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Reacção a anti-depressivos

por oficinadepsicologia, em 09.06.10

Autora: Isabel Policarpo

Psicóloga Clínica

 

Embora o tratamento com anti-depressivos deva ter uma duração de pelo menos seis meses após a remissão dos sintomas, diversos estudos têm evidenciado que uma percentagem elevada de pacientes – até 38%, tratados com anti-depressivos do grupo dos SSRI, actualmente os mais prescritos (paroxetina, fluoxetina, fluvoxamina, citalopram, escitalopram, sertralina, e doses baixas de venlafaxina) apenas adquire uma embalagem do medicamento na farmácia, donde se conclui que muitos pacientes descontinuam o tratamento, muito antes da duração mínima recomendada.

 

Que razões podem estar associadas a esta não-aceitação? Haverá algum perfil de paciente e/ou algumas características associadas à mesma?

Um estudo levado a cabo recentemente revelou que a adesão à medicação não está relacionada com a escolha do fármaco, dado não se registarem diferenças significativas entre os que aderiram à terapêutica e os que não aderiram, em função do tipo de SSRI prescrito. Igualmente não se verificaram diferenças no que respeita ao número de pacientes que reportaram um ou mais efeitos adversos, entre os que aderiram e os que não aderiram à terapêutica, embora quem descontinuou a medicação tenha reportado muitos mais efeitos secundários.

 

 

Um número importante de não aceitantes, referiram contudo ter aversão ao uso de medicamentos. O medo dos efeitos secundários e a actual ocorrência dos mesmos, surgiram como as principais razões para a não-aceitação do tratamento com anti-depressivos. Dos pacientes que revelaram não-aceitação, detectou-se que 30% nem sequer iniciaram o tratamento, enquanto 70% descontinuaram o tratamento após duas semanas. Mais de metade destes doentes fizeram-no por sua iniciativa, sem sequer informar o médico.

 

Parece também haver uma diferença no que respeita à percepção da doença entre os pacientes e o médico. Com maior frequência os pacientes não aceitantes, ao inverso dos seus médicos, denominam os seus sintomas de stress e fadiga, discordando assim do diagnóstico do médico. Um em cada três não aceitantes cujo médico fez o diagnóstico de depressão, não sentiam estar deprimidos, isto é, a severidade que atribuíam ao seu problema era menor do que aquela que o médico considerava.

 

Este é um dado muito importante, dado que a adesão à terapêutica é menor quando os pacientes percepcionam que não precisam de ajuda medicamentosa ou que os seus problemas são menores, uma questão que ganha relevo neste contexto na medida em que a medicação psiquiátrica tende a ser considerada perigosa. Efectivamente, metade dos pacientes expressa preocupação pelos efeitos de longo prazo dos anti-depressivos, pelo que não os dispensa, se os considera desnecessários.

O estudo revelou ainda que a não aceitação é mais comum junto dos pacientes que apresentam um nível educacional mais baixo, dos pacientes com idades superiores a 60 anos, e ainda daqueles que reportaram sintomas inespecíficos como fadiga, stress e insónia para o uso de anti-depressivos.

 

 

 

A aceitação do tratamento com SSRI é um momento decisivo do processo de adesão ao tratamento iniciado pelo médico e que merece mais atenção, sem o qual o risco de não aceitação é elevado sobretudo junto dos grupos de risco de não aceitação.

Os profissionais de saúde e o médico em particular deveriam fazer um esforço para garantir que os pacientes com menor nível educacional e mais velhos percebem as mensagens educativas essenciais do uso de SSRI.

Os pacientes que iniciam o tratamento com SSRI precisam de ultrapassar diversas barreiras. Receber a primeira prescrição para um anti-depressivo pode ser considerado um evento perturbador e desagradável. Durante a consulta inicial, os pacientes que estão deprimidos podem ter dificuldades em absorver a informação cedida pelo médico. Acresce que após o início do tratamento diversos efeitos adversos podem ocorrer, muito antes de quaisquer melhoras serem percebidas pelo paciente.

Os SSRI podem causar efeitos indesejáveis e desagradáveis como problemas gastro-intestinais, palpitações, tonturas e insónias, que podem ocorrer poucas horas após a toma, enquanto são precisas diversas semanas até o paciente começar a sentir melhoras e o efeito terapêutico dos fármacos. Ter conhecimento deste fenómeno pode ser crucial para os doentes tolerarem as primeiras semanas de tratamento.

 

É importante conhecer as crenças e as atitudes dos doentes face aos fármacos e o modo como interpretam os seus sintomas, bem como em que medida acreditam que os SSRI os podem ajudar. Os médicos deveriam pois perguntar aos seus pacientes como interpretam os seus sintomas e em que medida acreditam que a prescrição de SSRI pode ser útil no tratamento dos seus sintomas.

As crenças e as atitudes dos pacientes em relação à medicação são importantes factores preditivos do uso apropriado de anti-depressivos e devem pois ser considerados. As perspectivas do doente sobre o tratamento são essenciais na compreensão dos comportamentos relacionados com a saúde e promotores da mesma.

 

O medo dos efeitos adversos, que pode impedir os pacientes de iniciar a medicação anti-depressiva pode ser causada pela informação do folheto que acompanha o medicamento, que pode causar ansiedade, isto não significa contudo que essa informação não deva ser dada ao paciente, mas pelo contrário. Discutir previamente os efeitos adversos no início e durante o tratamento encoraja a iniciação e a continuação do tratamento. De facto os pacientes que retiveram da visita inicial algumas mensagens educativas foram mais capazes de continuar o tratamento durante o primeiro mês de tratamento.

