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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
E tanta emoção e nada para sentir!
Autora: Débora Água-Doce
Psicóloga Clínica
Cada vez mais existe uma maior oferta de estilos, as tendências surgem a um ritmo alucinante e entram na nossa vida sem pedir licença, são as montras fantásticas, as revistas com estilos brilhantes, a televisão, a internet, etc., etc., tudo é viável no que toca a publicar Moda e a questão que se coloca é: conseguimos resistir a tanta beleza?
Umas vezes, sim, outras vezes, não. Muitas vezes torna-se difícil resistir, principalmente para quem é amante de Moda ;) e claro está, adoramos que os modelitos façam parte do nosso Guarda-Roupa!
O facto de não conseguirmos resistir a um modelito de cortar a respiração ou a um estilo que poderá provocar muitos “estás gira!”, gera um consumo exagerado que ao fim de algum tempo, provoca o caos do Guarda-Roupa e apesar de termos looks fantásticos dentro do nosso “Armário de Sonhos” acabamos por proferir a expressão “Tanta Roupa e nada para Vestir”!
O que vestir para ir trabalhar? O que vestir para ir a uma festa? O que vestir para ir jantar fora? O que vestir para ir passear? O que vestir…?
Apesar de termos tanta Roupa, não sabemos o que fazer com ela, o que coloca a necessidade de realizar uma selecção do que é prático, do que é sofisticado, do que é versátil…
Do que nos faz sentir bem!
Mas… O que tem isto da Roupa a ver com Emoções?
Tal como as peças de Roupa que se amontoam no nosso “Armário de Sonhos”, também as nossas Emoções se amontoam na nossa Vida, gerando muitas vezes, também elas um caos, o caos Emocional.
E o que fazer com as Emoções? Para que servem elas?
Também servem para “embelezar” quem somos?
A Emoção também surge sem pedir licença! Surpreende-nos, submerge-nos e transforma-nos! Dá-nos a perfeita noção de que não somos apenas razão e autocontrolo.
A Roupa e a Emoção são comuns principalmente num aspecto: PREPARAM-NOS PARA A ACÇÃO!
Tal como na Moda, não existe o bonito e o feio, existe o gosto pessoal, também não podemos rotular as emoções de boas ou más, positivas ou negativas. Simplesmente, podem umas ser mais agradáveis e outras mais desagradáveis, ambas com o papel de nos orientar para a sobrevivência.
Há pouco, falei-vos da existência de vários tipos de roupa de acordo com determinadas ocasiões, mas, será que as emoções, quando adaptativas, também se configuram diferencialmente? Têm papéis diferentes?
Claro que sim!
As emoções desagradáveis protegem-nos do perigo e orientam-nos para objectivos e para acções específicas.
As emoções agradáveis motivam-nos para explorar o mundo que nos rodeia de forma proactiva e devolvem a harmonia depois de experiências emocionais desagradáveis.
A Psicanálise contribuiu para a nossa compreensão do modo como as pessoas se defendem das realidades emocionais dolorosas, mas o que torna as pessoas felizes?
Para muitas pessoas, até o simples aceitar de um elogio é algo muito difícil. Frequentemente as pessoas arranjam maneira de sabotar a sua própria felicidade, receando o risco de alcançarem o que realmente desejam, com medo que no fim as coisas corram mal!
Mas as pessoas têm essa capacidade! Está lá escondida no íntimo de nós, tal como aquele vestido rosa que ficou no fundo do armário. Ouse em procura-lo!
Permita-se a experienciar sentimentos bons. Permita-se a ver num perigo, uma oportunidade.
Permita-se a sentir Emoções em determinadas situações, não se conforme em conhecer a sensação de apenas uma ou duas. Permita-se a sentir o “tecido” que as caracteriza e “vista” aquelas que melhor lhe assentam!
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
A separação, o divórcio ou o momento de rutura de um casal é uma experiência intensa e marcante, constituindo-se como um verdadeiro choque psicológico.
De facto, o contexto específico da crise da separação faz-se acompanhar por um intenso stress que ambos os envolvidos terão de enfrentar e que é gerado por inúmeros sentimentos e realidades que se impõem. Ambos os envolvidos terão de enfrentar a partir de então, nos seus processos e ritmos certamente diferentes e de acordo com a natureza do processo da separação, a tristeza perante a partida do outro, o eventual sentimento de se ter sido abandonado ou rejeitado, a culpabilidade perante o fracasso de não se conseguir manter a relação com o outro e a insegurança perante um futuro incerto. Acrescem-se ainda a inevitabilidade das realidades que se alteram e que são também elas geradoras de um grande stress, como por exemplo, a alteração da situação económica do casal, a frequência de oportunidades relacionais com os filhos e com a família alargada do ex-parceiro/parceira.
