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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Tânia da Cunha
Psicóloga Clínica
A psicoterapia infantil tem como objectivo ajudar a criança e os pais e/ou cuidadores, quando alguma coisa não está bem no desenvolvimento emocional ou social da criança.
O objectivo do terapeuta infantil e da terapia não é fazer crianças bem-educadas, nem que se adaptem a todas as fantasias, expectativas e sonhos dos adultos, nem mesmo que sejam os melhores da turma.
O objectivo da terapia pretende que a criança se vá realizando como pessoa, e que vá desenvolvendo as suas potencialidades e os seus próprios valores.
Evidentemente, os pais são muito importantes no processo terapêutico, mas sempre com a atenção focada na criança, que é protagonista da intervenção.
Problemas Específicos
Comportamento Agressivo
A agressividade pode resultar da ausência de estratégias para lidar com o ambiente que lhe provoca raiva e medo, frequentemente associado a sentimentos de ira, rejeição, insegurança, ansiedade, mágoa, sentido de identidade difuso, fraca auto-estima, incapacidade de expressão emocional.
Raiva
A raiva é emoção muito temida, ameaçadora, suprimida, geralmente o bloqueio mais profundo que impede o senso de totalidade e bem-estar da pessoa, esconde geralmente um sentimento de mágoa.
A energia gasta para contenção do sentimento desencadeia comumente contracções musculares e dores (de cabeça, barriga, no peito), inibe a capacidade de concentração e origina muitas vezes comportamentos inadequados.
É necessário criar um espaço em que a criança pode exprimir raiva de forma segura, permitir que a criança esteja consciente da raiva, a conheça e assuma como sua, para que não fuja ao sentimento nem o exprima de forma indirecta/nociva.
Hiperactividade
Frequentemente é uma problemática associada a dificuldades de aprendizagem, competências perceptivas inferiores, dificuldades de coordenação motora. Os estímulos do ambiente podem desencadear na criança confusão, estas características provocam respostas por parte dos pares e adultos que contribuem para manutenção das dificuldades e, muitas vezes, levam a uma pobre auto-imagem.
Em psicoterapia pretende-se dotar a criança de maior capacidade para dar-se conta de si e do outro. A abordagem farmacológica é eficaz na mudança de comportamento, mas não permite à criança aprender novas estratégias para lidar com o mundo.
Timidez
Geralmente a criança só vem a terapia quando este comportamento adquire proporções maiores (criança não fala ou sussurra, não experimenta coisas novas, solitária, sem amigos).
Em terapia é comum que esta criança sinta que não tem nada a dizer. O seu silêncio pode ser também uma forma de se manter em segurança, tem dificuldade em exprimir sentimentos (tanto de afecto como de raiva) e procura ocultá-los para se proteger da rejeição e da mágoa.
Neste sentido, é importante respeitar o espaço da criança, não a forçando a falar. Podem ser usadas técnicas expressivas, muito úteis com estas crianças, através delas a criança pode começar a comunicar, sem ter que abandonar o seu silêncio.
Medos
As crianças aprendem a omitir os seus medos, algumas vezes com o objectivo de agradar ao pais porque estes “gastam muita energia explicando e desconsiderando” os seus temores, em vez de os reconhecer, aceitar e respeitar.
A criança pode temer situações específicas ou medos vagos e indiferenciados.
Os medos podem resultar de situações traumáticas ou de uma sensação de fraqueza, impotência ou desprotecção (da própria criança ou de outro a quem a criança gostaria de poder cuidar).
Situações de Tensão/Trauma
Exemplo de situações de tensão ou trauma podem ser: divórcio dos pais, doenças graves, abuso sexual, acidente, catástrofes naturais, etc. Frequentemente tornam-se assuntos tabus nas famílias como tentativa de protecção mútua. Estes acontecimentos precisam de ser trazidos à luz e falados, o que proporciona que sejam melhor ultrapassados, só o falar origina muitas vezes uma dessensibilização ao tema. Isto pode ser feito por meio de reencenação simbólica e/ou técnicas expressivas.
Sintomas Físicos
Revelam uma necessidade que está a ser contida de expressar sentimentos ou necessidades, podendo manter-se como um pedido que a criança faz ao adulto (ex. atenção).
Em contexto terapêutico podemos ajudar a criança a experienciar o seu corpo e sintoma o mais possível, auto-monitorização do sintoma e das sensações associadas, concentrar a atenção no sintoma, desenho do sintoma, lista “eu sou...”, exercícios corporais (respiração, meditação, movimento, jogos).
É fundamental ajudar a criança a encontrar outras formas de expressar o que estiver a sentir necessidade de expressar.
Insegurança
Sinais de insegurança, toque e abraço excessivo, agrados excessivos, necessidade constante de aprovação, tranquilização por parte do adulto, pode ser indício de uma criança que sente que existe apenas em estado de confluência com o outro.
A criança com estas características não se permite experienciar a sua capacidade de se zangar, discordar, porque teme a rejeição por parte do outro.
É importante que a criança se percepcione como um sujeito distinto e separado dos outros, tenha consciência de si mesma e seja capaz de manifestar sentimentos, pensamentos e ideias próprias.
Isolamento
A criança que se isola, habitualmente quando surge em terapia, está relacionado com outros sintomas que também se manifestam, como teimosia e brigas, comportamento agressivo e anti-social, hiperactividade, fraco rendimento escolar, ou grande retraimento. A maioria das crianças que se isola, gostaria de se aproximar dos outros mas tem medo ou não sabe como fazê-lo. Então é importante que a criança se sinta respeitada e aceite como é, na sua individualidade.
O trabalho terapêutico passa por um reforço de auto-estima e de auto-identidade contribuindo que a criança se fortaleça e queira, depois, e pelos seus próprios meios, procurar os outros.
É importante que a criança recupere a sua capacidade de se experienciar plenamente a si própria, de viver no aqui e agora – em vez de se prender a estes sentimentos de desamparo.
Auto-Estima; Auto-Conceito E Auto-Imagem
O desenvolvimento da auto-estima, auto-conceito e auto-imagem é determinado em grande medida pelas mensagens que a criança recebe dos outros (pais) em relação a si, a criança recolhe também do ambiente dados que confirmem estas mensagens dos pais, e acrescenta ainda o seu próprio material fantasioso.
Alguns comportamentos que podem indiciar uma baixa auto-estima: choramingar, necessidade de vencer, trapacear em jogos, perfeccionismo, “gabarolice”, distribuir doces, brinquedos, procurar formas de chamar a atenção.
As crianças com baixa auto-estima precisam de actividades que envolvam experiências com os sentidos, focalizando as diferenças e semelhanças entre elas próprias e outras pessoas, objectos, animais, vegetais. A consciência destas diferenças contribuirá para que se percepcionem com novo apreço, passando a entrar em contacto com os outros sob este novo prisma.
Em jeito de conclusão, o terapeuta de crianças pode ser visto como um Eu auxiliar que é modelo, acompanha, guia e organiza o vivido no processo terapêutico, levando a criança a experimentar novas formas de enfrentar os problemas, alcançando um maior grau de auto-apoio.