 

Em síntese a prescrição de anti-depressivos, deverá ser cada vez mais entendida como uma decisão partilhada entre o médico e o paciente no âmbito de uma relação de confiança, capaz de evitar ou minimizar a descontinuidade do tratamento; particular atenção deve ser dado às populações menos aceitantes.

 

publicado às 13:03


5 comentários

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De A.L a 10.01.2011 às 15:48

Bom tarde,
Tenho 24 anos, aos 20 tive ataques de pânico e foi-me administrada a paroxetina..Talvez por falta de um bom acompanhamento médico tomei-a durante 4 anos mas no inicio de 2010, por iniciativa propria deixei de tomar gradualmente..os efeitos eram terriveis dada a dependencia criada. Actualmente, e infelizmente por maus profissionais de saude que existem quer de clinica geral quer de psicoterapeutas que não sabem o que fazem caí numa depressão. IniciaLmente esse médico passou-me o Aurorix, e enviou-me para psicoterapia dado entender que tinha de trabalhar as minhas emoções por falta de desejo sexual que sentia e que me levava a pensar que não gostava do meu namorado. Passei por tomar depois Venlafaxina, Mirtazapina mas nas consultas de psicoterapia nada se resolvia. Sofri muito porque nestas consultas brincaram com as minhas emoções, dizendo que não era o homem da minha vida, que não existe nada melhor que o sexo entre um casal entre outras coisas que nem vale a pena citar..
Isto só para dizer que finalmente, com a ajuda dos meus pais procurei um bom psiquiatra, estou a ser tratada neste momento com fluoxetina mas reconheço que se alguem deprimido ler o folheto poderá sentir-se pior..mas desenganem-se..Para nos curarmos temos de passar para alguns desconfortos que são passageiros e duram apenas nos primeiros dias.
A quem está deprimido e ler este comentário, por favor tomem o que o médico especialista vos manda, não tenham medo e não parem de tomar se sentirem melhoras..as consequências desse acto podem ser muito graves..
Choro muitas vezes, só tomo fluoxetina à 5 dias porque o psiquiatra mudou a medicação mas acredito que apesar dos enjoos que possa ter tudo irá mudar..
Meus caros, o que preferem: Sofrerem por estarem com uma depressão e nada fazer ou passar por alguns efeitos secundários mas que sabem que vos vais ajudar a sair desse mal?
Pensem bem antes de desistir..só tenho 24 anos, sou muito jovem e acreditem que não existe nada pior do que não ter experiência de vida e ser apanhado por uma doença como esta..

Cumprimentos e parabens pelo post!
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De A.L a 24.09.2012 às 23:37

Olá Patricia,

Não sei bem como te responder mas quando leres apenas te quero dizer que por ter seguido exatamente o que o meu psiquiatra me receitou (atualmente anafranil) e por NUNCA voltar a cai no erro de deixar de tomar por vontade própria, me encontro muito melhor...Sim já passa um ano e meio, parece muito, mas vamos tendo altos e baixos..Deixo te aqui um conselho: não deixes a medicação e se necessário apresenta baixa médica..são situações que precisam de tempo mas que tem de se lutar todos os dias..
Tudo a seu tempo passará..quando deres por ti, vais ver que a tempestade passou..
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De raquel a 22.08.2012 às 13:36

Obrigada pelas palavras Joana. Tive distúrbio de pânico com 16 anos e hoje tenho 31. Continuo com pânico, ansiedade, depressão. Entre a minha resistência à medicação (o irónico é que me licenciei em psicologia) e os maus profissionais que fui encontrando o problema foi-se arrastando até chegar aqui. Há 1 semana comecei com a fluoxetina e estou a passar um mau bocado: aumento de ansiedade e paranóia principalmente e enjoo. Mas acredito que irá diminuir com o tempo e que este fármaco me poderá ajudar.
Este post é já antigo, assim que te pergunto como foi no teu caso, ajudou?

Raquel
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De oficinadepsicologia a 25.08.2012 às 18:14

Cara Raquel,
toda a investigação relevante na área demonstra que a maior eficácia nas problemáticas de depressão, ansiedade e pânico residem na complementaridade entre medicação psiquiátrica e psicoterapia. É importante sermos agentes activos no nosso processo de mudança e isso implica, por um lado, compreendermos que medicação nos é prescrita, com que intuito e durante quanto tempo de forma estimada para nos implicarmos na sua toma regular, e por outro lado, iniciarmos um processo psicoterapêutico onde possamos nos olhar de dentro para fora num contexto seguro e no âmbito de uma relação de confiança, quebrando padrões de comportamento, optimizando fragilidades de personalidade e desenvolvendo estratégias para lidarmos com nossas dificuldades.
Qualquer pessoa pode desenvolver uma problemática de depressão ou ansiedade, quer seja psicólogo ou tenha outra profissão. Nestes momentos, é um desafio extra afastarmos um conjunto de possíveis preconceitos e irmos em busca de ajuda.
Estaremos disponíveis caso sinta que lhe podemos ser úteis de alguma forma.

Um abraço,
Filipa Jardim da Silva
Oficina de Psicologia
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De Jose Santos a 12.09.2012 às 16:01

Concordo plenamente com o artigo publicado. Sou um doente que sofre de ansiedade há já oito anos, sou plena mente aceitante de toda a medicação que me é receitada (anti-depressivos e ansioliticos), embora não note grandes melhoras. Acho que os psiquiatras por que já passei não têem algumas palavras para com os doentes, limitando-se apenas a receitar a medicação.

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