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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Isabel Policarpo
Psicóloga Clínica
Procrastinar é evitar um trabalho ou uma tarefa que tem que ser feita.
Procrastinar é um problema muito comum e está provado que a maioria dos estudantes é vulnerável à procrastinação. Geralmente há uma carga de estudo e/ou trabalho(s) para fazer, e a sensação que se tem é que independentemente do tempo que se possa passar a estudar, é impossível concluir o trabalho escolar. Por outro lado, para a larga maioria dos alunos somente uma pequena parcela do seu tempo é passada em aulas, pelo que uma fatia importante do seu tempo não é estruturada, sendo cada um responsável por decidir o que fazer e quando fazer.
Acresce que no ambiente universitário, em particular quando se reside numa residência de estudantes, há sempre coisas mais agradáveis para fazer do que estudar – isto é, muitas actividades competem pelo mesmo tempo, e o estudo é quase sempre relegado para último lugar.
Causas da procrastinação. Porque é que a procrastinação é tão forte?
Pobre gestão do tempo – A gestão inadequada do tempo pode ser uma das causas da procrastinação. De facto, nem sempre nos sentimos seguros em relação às nossas prioridades, metas ou objectivos. É fácil confundir urgência e prioridade – pelo que é frequente sacrificar a prioridade à conveniência, para realizar actividades que nos são mais confortáveis, convenientes ou interessantes, que a tarefa em questão.
Outras vezes sujeitamo-nos à tirania do urgente e incapazes de estabelecer prioridades, procuramos sair desse stress realizando tarefas que não são nem prioritárias nem urgentes. É frequente quem procrastina referir que uma determinada tarefa ficou para depois, porque apareceu outra coisa para fazer. Estabelecer fronteiras emocionais, dizer não a nós mesmos, limita a atenção à multiplicidade de distracções.
Por vezes sentimo-nos tão oprimidos com uma determinada tarefa, que ou procuramos adiar os nossos compromissos para depois, ou optamos por passar muito tempo com os amigos e em actividades sociais, ou excedemo-nos em preocupações com os exames ou projectos escolares que hão-de vir, em vez de os completarmos.
Falta de relevância. “ Isto é muito chato” – Se uma coisa não é importante para nós, ou é aborrecida ou desinteressante, é difícil estar motivado para a começar a tarefa.
Crenças negativas. Medo de falhar – Pensamentos do tipo “não sou capaz de realizar nada”, ou “ faltam-me as capacidades necessárias para efectuar esta tarefa”, podem conduzir-nos a não fazer aquilo que tem de ser feito. É comum confundirmos aquilo que somos, com os resultados que obtemos, isto é, podemos pensar que se não tivermos um 20 que somos uns falhados, ou que se não passarmos no exame falhamos como pessoas.
Problemas pessoais – Problemas financeiros, familiares ou com o(a) namorado(a) podem levar-nos a desfocar das tarefas que temos entre mãos.
Dificuldades de concentração – A organização do ambiente de trabalho pode influenciar a nossa concentração. As nossas distracções internas impedem-nos muitas vezes de trabalhar, como quando nos sentamos para trabalhar e começamos a sonhar, ou simplesmente a olhar para o espaço ao nosso redor ou para as fotografias do namorado(a). É difícil estar focado no trabalho se passamos a vida a levantarmo-nos para ir buscar isto ou aquilo.
Aceitação dos objectivos dos outros – Se um projecto nos é imposto ou delegado, mas não é consistente com os nossos interesses, podemos sentir relutância para despender tempo para o concluir.
Perfeccionismo – Ter standards irrealistas desencoraja-nos de prosseguir a tarefa, como por exemplo pensar que temos que ler todos os artigos que se escreveram sobre um tema antes de começar a trabalhar. A perfeição é inatingível.
Geralmente quem procrastina não se assume como perfeccionista - “ senão a tarefa já estaria pronta”, o que não é verdade. O perfeccionismo pode conduzir a “arranques e paragens” súbitas. O perfeccionista planeia e define deadlines, escreve e apaga, promete e toma resoluções, organiza-se e reorganiza-se –mas após este impulso tudo volta ao mesmo, o que pode levar à depressão e espírito crítico.
Estudantes que não se satisfazem com menos de “20” podem procrastinar numa tarefa, para se a nota obtida não estiver de acordo com os seus standards, eles poderem culpar a ausência de tempo ou a tarefa realizada “à pressa”, não beliscando as suas capacidades, pelo que a auto-estima se mantém intacta.
Ansiedade de avaliação – Uma vez que não podemos controlar directamente as respostas dos outros ao nosso trabalho, sobrevalorizar essas respostas, pode criar um tipo de ansiedade que interfere com a finalização da tarefa. A tarefa oprime-nos e temos medo de falhar, consequentemente passamos grande parte do tempo a preocuparmo-nos em vez de trabalharmos.
Ambiguidade – Quando não se tem a certeza do que é esperado de nós pode ser difícil começar a realizar a tarefa.
Medo do desconhecido – Se nos estamos a aventurar num novo domínio, não temos qualquer forma de saber quão bem desempenharemos uma tarefa, tal incerteza pode inibir o nosso desejo de começar.
Inabilidade para a tarefa – Se por falta de habilidade, treino ou formação não temos recursos para uma determinada tarefa, podemos evitar conclui-la.