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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Ana Crespim
Psicóloga Clínica
É frequente ouvir algumas pessoas (ou quase todas) a queixarem-se do cansaço do trabalho, do chefe(a) que não para de chatear, do trânsito que têm de enfrentar todos os dias, etc., etc., etc. O problema é que, e por vezes infelizmente, nem todos se podem queixar do mesmo, embora dessem tudo para ter este tipo de “chatices”.
Não é segredo nenhum que o nosso país (e o mundo) está a atravessar uma crise marcada e que existem inúmeros desempregados. Todos os dias somos bombardeados com notícias nos jornais, telejornais e revistas, com fechos de fábricas, estatísticas, médias e números. Por detrás destes números estão pessoas, famílias, pequenos e grandes dramas pessoais ou colectivos, mascarados pelos inúmeros estudos que se têm realizado sobre o assunto.
Associados às dificuldades financeiras, aparecem muitos outros problemas, que agravam o quadro. Para quem responde a inúmeros anúncios, vai a uma série de entrevistas e ainda não conseguiu o seu “lugar ao sol”, os sentimentos de inutilidade, falta de préstimo ou valor, de incapacidade tendem a apoderar-se.
Método trevo de 3 folhas
Não é um trevo qualquer, é um trevo da sorte. Por isso, leia com atenção:
Primeira folha - Dê a si próprio o direito de “cair”
Sim, leu bem. Todos temos o direito de desanimar. Por vezes, de tanto tentarmos superar as coisas e não dar parte de fracos, passamos por cima das nossas necessidades e, mais tarde ou mais cedo, dos nossos limites.
Imagine um poço, fundo e estreito. Se cairmos para o poço e nos tentarmos segurar, vamo-nos cansando. Frequentemente, como a queda é pequena e não entramos muito fundo, conseguimos voltar para cima com mais ou menos força. Outras, além da queda ter sido maior, vão-nos caindo mais coisas em cima, que nos vão empurrando cada vez mais para baixo. Nós vamos aguentando e fazendo força para subir, mas… por vezes a carga é demasiado pesada. Quando isto acontece, se nos dermos a hipótese de cair, isto é, de ficar tristes e de o demonstrar, batendo no fundo do poço e ficando lá um pouco até recuperar as forças, por vezes é mais fácil ganhar balanço e subi-lo mais facilmente. O que eu quero dizer com isto é que é importante que respeitemos o que estamos a sentir. Isto de representar é tão cansativo… se estamos tristes, em baixo, não nos adianta muito fazer de conta que nada se passa – “aquilo” está lá e não vai desaparecer a menos que lide com isso. E para isso, muitas vezes temos que nos dar ao luxo de entristecer, para conseguir gerir e digerir o que nos está a acontecer. Respeite o que sente! Ouça o seu corpo e os sinais que ele lhe dá;
Segunda folha - Tempo de voltar para cima!
Depois de se dar a si próprio o direito de sentir o que está a sentir, importa perceber o que pode fazer para deixar de se sentir assim e recuperar a sua alegria de viver. Nem sempre é fácil fazê-lo sozinho, por isso, o segundo passo passa muitas vezes por aprender a pedir ajuda. É vital que se consiga equilibrar primeiro para conseguir vencer o monstro do desemprego. Afinal, pense comigo: acha mesmo que vai conseguir tomar as melhores decisões, dar os passos certos em direcção ao que pretende, se não estiver bem? Pois… tudo é mais fácil quando estamos bem connosco próprios. Antes de olhar para os classificados, olhe para si primeiro. São sete cães a um osso, é verdade, mas ajuda estar bem para apanhar um ossinho e conseguir roê-lo em condições.
Fale com a família, com os amigos, partilhe as suas dúvidas e inquietações, descanse e faça algumas actividades que lhe dêem prazer, como ler um livro, beber calmamente um café, dar um passeio numa zona agradável. A verdade é que a tendência é para aproveitarmos todo o tempo disponível para encontrarmos um novo trabalho, quando nos devemos encontrar primeiro a nós próprios. Sim, falar é bonito, mas quem é que paga as contas nesse meio tempo? Não quero de forma nenhuma tentar pintar isto de cor-de-rosa, nem nenhuma das folhas do trevo, de que vos estou aqui a falar, tem um tempo definido. São só uma proposta para evitar o que muitas vezes acontece: a depressão;
Terceira folha – Preparem-se! Aí vou eu!
Hora de preparar currículos, ler os classificados, pesquisar na internet e tudo o que se consiga lembrar. Depois de ter tido tempo para cair, para se encontrar a si próprio e se fortificar, todos os possíveis “nãos” ou falta de resposta a candidaturas, não terão o mesmo impacto em si se não tivesse passado pelas duas primeiras folhas do trevo. Já sabemos que esta não é uma fase fácil, pelo que, quem explorou os seus recursos pessoais e sentiu o apoio de pessoas que o envolvem anteriormente, terá uma maior resistência à frustração de que muitas vezes se é alvo nesta fase. Faz-lhe sentido? Nada impede que seja invadido por sentimentos de desânimo e revolta volta não volta. Seria de estranhar o contrário. O que importa é que nada nem ninguém o leve a colocar em causa o seu valor.
Se há crise, que seja no país, no mundo, mas não dentro de si.
Pense nisto e… seja feliz!