É assim compreensível que esta convergência de fatores gere um nível de stress elevadíssimo, que torna mais claro que a resolução deste momento de crise extremamente penoso possa estender-se a 2 anos.
É preocupante que é que esta crise por ser habitada por sentimentos tão dolorosos pode tornar-se destrutiva se não forem encontradas formas de a serenar.
É então importante sabermos que dificilmente se pode eliminar o stress associado à crise, mas que podemos sim reduzi-lo para níveis não destrutivos e que no processo sejam encontradas formas de se armazenar e gerar energia capazes de gerir uma crise que parecia insuperável.
Assim, e de forma a evitar cair num caminho de destrutividade, é importante conseguir-se evitar duros julgamentos relativos aos envolvidos até porque, e apesar da natureza da tomada de decisão da separação, ambos estarão provavelmente a elaborar, a compreender e a incorporar a situação no seu projeto de vida.
Importa compreender que sob o efeito de um stress tão intenso e com a revolta como líder verifica-se a tendência a serem adotados comportamentos atípicos, estranhos ou bizarros ao ponto de os envolvidos não se reconhecerem ou reconhecerem a outra pessoa da qual tinham um entendimento que permitiu cimentar uma vivência em conjunto. Assim, o enviesamento que este choque imprime distorce frequentemente a avaliação do outro que acaba por sair naturalmente contaminada, chegando a colocar-se em causa o valor do outro, o que se torna perigoso nos casos, em que ambos necessitarão um do outro para um exercício harmonioso da “função parental”.
De forma recorrente, torna-se difícil nestes momentos evocar as memórias saborosas dos momentos partilhados a dois, e apesar de certamente estes aspetos positivos não terem desaparecido, é como se se tivessem tornado invisíveis.
De facto verifica-se que para se sobreviver enquanto pais, após a desunião observada entre marido e mulher é necessária apelar à qualidade do perdão dos erros falhas e faltas cometidas e resistir à tentação de se realçar os desvios e deslizes do comportamento do outro. De forma a facilitar a compreensão, o casal desagregou-se exatamente pela divergência e é paradoxalmente o que se solicita como tarefa: uma tolerância a essa diferença, após a separação, para que possam continuar a exercer uma função parental saudável, num regime agora diferente.
A separação é inegavelmente um momento muito difícil mas incorrer na tentação de culpar o outro não irá alterar verdadeiramente a dor e a sua compreensão.
O caminho da cicatrização interna é encontrado no caminho de olharmos para nós próprios e procurarmos o que há da nossa responsabilidade nesta crise, porque normalmente numa situação de separação ou divórcio a responsabilidade é partilhada e é importante que cada um descubra o que lhe pertence.
Ultrapassar a crise significa ter a coragem de nela mergulhar, no sentido de a conhecer, compreender e incorporar.
É importante reter que a saída desta crise pode ser uma condição melhorada e que passará por uma elevação do nível de consciência daqueles que fomos, daqueles que somos e daqueles que pretendemos ser.
Autora: Inês Franco Alexandre
Psicóloga Clínica
Nos processos psicoterapêuticos em que participo, individuais ou de casal, não é raro colocar as seguintes questões:
- Como era quando era criança?
- Quais eram os seus sonhos?
Faço-o com genuína curiosidade, tentando descobrir quem são as pessoas à minha frente: de que gostam, o que as realiza, o que é que as faz sentir-se vivas.
Não é raro, também, ouvir a seguinte resposta:
- Foi há muito tempo, não me lembro.
E a vida vai andando andando e nós esquecendo-nos. Colocamos em recônditas memórias o que queremos, o que desejamos, o que amamos – quem somos – relegando-o para segundo plano (amanhã penso nisso), como se amanhã fosse uma segunda vida. Fazemo-lo, todos (em maior ou menor medida). Porque entretanto hoje há essa (outra) vida para levar.
Num mundo em transformação como o de hoje, a insegurança é geral. A geração adulta actual cresceu a acreditar que o mundo era previsível e que a felicidade era garantida para quem tivesse certo número de anos de estudo, casa comprada a crédito e uma família “funcional”. O que não previmos foi que nestes últimos vinte anos o mundo mudasse desta forma. O trabalho não é garantido e afinal a felicidade não se compra a crédito. Salva-se a família “funcional”. Salva-se?
E a vida vai andando andando e nós esquecendo-nos. De que gostamos tanto de conversar, de escrever, de pintar, de ler, de cinema, de trabalhar, de estudar, de ouvir música, de ir à praia – quem somos. Porque entretanto hoje há essa (outra) vida para levar.
