do peso que sentiu? De ficar como que paralisado, como se nada o pudesse tirar dali, desse sítio escuro e pesado? É de facto o efeito que a culpa tem em nós, ela paralisa, bloqueia, impede o avanço, dificulta a reparação.
Sim, porque muitas vezes fizemos de facto coisas erradas, magoámos pessoas, fomos rudes ou negligentes, procrastinámos, não cumprimos os nossos objectivos por desleixo ou falta de organização, ou falta de motivação; e sim, de facto fomos nós os agentes, éramos nós que estávamos lá, a bola estava nas nossas mãos.
Mas a questão é: somos culpados ou somos responsáveis?
E poderá até parecer-vos redundante, poderão dizer-me “dá tudo no mesmo”. Mas sugiro que experimentem. De cada vez que derem por vocês a dizer “eu sou culpado” ou “a culpa é minha”, experimentem logo de seguida mudar para “eu sou responsável”, “a responsabilidade é minha”, e fiquem um bocadinho a olhar para vocês mesmos, não com os olhos de fora mas com os olhos de dentro, e apercebam-se se alguma coisa muda na forma como o vosso corpo reage, como o vosso corpo sente estas frases. O peso é o mesmo, ou há algo de diferente, talvez mais leve? Continuam a sentir aquela paralisia ou parece que a informação flui melhor, que é mais fácil sair daquele sítio escuro e doloroso onde caímos quando nos desiludimos connosco mesmos?
A diferença entre a culpa e a responsabilidade é que a culpa paralisa enquanto a responsabilidade mobiliza. O culpado fica estagnado no erro, a remoê-lo, a martirizar-se, sem conseguir sair dali. O responsável olha para o erro, tenta compreendê-lo, e percebe ainda que se foi responsável por ele, também é responsável pelo reparo, ou pela mudança.
O culpado desespera quando vê como a sua casa está desarrumada e fica a maltratar-se por ter deixado chegar a este ponto, o responsável entristece-se com a desarrumação a que se permitiu chegar, mas agarra em si próprio e começa peça a peça a arrumar.
Quando der por si a fazer coisas recorrentes de que não gosta, de que se ressente, obrigue-se a fazer esta mudança, transforme a culpa em responsabilidade, dê-se espaço e estímulo para reparar o erro, para mudar. E não se apresse demais, as mudanças e as reparações levam o seu tempo.
Autora: Susanne Marie França
Psicóloga Clínica
Quando acreditamos em nós mesmos, podemos arriscar ser curiosos, sonhar, ser espontâneos, ou qualquer outra coisa que eleve o espírito humano. - EE Cummings
Uma das coisas que impede as pessoas de pôr em prática os seus sonhos é o medo do falhar!
Como podemos vencer esse medo?
Se formos honestos connosco próprios, todos temos, ou já tivemos medo de falhar. A diferença talvés esteja no facto de que alguns de nós ficamos paralisados e não agimos devido ao medo, enquanto outros, com ou sem medo, avançam. Não é fácil, mas quanto mais agirmos, mais programamos a mente e criamos um novo hábito que por sua vez, substitui o antigo – o evitar as situações.
Que tal alterar a sua auto-imagem mental? Todos temos uma imagem mental que reflecte o que sentimos acerca de nós próprios. Essa imagem não é necessariamente uma “imagem” em si, e pode estar associada a um pensamento, sensação ou mesmo uma emoção. O importante é percebermos que a nossa auto-imagem pode ser alterada, uma vez que é criada por nós….e ao mudarmos a nossa auto-imagem, mudamos a nossa percepção de nós próprios, o que por conseguinte vai alterar as nossas acções e pensamentos.
Mesmo que sinta medo, aja como se não o sentisse. O truque do agir e/ou sentir “como se….” é muito utilizado na terapia de sugestão em hipnose clínica. Experimente!
Já se imaginou a sorrir? Pode soar banal, mas este pequeno gesto faz milagres. Basta imaginar que está a sorrir e toda a sua linguagem corporal muda!
Por fim, gostaria de sugerir um pequeno exercício;
Pegue numa folha de papel e numa caneta e comece a descrever uma situação, sensação, ou simplesmente um momento em que se sentiu no seu melhor.Feche os olhos e transporte-se mentalmente até esse momento… reviva-o vivamente usando todos os seus sentidos. Sinta cada sensação desse momento plenamente!
Repita este exercício duas vezes por dia durante 21 dias, e o seu corpo e mente vão memorizar as sensações e emoções associadas a esse momento. Sempre que necessitar terá ao seu dispor uma ferramenta fantástica para usar naqueles momentos em que gostaria de se sentir no seu melhor.
