por oficinadepsicologia, em 28.12.10
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
A realidade lá nos vai obrigando à construção de novas palavras que nos permitam falar sobre ela... Absentismo é quando você não está lá; presentismo é quando está, mas em más condições – pessoas menos produtivas no trabalho por razões de saúde (como, por exemplo, depressão, asma, alergias, dores de costas). Dito isto, justificou-se a necessidade de uma palavra nova, desde que começaram a surgir estimativas que apontam para custos de produtividade três vezes superiores aos do absentismo.
Muitos de nós passamos uma componente significativa da nossa vida profissional com níveis de produtividade muito abaixo da nossa média (para já não falar dos nossos níveis óptimos) pelos mais variados motivos. Na base, existe o esforço para estarmos presentes e o profissionalismo de quem sabe não estar bem mas entende dever manter o seu contributo – por vezes, igualmente, existe o medo de represálias, que empregos não existem assim tantos e a tolerância não é atitude abundante. No entanto, o rendimento ressente-se, a probabilidade de erros aumenta e as nossas defesas vão baixando no esforço de nos mantermos funcionais.
Não são decisões fáceis: passei metade da noite acordada, mal consigo ter os olhos abertos – vou já trabalhar ou aproveito para descansar mais umas horas e só trabalho à tarde, de cabeça mais fresca? Tenho uma dor em segundo plano, daquelas que nos deixa na fronteira do funcional, a um passo da irritação com o mundo, um capacete de nevoeiro que nos tolda a lucidez; insisto, trabalho, penso e decido ou afasto-me até que a clareza volte?
Num mundo perfeito, nenhum de nós teria dúvidas em se proteger e aguardar que recuperasse quando sentíssemos que não estávamos totalmente bem. Na prática, cerramos os dentes e aguentamos, porque… bem, porque tem de ser.
Pelo menos, e afastando-nos da lógica do 8 ou 80, em situações de mal-estar, podemos optar por um meio-termo que nos facilite a vida e mantenha níveis de produtividade adequados. Algumas dicas gerais:
- Repor o sono. Vivemos numa época que nos arrasta para vários falsos conceitos, ideias feitas que, além de erradas, são manifestamente contrárias à natureza humana. Uma delas prende-se com a desconsideração face às horas que passamos a dormir – socialmente aceita-se sem análise crítica que o tempo passado a dormir é quase um desperdício. No entanto, o sono é uma das bases neuro-psico-biológicas mais importantes dos fundamentos da vida e da saúde. De uma forma geral, e muito particularmente quando se sentir em baixo, defenda as suas horas de sono, guardando o tempo necessário para o repouso que o seu corpo/cérebro necessitam para um funcionamento pleno. E, quanto ao famoso “mas eu não tenho tempo”, descomplique! Aquilo para que, seguramente, não tem tempo é para estar doente, certo?
- Alimentação saudável. Garanta que tem diariamente uma alimentação rica e diversificada, longe de fast food e de restrições bem como de ofertas aparentemente muito interessantes mas, na prática, pobres do ponto de vista dos nutrientes que o seu corpo precisa para se manter saudável. O seu cérebro é um elevado consumidor da energia do que ingere e tudo o que precisa encontra-se numa alimentação equilibrada. Sabia que a dieta mediterrânica, base original da alimentação portuguesa, foi considerada património mundial pela Unesco?
- Exercício físico. O corpo humano foi “desenhado” para se mexer ao longo do dia. Claro, numa época em que não existiam computadores nem televisão… Mesmo que o ginásio esteja fora dos seus planos, existem muitas oportunidades para se mexer, gratuitas e possíveis dentro nas nossas limitações de tempo – use as escadas, em vez do elevador, estacione um pouco mais longe de casa ou do emprego e ande a pé, dê um passeio enérgico no tempo que lhe sobra da hora de almoço, dance enquanto prepara o jantar, levante-se para ir falar com aquele colega do andar de cima em vez de lhe telefonar. Bastam 30 minutos por dia de actividade cardiovascular, 4 a 5 vezes por semana, para ficar com um poderoso ansiolítico e anti-depressivo. Uma consideração: evite a prática de actividade física nas 3/4 horas que antecedem o momento de dormir, para não interferir na qualidade do sono.
- Intervalos, pausas e micro-pausas. Todos nós fazemos interrupções de uma forma instintiva e, mesmo que optemos pelo ascetismo, o nosso cérebro encarrega-se de fazer uma pausa por nós, diminuindo temporariamente a nossa produtividade e estado de alerta, pelo que não vale a pena contrariar este ritmo natural. De hora e meia em hora e meia, faça uma micro-pausa: 5 minutos para interromper a sua actividade e fazer algo que exija pouco das suas capacidades intelectuais e resulte repousante. Adicionalmente, ao longo do dia, vá reparando no seu padrão de desempenho – existem dois ou três momentos em que o ritmo corporal sofre um abrandamento; normalmente, depois da hora de almoço e por volta das 18 horas, além da hora em que se instala o sono. Aproveite estes momentos para uma pausa de 15/20 minutos – no limite, e se for tão ocupado que não pode tirar uns momentos para ir dar dois dedos de conversa, ler um pouco ou mesmo fechar os olhos uns minutos, pelo menos, use essas alturas para actividades que requeiram pouco de si, como ver a sua caixa de e-mails, arquivar documentos ou arrumar a secretária. Finalmente, faça pelo menos um intervalo de obrigações por dia, dedicando no mínimo meia hora a uma actividade agradável e relaxante, tranquila e longe de obrigações e de stress.
- Cuide de si. Qualquer condição física ou psicológica é susceptível de melhoria, mesmo que possa ser uma situação crónica. A depressão trata-se, a dor crónica é passível de ser significativamente melhorada com recurso a técnicas avançadas em contexto de psicoterapia, e, de uma forma geral, as condições médicas, além de um tratamento e/ou controlo correcto, podem ser acompanhadas em psicologia clínica para alívio do mal-estar associado que possa estar a ser inflacionado pela atitude subjacente. Procure ajuda, peça segundas opiniões, encontre a forma mais confortável para lidar com a realidade do seu dia-a-dia. A vida pode não ser perfeita, mas pode ser muito melhorada!