- Se nada é certo, para quê sonhar? Eu não arrisco!
A falta de sonho individual resultante de uma insegurança básica faz-nos, muitas vezes, colocar todas as expectativas nas relações amorosas, que se mantêm assim profundamente idealizadas. O meu companheiro passa a ser a minha fonte de realização e, como tal, terá de desempenhar na perfeição vários papéis: tem de ser o melhor amigo, o melhor amante, tem de adivinhar os nossos desejos, saber comunicar, ser seguro, ser sensível, ser divertido, ser profundo, ser leve, ser inteligente, etc, etc. O confronto com a realidade que é o outro é por vezes insuportável e pode originar dois tipos extremos de comportamento: a fuga para trás, ou o evitamento da relação, evitando assim também a perda do outro idealizado; a fuga para a frente, ou a luta desenfreada para que o outro mude no sentido que desejamos. A maior parte dos casais que chega à terapia adopta o último comportamento, insistindo, cada um dos elementos, na mudança do outro.
Quando insisto na necessidade de cada um se centrar em si mesmo, sou muitas vezes mal entendida
- Não quero ser egoísta!
dizem-me. Não entendendo que, pelo contrário, sermos quem somos em liberdade (respeitando, é claro, os limites do outro) é um duplo acto de amor: connosco, e com o outro, porque libertador também de um peso e de uma expectativa que muitas vezes não nos permite, verdadeiramente, amar o nosso companheiro. Em terapia de casal três processos ocorrem em simultâneo: o processo de mudança na relação, e o processo de mudança de cada um dos indivíduos. E é no momento em que cada um se responsabiliza pelo seu processo que tudo começa a acontecer.
E a vida vai andando, andando e nós lembramo-nos. Do que nos preenche, do que gostamos, do que é imprescindível fazermos acontecer para que nos sintamos vivos – quem somos. Porque entretanto hoje há esta (a nossa) vida para levar.
Autora: Filipa Jardim Silva
Psicóloga Clínica
Já lhe apeteceu substituir todos os pontos de interrogação que habituam a sua mente por pontos finais? Suponho que sim, mas não será necessário fazer isso. Termos a capacidade de colocar questões face ao que nos acontece, ao que somos e ao que fazemos é um dos motores essenciais do nosso desenvolvimento e consequente mudança. Existirá uma diferença entre o autoquestionamento saudável e construtivo e a insegurança persistente que leva a colocar-se em causa.
Aprender a ser introspetivo traz diversos benefícios. Introspeção significa a capacidade para olharmos para dentro de nós de uma forma não avaliativa ou de julgamento. Muitos de nós quando param para se observar internamente tendem a ser muito críticos e a avaliar-se de uma forma punitiva. Esta estratégia não é útil ou produtiva nem conduz a uma mudança positiva. Quando as nossas expectativas não são cumpridas ou estamos emocionalmente feridos por um evento ou circunstância particular, ao invés de sermos introspetivos muitas vezes de imediato caímos em atos de autocomiseração ou ficamos zangados, com nós mesmos ou com os outros; nenhum destes métodos produz resultados positivos.
Podemos procurar alguns exemplos que clarifiquem a diferença entre olharmos para nós de um ponto de vista de julgamento ou sermos introspetivos e constatar os efeitos diferenciados que estes métodos provocam.
Imaginemos que teve uma entrevista de emprego e que no final sente que foi excluído.
Julgamento: “Como é que eu não soube a resposta aquela pergunta? Sou mesmo falhado. Porque é que não me preparei suficientemente bem? Nunca vou conseguir nada da vida!” – O resultado desta autoanálise punitiva e que generaliza um episódio específico é sentir-se com menos valor e menor confiança o que poderá prejudicar o desempenho numa entrevista futura e originará uma desmotivação crescente que se pode traduzir numa desistência de procurar emprego.
Introspeção: “Eu realmente não sabia as respostas para aquelas perguntas. Deduzi que sabia o que a entrevistadora ia perguntar e não me preparei devidamente. Na próxima entrevista a que for para este tipo de emprego, vou saber que material tenho de estudar melhor o que me fará sentir mais preparado.” – Com uma autoanálise construtiva consegue identificar a sua falha, compreender como surgiu e retirar uma aprendizagem do erro o que diminui as probabilidades de repeti-lo; sobretudo não existe aqui a extrapolação de um erro para uma característica de personalidade (“errei numa entrevista logo sou um falhado”). Mais do que se autoinfligir com julgamentos, na introspeção existe um olhar e uma visão para os nossos comportamentos diferenciados do nosso valor enquanto pessoas.
