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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Hoje em dia imperam ideias de positivismo, de “smiles”, de “likes”, de sorrisos. Implicitamente corre a ideia de que o importante é nos sentirmos bem.
Gostaria que reflectissemos sobre as implicações psicológicas desta mensagem implícita e explicita de obrigatoriedade de “estarmos bem”.
Naturalmente, qualquer pessoa gosta de se sentir bem. Mas esta sensação deverá ser natural, ou seja, deverá ser de acordo com os níveis de realização de cada um. Se uma pessoa se sente realizada ou sente que está no caminho certo em áreas como o eixo amoroso, profissional, familiar, de amizades e existêncial (o sentido que dá à sua vida) então é natural que se sinta bem.
A vida é dinâmica e existem sempre áreas em que sentimos maior ou menor realização. O eixo amoroso pode estar fantástico e o profissional péssimo e tal poderá não impedir que uma pessoa se sinta relativamente bem.
Mas existem situações em que o “tá-se bem” ou o “sorriso” não fazem qualquer sentido, nem têm que fazer. O problema está na dificuldade em vivenciar estas emoções. Parece que esta sociedade defensora do ultrapositivismo não deixa espaço para a partilha e a intimidade da expressão de estados de tristeza, zanga ou dor interior profunda. E esta é uma questão séria e que deverá merecer a nossa reflexão.
Quantas vezes é que só no sossego, no conforto e no segredo do nosso quarto é que somos nós, na autenticidade da nossa expressão emocional, sobretudo em períodos de dor e de ansiedade?
Muitas vezes, a censura a emoções como a tristeza ou a zanga começa desde a mais tenra infância em que estas emoções não são devidamente legitimadas e são impostos níveis de hétero-censura pelos pais e educadores. A criança aprende que não deverá estar triste ou zangada e não aprende verdadeiramente a sentir e a gerir estas emoções. Estas não aprendizagens muitas vezes têm pesados custos ao longo da vida justamente em períodos em que deveria existir a legitimidade para dizer “tá-se mal”.
A criança vai aprendendo a não gerir interiormente a tristeza e a zanga e depois é lançada numa sociedade onde a partilha da tristeza é, de certo modo, censurada…
Este é verdadeiramente um dos dramas da sociedade actual. Parece que não há espaço e compreensão para um olhar triste e vazio ou a ausência de um sorriso. Todas estas manifestações emocionais criam incómodo e embaraço e são olhadas de lado.
Se alguém se sente triste ou zangado, sorrir e fingir que está tudo bem só levará a uma maior acumulação de tensão.
Outra das consequências desta censura colectiva é o de a própria pessoa entrar em processos de relativização e de auto-ilusão perante o seu mesmo sofrimento “Se os outros dizem que está tudo bem e que eu tenho é de sorrir, então se calhar até não estou assim tão mal”.
A negação do sofrimento. O não dizer “tá-se mal”, o não ouvir as nossas emoções traz consequências…
O que acontece quando não ouvimos as nossas emoções?
Se não ouvimos as nossas emoções, então poderemos correr o risco de perpetuar ciclos de mal estar físico e psicológico. O nosso corpo começará a “guinchar” com dores de cabeça, tensão acumulada nas costas, taquicardias, úlceras, sensações de vómitos e mal-estar abdominal entre muitos outros sinais que a sabedoria do nosso corpo usa para sinalizar a gravidade da situação.
O maior erro é ignorar estes sinais e fingir que “tá-se bem!”. Por vezes devemos dizer “tá-se mal” e perceber que o “smile” interior não está disponível. É a consciência do nosso sofrimento que conduzirá à procura da mudança.
Se o seu corpo dá sinais de que “tá-se mal” ou se anda zangado, ansioso ou triste continuamente então seja verdadeiro consigo mesmo e assuma que “tá-se mal” e procure ajuda psicológica!
Vale a pena pensar nisto!
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Dada a era das novas tecnologias que vivemos, é interessante verificar que cada vez mais serviços, e por isso também relações, são criadas e mantidas através de novas formas de comunicação e inclusive que mesmo muitas relações amorosas são iniciadas e alimentadas on-line.
É de facto cada vez mais frequente verificar que os novos meios de comunicação, como o facebook e mesmo sites para se encontrar parceiros, possibilitam verdadeiros namoros on-line, que por vezes permitem a sua continuidade para relações off-line.
De facto, as relações on-line preenchem funções importantes, também semelhantes às relações off-line: permitem a redução de ansiedade e expressão de emoções e por isso promovem o bem-estar.
No entanto, tem sido interessante verificar como muitas das pessoas que namoram on-line se sentem muito satisfeitas com a sua relação, inclusivamente com a forma como sentem que se revelam ao outro e sobretudo com a forma como se sentem compreendidas.
