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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico
Terminei mais um dia de trabalho com a sensação de que o cansaço era superado pelo bem estar que penso ter ajudado a construir nos meus clientes. No entanto, havia aqui qualquer coisa que me deixava desconfortável. Parei então para pensar e, principalmente, sentir...
De forma espontânea, emergiu a palavra culpa. E todas as vezes que os meus clientes a referiram naquele dia. E sendo esta uma emoção tão intensa, apeteceu-me escrever-lhe sobre ela. Não que ela mereça atenção mas você sim e bem!
Pergunto-lhe agora: já se sentiu culpado(a) por alguma situação? Ou então, já sentiu culpa por não estar a sentir culpa após um evento? Ou ainda, já o fizeram sentir culpado por algo que tenha realizado (ou não realizado)? Acredito que tenha respondido afirmativamente a pelo menos uma das questões. A culpa está de tal forma enraizada na nossa cultura que é quase impossível fugir-lhe, parece até que faz parte de nós! Não o vou cansar com as origens desse facto, prefiro focar-me na sua solução.
A questão é que mesmo que tenhamos feito algo “negativo” perante nós e/ou perante outros, fizémos o melhor possível naquele momento. Não teve os melhores resultados mas agora é tão fácil constatá-lo. Faz lembrar uma aposta desportiva na vitória de um dado clube de futebol. Apostamos no clube que julgamos constribuir, em maior escala, para os nossos ganhos. Depois de sabermos o resultado final, é tão fácil sentir culpa por termos apostado naquele clube e não no outro. É também possível sentir culpa por, simplesmente, termos apostado um cêntimo que fosse.
Então e quando temos prazer com a vida? E a culpa que somos levados a sentir por isso! Quando andamos satisfeitos connosco próprios e com os outros, quando andamos felizes, quando atingimos aquilo que pretendemos ou quando temos algo ou alguém que nos faz bem ao corpo e ao espírito. Podemos e devemos aproveitar todo esse bem-estar, é um direito e um dever!
E já pensou no quanto “pesa” a culpa? Imagine-a a ser carregada por si no seu dia-a-dia como se fosse uma mochila com tijolos. Adorava ter no consultório uma balança apenas para pesar emoções, seria revelador! Em resumo, a culpa impede-nos de VIVER. Como se não fosse suficientemente preocupante por si só, combina-se com outras emoções poderosas (como o medo, a tristeza ou a vergonha) e paralisa-nos, literalmente. Quantos clientes já tive que passavam pela vida como meros observadores, deixando escapar as oportunidades “apenas” porque sentiam culpa de algum género. No máximo, teriam apenas responsabilidade pelo facto!
A culpa remete para o passado, desliga-nos do que realmente controlamos e podemos vivenciar activamente: o momento presente. O que penso AGORA? O que sinto AGORA? O que faço AGORA? O que preciso AGORA? Sim, aí mesmo onde está e neste preciso momento. Faça este pequeno exercício regularmente e irá ver como a vida ganhará um novo sentido. É que a culpa é de tal forma inútil que nos mantém presos ao acontecimento, impedindo a tomada de perspectiva e consequentes acções de melhoria. E quanto mais tempo passa, mais necessidades ficam por satisfazer: é um ciclo. Mas felizmente que também há ciclos positivos e que, espero eu, não sentirá culpa agora por ter lido este texto. Pelo contrário!