Autora: Catarina de Castro Lopes
Psicóloga Clínica
“Eu não concordo com este projecto. Eu quero dizer que não o vou fazer mas quando tenho oportunidade de falar com o meu chefe há qualquer coisa que me bloqueia. Não consigo. Já tentei várias vezes.”
Identifica-se com este testemunho? Tem dificuldade em dizer “não”? Aceita os pedidos que lhe fazem mesmo que não concorde com eles? Aceita trabalho que já não tem capacidade para realizar? É difícil para si recusar convites? Os seus “sims” têm repercussões negativas na sua vida pessoal e profissional?
Ter medo de dizer “não” é relativamente comum pois em algumas circunstâncias sabemos que as consequências desse “não” podem suscitar reacções desagradáveis. Para algumas pessoas o “não” é sentido como uma agressão ao outro e para evitar conflitos preferem dizer “sim” mas será que não vão entrar em conflito consigo mesmas? Aceitam tudo, mesmo que não concordem, até que de repente, por impulso têm uma reacção explosiva o que pode levar a consequências imprevisíveis. Isto acontece porque na hora de dizer “não” fantasiam varias reacções negativas de quem vai receber a recusa. Sentem medo do desagrado que podem causar e antecipam a culpa, rejeição, abandono e angustia. São exactamente este tipo de pensamentos que enfraquecem a capacidade de dizer “não”.
Recusar ou negar algo de uma forma serena, clara, justificada e coerente facilita que o interlocutor perceba a sua posição.
Vejamos, numa situação profissional, por exemplo, uma pessoa que tem dificuldade em dizer “não” pode acumular tarefas, aceitando tudo o que lhe propõem mas por não conseguir cumprir os prazos acaba por desiludir o seu chefe. Aceitou a tarefa por medo de ser acusado ser mau profissional ou desiludir o seu superior mas acabou por acontecer precisamente o temido. Assim, muitas vezes surge a sensação de injustiça “Eu dei tanto de mim esforcei-me tanto e não me valorizam”. Pois é, parece que não é vantajoso aceitar mais do que as nossas possibilidades ou mesmo ir contra valores e crenças nossas para agradar os outros.
Numa época de crise financeira estas questões podem agravar-se uma vez que existe uma tendência por parte das empresas em reduzir o numero de empregados e de cargos, logo o trabalho será distribuído por menos funcionários. Por outro lado, está mais presente nas pessoas a possibilidade de ser despedido o que agudiza o medo.
Se bloqueia na hora de dizer “não” a alguém, tente perceber que pensamentos e emoções surgem e que o impedem de expressar aquilo que quer. Não deixe arrastar a situação por mais tempo. Um dia “a bomba” rebenta e as consequências podem ser bastantes piores.
Procure ajuda de terapia para o ajudar a perceber a origem e as causas desses bloqueios e treinar comportamento assertivo.
Autora: Débora Água-Doce
Psicóloga Clínica
Sozinha no aconchego do lar, dei por mim a pensar na Solidão…
Dei por mim a pensar: o que é isso da Solidão? O que é isso do sentir-se sozinho?
Nesse momento, peguei no caderno e decidi escrever o que a solidão ditava.
Automaticamente me lembrou o caso de um paciente que tem medo da Solidão. Mas o que é isso de ter medo da Solidão?
Existem dois tipos de solidão: a solidão objectiva e real, quando não estamos acompanhados por alguém (em psicologia denomina-se objecto externo) e a solidão interna, subjectiva, quando o nosso interior, o nosso psíquico está vazio de pessoas significativas (em psicologia denomina-se objecto interno).
No primeiro caso há uma perda do objecto, no segundo caso há uma perda do amor do objecto.
Estar sozinho externamente é desgostoso, é aflitivo, é enfadonho, mas estar só afectivamente é incapacitante, é o sentir que está acompanhado mas está só… A solidão interna é destroçadora de auto-estima.
Então pensei: que tipo de solidão despertará medo ao meu paciente? Será que não adquiriu a capacidade de estar só objectivamente? Será esse o seu medo?
Ou será que se sente só “dentro de si”?
Na fase de terapia em que nos encontramos, ainda não é possível responder a estas questões, temos um longo caminho a percorrer, contudo, fica clara a necessidade de desenvolver a capacidade de estar só.
“Solidão externa quanto baste, solidão interna o menos possível”
António Coimbra de Matos
Deixo-lhe um desafio, reflicta sobre as seguintes questões:
- O que significa para si a Solidão?
- Como é sentir a Solidão?
- Tem medo da Solidão?
- Já se sentiu internamente sozinho?
Não prolongue a Solidão!