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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Email recebido
Boa Tarde,
Li um artigo seu e gostei muito, quando fazia uma pesquiza sobre conselhos acerca de varias questoes com que me tenho deparado na minha vida.
Uma delas e a qual não encontro nada escrito é sobre como lidar com a seguinte situação:
Sou divorciada e tenho 2 filhos.
Este verão por intermedio de um amigo conheci um homem. Faziamos em grupo programas divertidos tais como jantar fora e sair á noite.
Entretanto começou a surgir a vontade de estreitarmos o conhecimento e envolvemo-nos. Haviam alguns comportamentos algo estranhos nele e entretanto confessou que era casado, no entanto tinha muito tempo disponivel e dava-me atenção. Pensei que estaria a divorciar-se.
Dois meses depois, quando a situação já me estava a incomodar, decidimos conversar seriamente na proxima vez que estivessemos juntos. Dois dias depois recebo a noticia do meu amigo que nos apresentou que a mulher do homem com quem eu me estava a relacionar tinha morrido. Estava internada com cancro já ha varios meses e faleceu.
Passaram outros dois meses e continuamos envolvidos, sei muito pouco pois é uma pessoa fechada e fala pouco. Eu estou a lidar algo mal com a situação pois sinto que não é possivel ele estar bem e realmente se envolver comigo tendo em conta toda esta situação. Ele tem uma filho de 11 meses o que torna tudo ainda mais dramatico.
Não posso deixa-lo neste momento, mas custa-me muito não ser a mulher em quem ele pensa á noite e de quem tem saudades!
O que posso fazer?
Não me parece que seja caso para recorrer a um psicologo, pois não acho ter problemas, mas gostaria que me aconselhasse.
Obrigada
Resposta
Cara M.,
Encontra-se, de facto, numa situação que vai exigir toda a sua sensibilidade. O seu parceiro parece estar a debater-se com emoções difíceis e que vão exigir algum tempo a ser integradas, e não facilita o facto de ser uma pessoa reservada. No entanto, o facto de manter a relação consigo indicia que deve sentir que esta é uma relação reparadora que o ajuda a encontrar bem-estar.
Pelo seu lado, existe o desconforto com o facto de desconhecer o que se passa emocionalmente com ele e a própria situação, pouco habitual, e de difícil gestão. Contudo, pelo que diz, trata-se de uma relação que a satisfaz e não parece ter indicadores de mal-estar que se possam atribuir ao funcionamento de ambos - apenas a um facto a que é alheia.
Se, efectivamente, valoriza esta relação, seria importante deixar o tempo passar, e ir observando como se sente e como observa o evoluir de ambos. Ainda que lhe doa saber-se pontualmente num segundo plano, há um luto que ele tem de fazer e isso ocupa tempo mental e emocional, sem que isso signifique qualquer desvalorização do investimento afectivo que ele possa estar a fazer em si e na vossa relação. Dê-lhe espaço emocional para ele encontrar os seus próprios significados e para que as emoções assentem e respirem - mantenha a atenção no viver a dois quotidiano, na intimidade partilhada, na construção dos pequenos pormenores que compõem uma relação afectiva, no riso da partilha dos bons momentos e no sorriso carinhoso que fundamenta uma boa relação. Com o tempo, estou certa de que encontrará as respostas necessárias.
Abraço,
Madalena Lobo
Psicóloga Clínica