De facto muitas pessoas revelam que se sentem pessoas mais abertas e comunicam de forma mais aberta nestas relações on-line, o que pode ser explicado por dados que indicam que a experiência de anonimato promove a auto-revelação.
No entanto, há algo que me parece ser significativo para as pessoas que acompanho que iniciaram relações desta forma. Para além da satisfação da experiência de enamoramento que estão a viver, revelam satisfação pelo possibilidade de auto-conhecimento acerca das resistências específicas ou dos bloqueios próprios que não lhes permitiam a manifestação de afecto ou a possibilidade de o receberem, ou mesmo a descoberta de necessidades próprias que acabam então por ser possibilitadas por este tipo de encontro, independentemente de serem pessoas que já tinham ou não tinham tido relações satisfatórias no passado de forma off-line.
No entanto, estas relações têm também características particulares, devido ao meio de comunicação pelas quais são mantidas, sendo uma delas, a facilidade do encontro com alguém com as características desejadas.
Para além do debate (ainda que muito relevante), se as pessoas estão a comunicar com a pessoa ou com “o outro idealizado”, a verdade é que, de forma mais acessível, há um encontro com alguém que corresponde de facto ao “outro idealizado”.
Se a fase do enamoramento é a fase por excelência da idealização em qua a fantasia ocupa um espaço volumoso, as relações on-line, parecem-me ter necessariamente esta componente intensificada.
Por isso a grande questão que surge é se quando as relações on-line passam a off-line, a ligação conseguida mantém-se, ou o estado conseguido não é forte o suficiente para permanecer ON e passa a OFF ?
Autor: Pedro Garrido
Psicólogo Clínico
“O meu filho não dá trabalho nenhum”
Este tipo de verbalização quando estamos a falar de um adolescente pode ser sinal de alerta. Partindo do pressuposto que a adolescência é um período de ebulição, trazendo consigo uma serie de alterações na forma como o próprio vive a realidade, a não exteriorização destas características podem indicar algumas pistas para alguns problemas:
Uma avaliação acaba por não ter um custo emocional e financeiro elevado e pode evitar problemas que podem assumir dimensões permanentes ou de um processo difícil de tratamento.
Já falou com o seu filho hoje?
Autora: Vanessa Damásio
Psicóloga Clínica
A crise económica e financeira mundial está na ordem do dia, e está presente na vida e na mente de cada português, que se vê afetado em todas as áreas da sua vida. O desespero cresce dentro daqueles que não podem viver mais o sofrimento de sobreviver com pouco ou quase nada, ou porque estão desempregados, ou têm dívidas, despesas, ou porque não conseguem sequer alimentar as suas famílias. Na sequência destas necessidades básicas acresce a necessidade de alimentação emocional com atenção, segurança e conforto, para que cada pessoa se possa sentir protegida, cuidada e estável.
Observa-se assim uma diminuição da estabilidade emocional e afetiva das pessoas, que se reflete claramente nos seus comportamentos. Cria-se uma sensação de impotência e desmotivação na população em geral e parece não existir alternativas. As pessoas sentem-se zangadas, com raiva e profundamente tristes. Consequentemente parecem evidenciar-se comportamentos e estados de ansiedade, apatia, dependência e depressão, e as patologias e perturbações mentais vão-se desenvolvendo concomitantemente.
A crise está efetivamente presente na vida das pessoas a vários níveis e, como tal, vem repleta de mudanças, transformações, às quais se cria uma necessidade de adaptação. Quando estas crises são repentinas, instala-se o choque e o caos, a falta de rumo, a desesperança, a confusão, o medo seja a que nível for, familiar ou pessoal, profissional, comunitário ou mundial, económico ou financeiro.
Cada crise, à sua maneira, é geradora de uma sensação de incerteza e também de um certo descontrolo sobre o que o futuro reserva, o que poderá ser assustador e criar muita ansiedade.
Mas, as crises são também oportunidade, especialmente quando se consegue agarrar e acreditar nos recursos que se possui e redescobri-los nestes tempos, poderá ser uma alavanca para novas criações, novos passos motivados pela esperança e confiança dentro de cada um.
Os psicólogos são “especialistas das crises” e como “cirurgiões de emoções”, que reconetam ligações emocionais, cognitivas e comportamentais perdidas, confusas ou bloqueadas pela crise, os psicólogos tentam aliviar a dor destas emoções em cada pessoa.
A realidade social, económica, familiar e pessoal não pode ser alterada ou apagada, mas a forma como está a ser vivenciada e sentida pode ser, então, aliviada através de terapia psicológica, como uma boa ajuda para estas crises e realidades internas de cada pessoa em sofrimento.