O autoquestionamento leva-nos a tornar introspetivos. Por exemplo, imagine colocar a si próprio uma questão enquanto está a sofrer emocionalmente: “Porque é tão difícil para mim confiar nos outros?”. Uma das respostas introspetivas que poderá surgir será algo como “talvez seja difícil para mim confiar nos outros porque cresci sempre inseguro. Em miúdo, os adultos importantes para mim entravam e desapareciam da minha vida sem aviso prévio. Se calhar por isso nunca aprendi a sentir-se seguro. É isso que preciso agora, sentir-me mais seguro para conseguir começar a confiar mais nas pessoas do meu presente.” Percebe-se que o autoquestionamento ajuda a desbloquear-nos a nível emocional. Quando nos sentimos emocionalmente presos é como se estivéssemos entorpecidos, como se o nosso coração estivesse algo anestesiado e daí surge a sensação de que nos perdemos algures no caminho. Esta é uma experiência que todos nós experimentamos de vez em quando. Será nestes momentos em que a estratégia adotada fará diferença entre um bloqueio emocional temporário reativo e ajustado às circunstâncias de vida e uma perda crescente de recursos psicológicos em que não conseguimos fazer mais do que nos autoflagelar.
Não deite fora os pontos de interrogação da sua vida, faça deles caminho para explorar novos percursos e perceba que são as questões que coloca a si mesmo de uma forma construtiva que o levam a conseguir arranjar respostas diferentes e progressivamente mais eficazes!
Autora: Susanne Marie França
Psicóloga Clínica
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“Não compreendera ainda como o tinha eu salvo da crucificação. Mas quando os seus braços musculados se abriram para o meu corpo delgado, senti que o peito se lhe tornara discretamente ofegante, ao reconciliar-se com o meu. E, estando eu morto, ressuscitei. E, pedindo-me ele de novo que comesse, agarrei na tigela com as mãos muito trémulas e pus-me a sorver, em apressados e sôfregos tragos, aquele delicioso caldinho de farinha, com cujo sabor se cruzou para sempre a memória doce da minha infância. E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas - assim você me perdoe o facto de a minha história comportar também episódios felizes..."João de Melo (escritor)
Este excerto foi tirado da inesquecível obra do escritor açoriano, João de Melo: “Gente Feliz com Lagrimas”. Uma escrita comovente, visceral, e demasiado íntima, que por vezes nos obriga a virar a cara, porque ignora a razão e deixa marca na alma. O livro arrasta-nos exaustiva e irresistivelmente através de cinco universos na busca incessante da felicidade. Com uma estética polifónica, descreve os diversos modos de viver a amargura que oscila entre a violência familiar, a escassez própria da pobreza, o abandono da terra, os horrores da Guerra do Ultramar, o regime do Estado Novo…É uma peregrinação absoluta e uma lição para a vida que nos leva a rever a nossa própria história, e a ir ao reencontro das nossas próprias raízes. É um livro pesado e extremamente comovente, na forma como os protagonistas enquanto crianças procuram desesperadamente um gesto de ternura….
E as suas raízes o que é que dizem de si?
Alguns autores afirmam que a “criança interior” consiste na nossa verdadeira essência, a nossa verdadeira base, até mesmo no nosso verdadeiro eu. Assim, a fonte da desarmonia emocional vivenciada na idade adulta, pode residir e originar em situações da infância, que moldaram a nossa criança interior, que não sabe racionalizar, compreender e processar os acontecimentos a que esteve exposta. Estes acontecimentos, se por vezes marcadamente traumáticos, por outras, aparentemente triviais e difíceis de perceber. Lembro-me de um caso de uma paciente de Hipnoterapia Clínica que tinha medo de dormir sozinha com as luzes totalmente apagadas. Sempre que o marido viajava, trazia o filho para o quarto para não dormir sozinha. Quando exploramos as possíveis causas do medo, deparamo-nos com uma “criança” amedrontada a ver na televisão uma cena de um filme que a chocou profundamente. A “adulta”, já nem se lembrava do sucedido, e nem queria acreditar que fosse algo tão simples….Mas, a informação na infância não foi corretamente processada e ficou bloqueada, e o medo generalizou-se e foi desencadeado por outros estímulos.
E depois tenho encontrado pessoas com “crianças interiores” tão sobejamente coloridas de vida, que lembram um verdadeiro arco-íris. São uma excelente fonte de recursos no âmbito psicoterapêutico. A imagética aqui entra no seu esplendor criando cenários mágicos que ficam gravados no nosso inconsciente, para serem posteriormente reactivados fora do contexto terapêutico.
