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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Fala-se muito da interacção mãe-bebé nos primeiros tempos de vida como organizadora do psiquismo do bebé. O pai não tem um papel menos importante. Parece que os bebés ficam vinculados aos pais bem como às mães, mas outros indícios indicam que estas duas vinculações possuem algumas características diferentes. Estudos demonstram que é mais provável que os pais brinquem com os filhos do que as mães. Além disso, as suas brincadeiras são mais físicas e vigorosas, podem levantar e balançar os bebés ou lançá-los no ar. Ao contrário, as mães geralmente brincam de forma mais calma com os bebés e realçam mais interacções verbais do que as físicas. Em consequência, enquanto a mãe é aquela a quem é mais provável que a criança recorra para obter carinho e conforto, o pai é frequentemente o companheiro de brincadeira preferido.
Tânia da Cunha
Jamais me vou esquecer
Desse teu triste olhar
Ter dias certos para ser
Quando o único verbo é amar
Será que ninguém entende
Ou não querem enxergar
Que o coração não compreende
Dias marcados para estar
A privação da convivência
Deixa marcas no ar
Para fazer face às conveniências
De quem escolheu sem me consultar
Se eu quero estar contigo
E só amanhã isso terá lugar
O que faço com este castigo
A quem devo eu culpar?
Se somos livres de amar,
Porque é que me sinto preso,
A este desejo de te abraçar
Como conviver com este peso?
Que neste Dia do Pai, em que muitos de nós comemoramos uma presença diária, ao nosso alcance sempre que desejamos, não esqueçamos dos que sofrem por se verem privados de exercer a sua parentalidade, dos que são sujeitos a regras rígidas para poder usufruir de um momento com os filhos, de um momento com o pai. Ser pai não cabe num dia mundial, nem tão pouco num fim-de-semana de quinze em quinze dias, em que as horas parecem escorrer entre os dedos como areia, e a angústia do tempo marcado tantas vezes impede a vivência plena do momento presente.
Que estes dias mundiais não sirvam só e apenas como aliciantes ao consumismo desenfreado e tantas vezes vazio de conteúdo. Que sirvam também outro propósito: o de pensar sobre estes muros invisíveis que tantas vezes advêm dos divórcios, que separam pai e filho(a), que os tentam forçar a acreditar que existem dias marcados para se estar com quem se ama.
Neste como em outros temas, importa não deixar que a nossa felicidade nos cegue para a tristeza dos outros.
Pense nisto…
Ana Crespim
Procurar uma resposta para “o que é ser um pai” não é uma tarefa fácil. É um instinto? Um papel social? Uma decisão, se for o caso, a quem pertence? As clássicas experiências de etólogos com macacos recém-nascidos e separados das mães biológicas, cuja amamentação e “educação” foi entregue aos cuidados das “mães – manequins”, revelou mais tarde uma falta de instinto maternal e a agressividade excessiva nestas criaturas que batiam suas crias e recusavam alimenta-las. E no caso da separação do pai? Sobre este papel os etólogos não nos deixam muitas pistas.
Outras experiências, também com macacos, revelam algumas curiosidades sobre a paternidade que, segundo investigadores, se desperta depois da idade de adolescência e se expressa como uma espécie de “atitude de controlo / vigília” para que a mãe não abandone e não trate mal a cria, bem como uma atitude de defesa perante “inimigos” externos. Os machos ignoram manifestações agressivas vindas das crias (puxar a cauda, beliscar, morder, puxar as orelhas), algo que não se observa na relação com os “companheiros” adultos, e brincam mais que as mães.
Será que nos seres humanos existe algum sistema de programação de comportamento tipicamente paterno desenvolvido ao longo da nossa evolução? Ou na verdade, tudo o que está em causa, são necessidades de criança que precisam de ser satisfeitas, sem depender muito de quem irá alimentar, curar, educar, mimar, defender e desenvolver. E o que a presença de um pai pode introduzir é uma oportunidade de viver na presença diária de um homem, com toda a diferença que esta figura masculina pode marcar na vida de um (a) menino(a) / adolescente / adulto (a). A existência de um pai permite não perder o contacto com dualismo sexual natural e intrínseco à nossa existência humana. Vivência do ser pai é uma experiência emocionalmente muito intensa e devido ao espaço ainda bastante reduzido para expressão emocional masculina na nossa sociedade, sabemos tão pouco sobre ela. Gostaria de deixar um convite, para que os pais partilhem as suas experiências pessoais para descobrirmos algo mais sobre o que é ser um pai.
Irina António
Quando penso na “figura do pai”, vem-me à ideia a palavra austeridade. Lembro-me bem desses pais. Eram austeros no vestir – dentro dos seus fatos formais e sempre escuros. Eram austeros e parcos nas palavras – havia o “sim podes” e o “não podes”, que invariavelmente não era seguido de qualquer explicação. Eram austeros e rígidos nos gestos – o olhar e a movimentação das sobrancelhas era suficiente para sabermos o que era pretendido de nós. E até nas emoções e nos afectos eram austeros – o contacto mais que sentido era pensado, tudo era comedido e contido.
Hoje quando vou na rua adoro ver os pais nas suas camisolas framboesas e com os seus cascoís às riscas. Delicio-me quando vejo um pai de cócoras a falar com o filho ou a pegá-lo simplesmente às cavalitas. Fico emocionada, quando o não, que é tão preciso como o sim, vem seguido de uma explicação adequada ao tamanho, para não falar já da cumplicidade nas brincadeiras - afinal é a brincar que as crianças aprendem a ser e a crescer, e dos abraços que são dados à descarada e de forma abundante, porque afinal os mimos nunca são de mais!
Neste dia dedicado ao Pai,
Mergulhe no baú das memórias.
Enverede por caixinhas de mágicas recordações.
Sentados no chão. Aprendem-se as formas, que encaixam. Fazem-se compras num supermercado de cartão. Partilham-se jogos dos crescidos. Fazem-se obras de arte de materiais improváveis.
Na praia. Nascem castelos de areia construídos com paciência de pai. Jogam-se raquetes com entusiasmo de pai. Cruzam-se palavras e quebra-cabeças. Fazem-se longos passeios, na areia molhada, numa emboscada às mais extraordinárias preciosidades. Dão-se mergulhos e braçadas, numa sincronia entre pai e filhos.
Na escola… O apoio, o incentivo, o orgulho. Incondicionais.
Trilhos de vida percorridos numa conversa permanente com (um)a consciência, presente e conselheira.
Pai. Pilar que ampara. Lápis que esboça caminhos. Janela que abre para o horizonte infinito.
Querido(s) Pai(s),
“Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas, num grito, me ensinando tanto do mundo...
E esses passos lentos, de agora, caminhando sempre comigo,
Já correram tanto na vida,
Meu querido, meu velho, meu amigo
Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo,
Lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas, ao vento...
Sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo
Me calando fundo na alma
Meu querido, meu velho, meu amigo
Seu passado vive presente nas experiências
Contidas nesse coração, consciente da beleza das coisas da vida.
Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo
Eu já lhe falei de tudo,
Mas tudo isso é pouco
Diante do que sinto...
Olhando seus cabelos, tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo”
(Poema da Música: Meu querido, meu velho, meu amigo, de Roberto Carlos)
Helena Gomes