Autora: Tânia da Cunha
Psicóloga Clínica
O comportamento dos familiares e amigos reveste-se de grande importância na tentativa de ajudar o doente deprimido. De modo geral, a depressão não surge de repente, vai-se desenvolvendo despercebidamente durante um longo espaço de tempo, mas, mais tarde ou mais cedo, acaba por se reparar que algo não está bem. E agora, o que fazer?
- É fundamental ter muita paciência: Mesmo que tenha dificuldade em entender, por detrás do comportamento de alguém deprimido não há preguiça nem intenção de sobrecarregar os outros. Bem pelo contrário, o doente depressivo sente um enorme desejo de se libertar o mais rapidamente possível do seu estado.
- Prudência: A pessoa que está mais próxima tem de estar envolvida no processo, mas tem de pensar também em si própria, caso contrário acabará igualmente por precisar de ajuda. A compreensão com o outro é adequada mas é preciso estabelecer limites de forma a proteger-se.
- Estimule o doente a consultar um médico: Quando a pessoa que está mais próxima do doente constata que ele está cada vez mais deprimido, não deve hesitar em aconselhar-se com um médico ou com um psicoterapeuta, mesmo que não seja essa a vontade dele. Quanto mais cedo falar com o doente sobre o assunto e o convencer a tratar-se, melhor será.
- Não desista: Quem está deprimido tem tendência para isolar-se cada vez mais, e frequentemente dizem até que querem que os deixem em paz. A insistência pode ser prejudicial, mas pode tentar arranjar sempre novas propostas de atividades para praticarem em conjunto, por exemplo um passeio que possa proporcionar alguns momentos de prazer a ambos.
- Apenas o médico ou o psicoterapeuta têm preparação para o tratamento: Os familiares e amigos do doente não podem tentar substituir o médico. Não é esse o seu papel, nem têm a preparação necessária para o fazer, nem mesmo o distanciamento profissional que permite uma saída segura para vencer a depressão.
Autora: Tânia da Cunha
Psicóloga Clínica
Mencione que está deprimido e todos saberão do que está a falar. Sentir-se em baixo, infeliz, negativo, oprimido, sem valor – todos estes sentimentos são sintomas do que geralmente é designado por depressão.
A depressão pode ser uma condição séria e ameaçadora da vida, é um problema que afeta todo o corpo, com raízes bioquímicas e emocionais. Com sintomas como a tristeza, fadiga, sono, perturbações do apetite, medos, preocupações, decréscimo do desejo sexual, dificuldades de concentração e sentimentos de desespero, pode constituir um problema sério se não for tratada.
Seguem-se algumas sugestões com o intuito de o ajudar a desenvolver estratégias em relação à doença e questionar novas atitudes:
- Em vez do caos, um programa diário: Quem conhece o caos que implica estar deprimido, bem sabe que existe uma enorme dificuldade em estruturar o seu dia-a-dia. É característico desta doença o facto de determinadas atividades, anteriormente realizadas com prazer, passarem a ser difíceis ou até mesmo impossíveis de realizar. Experimente anotar as várias tarefas a desenvolver ao longo de um dia normal, sem esquecer de registar as horas a que devem ser cumpridas. Não queira exigir de si próprio tarefas exageradas. De início, basta fazer uma pequena coisa de cada vez.
- Recompense-se a si próprio: Na depressão é preciso recuperar o prazer da vida. Neste sentido, no programa diário acima sugerido, inclua não só as obrigações mas também aquelas pequenas atividades que anteriormente lhe proporcionavam prazer, tente planifica-las com horários fixos e com regularidade, para que tornem a ser sentidas como atividades positivas.
- Evitar o isolamento social: Na depressão há uma tendência para vivenciar a sensação de ser incompreendido por toda a gente, o que poderá implicar a quebra de relações significativas e inevitavelmente deparar-se com o isolamento. Lembre-se que o isolamento social nada tem de benéfico, pode até agravar a sua situação. É importante continuar a cultivar os contactos antigos, mesmo aqueles que lhe pareçam superficiais. Fale com as pessoas que o rodeiam sobre os seus receios e preocupações.
- Deixe extravasar os sentimentos: Há pessoas que não se importam de exprimir abertamente os seus sentimentos e emoções. Mas há outras que são mais reservadas e como que se fecham em si mesmas. Na depressão, pode ser um alívio dar livre curso às emoções, visto que assim diminui a tensão interior.
Bem sei que o caminho a percorrer não é fácil, mas não tem necessidade de o percorrer sozinho, procure um profissional para o ajudar.