A terapia da “criança interior” é um processo de cura que nasce e resplandece de dentro para fora. Só assim, vamos conseguir sarar as nossas feridas, aumentar a nossa auto-estima, preencher o nosso vazio e ultrapassar a nossa solidão privada, e permitir que a nossa “criança interior” encontre a sua verdadeira expressão, mesmo que seja ser: feliz…com lagrimas.
"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"
Carl Gustav Jung psiquiatra suiço (1875-1961)
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Vivemos na sociedade do “Zapping”, do “fast-food”, do “fast” de tudo e mais alguma coisa. Uma sociedade virada para o imediatismo, para a contínua mudança minuto a minuto, segundo a segundo, momento a momento. Somos todos apanhados numa onda vórtica que nos suga, nos consome e, por vezes, nem nos deixa respirar, tal é o nível avassalador com que se impõe.
Vivemos numa sociedade onde existem mil escolhas, mil propostas, mil ofertas. E tantas coisas parecem interessantes, apelativas, dignas do nosso interesse…
Toda esta variedade contínua, difusa e assertivamente presente coloca-nos escolhas e dilemas. A condição humana é a condição da escolha. Estamos sempre condenados a escolher. Cada segundo que vivemos é também cada segundo que escolhemos. E é importante escolher bem, com convicção, confiança, intenção e consciência.
A escolha é uma condição inevitável ainda que existam muitas escolhas possíveis. O perigo desta imensa variedade é a possibilidade de cada um de nós se perder.
Cada um de nós tem a sua agenda escrita ou apenas mantida no nosso próprio segredo. Quando falo de agenda, falo de ideias, pensamentos, coisas que queremos concretizar, planos, e.t.c.
Durante o dia, reunimos ideias e estratégias para implementar quando chegarmos a casa. Eu também por mim falo.
E o que acontece quando finalmente chegamos a casa? Basta ligarmos a televisão e somos invadidos por milhares de canais, alguns altamente apelativos que por vezes são mesmo sedutores, ao ponto de nos fazer esquecer todas as ideias que tínhamos reunido.
Depois existe a Internet , o Youtube, o Facebook e verdadeiramente podemos passar horas a consumir, desenfreadamente, ideias de outros, momentos de outros, sonhos de outros, vídeos, fotografias, discursos, e.t.c.
E nós? Onde ficamos nós? Onde fica você? Onde fico eu?
O risco de tanta, tanta, tanta informação é ficarmos dissolvidos no meio deste caos aparentemente ordenado.
A nível psicológico a ambivalência gerada pela indecisão da escolha gera uma sensação de divisão: estamos em todo o lado, mas não estamos, verdadeiramente, em parte alguma! Estamos perdidos no meio de todas as escolhas. Ficamos divididos, quebrados e alienados.
Qual a solução?
Gostava de propor uma ideia:
Quando chegar a sua casa, antes de se embrenhar nos mundos vórticos dos multimédia, gostaria que pegasse numa folha de papel, numa caneta e que mergulhasse na complexidade imensa da sua pessoa. Então, comece a escrever as várias ideias que teve durante o dia. Isole-se de tudo e fique apenas e só consigo mesmo. Verá que é algo tão simples, mas ao inicio difícil. Escreva as suas ideias.
Estas ideias poderão ser escritas sob a forma de tópicos simples. Poderá escrever coisas que gostaria de fazer, ou coisas que tem de fazer.
Estas ideias podem estar ordenadas por temas que, naturalmente, irão variar de pessoa para pessoa.
Vou dar um exemplo:
Carro:
Casa:
Familia:
Amigos:
Música:
Poderá dividir todas as suas ideias em listas de deveres, de sonhos, de projectos, e.t.c.
Quanto maior o nível de organização, mais promoverá também a sua organização interior.
Verá que se experimentar esta ideia tão simples sentirá outro controlo e outra consciência da sua pessoa. Fará o que quer fazer, sentirá que tem mais tempo e naturalmente também poderá desfrutar dos apetecidos meios audiovisuais.
Pense nisto!
Autor: Pedro Garrido
Psicólogo Clínico
Hoje gostaria de refletir com todos vós sobre uma consequência de se viver em sociedade, falando de uma forma de conformismo social denominado de Bystander effect ou The Genevose effect. É denominado de síndrome Genovese pois foi a partir do assassinato de Kitty Genovese que os investigadores se debruçaram sobre esta temática. O efeito espectador ou síndrome Genovese é um fenómeno social psicológico que se refere aos casos em que espectadores de situações de perigo ou violência não oferecem qualquer meio de ajuda em situação de emergência para a vítima quando outras pessoas estão presentes. De facto, parece que quanto maior o número de espectadores, menos provável será que qualquer um deles vá ajudar.
Neste sentido, quando se dá o efeito de responsabilidade partilhada, a probabilidade de a pessoa individual agir diminui. Podemos através destes dados reflectir sobre a nossa atitude. Mesmo a nível da nossa vida pessoal isto pode ser sentido. Eis um exemplo explicativo: Quando vamos a conduzir e partimos do pressuposto que o outro condutor já nos viu não conduzimos de forma a certificar a nossa segurança. O problema levanta-se quando o outro condutor sente o mesmo. Quando deitamos um papel para o chão pensamos: “que mal faz um papel?”. Os outros também poderão pensar assim. Quando vemos um buraco na rua, assumimos “alguém já deve ter dado parte da situação”.
Gostaria de concluir isto com um desafio. Tem conduzido de forma segura? Tem feito a sua parte como cidadão? Ou espera que a mudança comece nos outros?
Quando abrimos mão da responsabilidade, abrimos mão do poder de mudar e decidir. Como quer fazer?
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Sobre a nossa postura perante a vida
Venho propor-lhe um exercício:
Feche os olhos, entre em contacto com o seu corpo e imagine-o como se fosse uma casa. E pense nas paredes desta sua casa. Como é que são as minhas paredes, o interior das minhas paredes? E partindo do princípio que existem de facto paredes e estão de pé, são tipo compactas, consistentes, perfeitamente alinhadas e uniformes, perfeitamente unidas, sem espaços vazios; ou são mais desalinhadas, com alguns espaços por preencher, com um aspecto mais débil, menos consistente?
Já identificou o seu tipo de parede? Então pense agora, e independentemente da parede que tem, que tipo de parede é que queria ter? Qual é a melhor parede?
Já se decidiu? Então vamos lá ver. Podíamos fazer um exercício de pensar quão próximo ou quão afastado está da sua parede ideal, mas não é esse o exercício que proponho aqui. Desta vez vamos mesmo tentar perceber qual a melhor parede para nós.
A primeira opção é a parede mais sólida mas também mais rígida; a segunda opção é a parede menos consistente mas mais flexível.
Quando as condições exteriores se mantém constantes/intactas, a parede mais rígida é a que parece funcionar melhor, mantém a casa de pé e com imponência, segura de si; o problema é quando as condições se alteram, quando um sismo abala as nossas vidas; aí a parede rígida, sem espaço para ajustes, parte na sua estrutura e a casa cai; já a parede mais flexível abana, acompanha o movimento do abalo, adapta-se, reajusta-se, e mantém-se de pé.
Questione-se então outra vez, qual a melhor parede para a minha casa?
E nesta escolha, reflicta para o que é que quer estar preparado, para uma vida estável, sem percalços, ao sol; ou para uma vida em que possa saborear o sol mesmo em dias de vento.
Autora: Catarina Mexia
Terapeuta conjugal e familiar
Numa época em que cada vez mais ouvimos falar no aumento da infertilidade feminina e masculina, nos avanços tecnológicos que permitem à medicina ter cada vez mais respostas para este problema, pode parecer estranho falar de casais que optam por não ter filhos.
Contudo, a decisão de não ter filhos não é um fenómeno recente nem uma questão pacífica no seio de uma relação. Muito se tem falado na Europa acerca do envelhecimento populacional, que parece ser um dos factores que nos tem levado a questionar fortemente as políticas dos diversos países no que se refere às formas tradicionais de apoio na velhice e na doença. Os argumentos utilizados por ambas as partes, casais com e sem filhos por opção, parecem conter uma lógica inabalável, que nos leva a dizer que ambos têm razão. Talvez a resposta esteja na compreensão destes argumentos e no respeito pelas escolhas conscienciosas de cada um.
As razões. "Não se trata de fazer a apologia da não maternidade, mas seria um erro deixar de considerar a possibilidade de nos ser difícil suportar a ideia de que quando o nosso filho deu os primeiros passos não foi para os nossos braços, ou nos momentos mais importantes não estivemos, lá." Este é um dos argumentos frequentemente encontrados para justificar a opção de alguns casais para não serem pais. Poucas pessoas compreendem porque alguém escolheria não ter filhos. Trata- se, contudo, de uma opção cada vez mais comum e, como é natural, não reflete nada de anormal nessas pessoas.
Numa sociedade marcada pela educação judaico-cristã, o propósito da união dos seres seria o da procriação. Casava-se para ter filhos e quando tal não acontecia algo de muito errado se passava, geralmente relacionado com infertilidade imputada às mulheres. Muitas cabeças rolaram, impérios caíram, a própria Europa foi vezes sem conta redesenhada por casamentos estéreis ou sem varão. A Inglaterra optou mesmo por uma nova religião que permitisse ao seu rei casar pela igreja, até aí a última instância capaz de sancionar um casamento. Assim se percebe que predomine a crença de que um casal sem filhos não seja um casal completo.
Por opção. A realidade impõe-se e as antigas crenças são desafiadas, nomeadamente pelo crescente número de casais que escolheram viver sem filhos. Nos EUA, já em 1975, um em cada dez casais não tinha filhos. Atualmente, pensa-se que cerca de um em cada cinco não tenham filhos por opção. Mas se as dúvidas relativamente a estas opções já são antigas, a nova realidade também nos obriga a aceitar novas respostas. Se estes casais ainda sentem alguma agressividade ou incompreensão pela sua escolha, tal deve-se ao facto de que a sociedade muda mais lentamente do que os indivíduos, e aqueles que voluntariamente optaram por não ter filhos são muitas vezes visto como anormais, culpados, egoístas e deixados de fora de muitas atividades.
Escolher não ter filhos, no entanto, pode ser uma decisão saudável. Geralmente é uma escolha longamente ponderada e discutida no seio do casal e reflete um verdadeiro desejo, não existindo nada de errado para quem escolhe este estilo de vida. Com frequência, se os elementos do casal não conseguem estar de acordo sobre este assunto, geralmente ocorre uma separação. São opções de fundo e que mudam a vida de uma pessoa para sempre. Passado o tempo de procriação de uma mulher, o casal poderá sempre experimentar ser pai através da adopção, mas dificilmente serão os pais naturais de uma criança.
Estilo de vida. Muitas são as razões que levam os casais a não terem filhos, o que pode abranger desde opções religiosas ou ideológicas até a um estilo de vida. Por um lado existe uma realidade sociológica que leva a poder escolher. Escolher, porque a medicina nos permite controlar a natalidade e porque a sociedade promove valores que acentuam a liberdade individual na escolha de estilos de vida. Por outro lado, a consciência que o investimento numa carreira é muitas vezes incompatível com a noção de pais que estes casais gostariam de ser leva-os a optar pela satisfação profissional.
Ainda, e talvez o mais importante, é o sentimento que estes casais expressam de não precisarem de um filho para se sentirem completos ou encontrarem o seu objectivo na vida. Muitos, pura e simplesmente não desejam ser pais. Todos temos esse instinto? Talvez, mas a nossa condição de seres pensantes permite-nos ir para além dele e fazer opções distintas.
Partilhar o tempo. Outros casais sentem uma vontade enorme de continuar a razão que os levou a juntarem-se: partilhar o tempo. Sem as responsabilidades inerentes aos filhos, estes casais têm mais energia e tempo para se dedicarem a uma variedade de coisas que gostam de fazer em comum. Viajar costuma ser opção mais vulgar.
A lista não tem fim, mas pode incluir a carreira profissional, a melhoria da educação própria, o desenvolvimento e manutenção de amizades, o envolvimento total em atividades para além das profissionais, a procura de um maior desenvolvimento pessoal, maior liberdade e segurança financeiras.
A decisão de não ter filhos, por parte de um casal, vai ser seguramente questionada. Primeiro pela família, que esperava um neto, um herdeiro, um continuador do nome de família, depois por amigos e colegas. E nos momentos em que a culpa os assalta, devem lembrar-se que esta decisão se baseou no desafio de manter vivo, ao longo dos anos, o interesse mútuo em cada um e em atividades conjuntas, mas também num bom equilíbrio entre a partilha e a individualidade de cada um, de tal forma que ambos sejam um casal sem que um se funda no outro. Também a atitude perante a velhice é normalmente equacionada de forma diferente, na medida em que, para além dos amigos, se não existirem outros familiares, os dois elementos do casal apenas contam um com o outro, o que em geral os leva a adoptar estilos de vida mais saudáveis, em que mesmo o stress profissional é compensado com outras atividades.
Para pensar. Ainda assim, e sempre que as dúvidas nos assaltarem, devemos colocar-nos questões como: O que procuramos obter da experiência de sermos pais? O que é para nós uma vida com significado? Como é que uma criança cabe nessa concepção?
Optar por não ter filhos é um assunto polémico e geralmente discutido com emoção. São vários os sitios da Internet que debatem estes assuntos. Em 1997, Korasick, uma mulher de 32 anos casada com um homem de 30 anos criou o Child Free Website para se ligar a outros como ela: casais que não querem ser pais. Ao fim de alguns dias, Korasik foi inundada com emails de agradecimento por outros casais na mesma situação, que encontraram eco e um espaço para partilharem as suas experiências. Atualmente existem muitos sites dedicados a casais sem filhos por opção, que, inclusive, organizam atividades para confraternização.
Autora: Joana Florindo
Psicóloga Clínica
Poderá não reconhecer a expressão, mas certamente já ouviu falar dela, em português designamo-la de “Crises de Voracidade Alimentar” ou “Ingestão Compulsiva”.
Ocorrendo nas perturbações alimentares Bulimia Nervosa e Ingestão Compulsiva, traduz-se num comer excessivo e descontrolado de uma quantidade de alimentos considerada exagerada pela maioria das pessoas, que só termina quando um intenso mal-estar ou exaustão física extrema são atingidos. Distingue-se dos episódios de comer desmedido que todos tendemos a conhecer, particularmente quando em reuniões familiares ou convívios entre amigos, pela elevada quantidade de alimentos ingeridos, num reduzido espaço de tempo e a um ritmo acelerado, e pela sensação de falta de controlo sobre o que está a acontecer.
Embora seja ainda necessário, do ponto de vista científico, percorrer um longo caminho de investigação que nos permita conhecer com maior rigor e clareza o que acontece num episódio de voracidade alimentar, uma vez que a maioria das descrições que dispomos nos são dadas por quem os vivenciou, e estando essas descrições à partida abraçadas pela experiência emocional de cada um, poderemos realçar algumas características comummente referidas na prática clínica, associadas a estes episódios:
Sentimentos – Se inicialmente parece existir alguma sensação de prazer ou saciedade, sendo possível desfrutar do sabor e da textura dos alimentos, rapidamente emergem sensações desagradáveis e de falta de controlo, e surgem sentimentos de angústia, vergonha ou culpa. A repulsa sobre o comportamento que se está a ter é também uma sensação comum, que tende a intensificar-se por não se ser capaz de parar de comer.
Velocidade de ingestão – Num ritmo acelerado e num curto intervalo de tempo são mecanicamente ingeridas grandes quantidades de comida. De acordo com os resultados de um estudo efectuado por um grupo de investigadores da Universidade de Columbia, Estados Unidos da América, as mulheres que sofrem de Bulimia apresentam uma velocidade de ingestão alimentar duas vezes superior à das mulheres que não têm qualquer perturbação alimentar: 81,5 calorias por minuto e 38,4 calorias por minuto, respectivamente.
Agitação – São bastante comuns os relatos de rebuliços e deambulações desassossegadas que antecedem e acompanham os episódios de voracidade alimentar. De uma forma quase desesperada, é sentido um intenso desejo por comida que incita forçosamente à sua procura e ingestão. Quando os alimentos à disposição são escassos, ou inexistentes, é possível que estas pessoas se desloquem propositadamente a supermercados ou lojas de conveniência para adquirirem os alimentos desejados.
Secretismo – A intensa vergonha que tipicamente acompanha estes comportamentos, leva a que eles sejam na sua grande maioria praticados às escondidas, longe dos olhares e críticas dos outros, acontecendo quando se encontram sós, ou sob estratégias como as de levar a comida para locais seguros, como o quarto, onde à partida não serão descobertas.
Sensação de consciência alterada – Surge por vezes em consulta o relato de um comportamento involuntário e mecânico, sentido como se não fosse consciente. Instala-se um estado de “piloto automático” em que a consciência sobre o comportamento está momentaneamente desligada. Muitas vezes, as pessoas relatam que isto acontece porque acompanham o episódio de voracidade alimentar com distracções como ver televisão ou ouvir música num volume elevado, distanciando-se à partida do que estão a fazer.
Perda de controlo – Assume-se como uma das características centrais das crises de voracidade alimentar, mas parece variar de pessoa para pessoa. Enquanto umas referem sentir esta sensação ainda antes de começarem a comer, outras expressam senti-la a aumentar gradualmente à medida que vão comendo mais e mais, e outras ainda, referem que ela surge subitamente, quando se dão conta da quantidade excessiva de comida ingerida. Contudo, em qualquer dos casos, a sensação é a de que não se consegue parar de comer, nem controlar o quê e o quanto se come.
Cada caso é um caso, e deve-se sempre considerar a experiência individual de cada um. Não hesite em procurar ajuda especializada, de forma a avaliar cuidadosamente o seu caso, e, se necessário, poder actuar o mais precocemente possível no seu problema.
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