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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luis Gonçalves
Psicólogo Clínico
Que me perdoe o fantástico Jean-Paul Sartre por usar como título de um texto meu uma das suas mais famosas frases. É que ela capta na perfeição aquilo que encontro regularmente nos meus clientes e não resisti. Até que ponto grande parte das nossas dificuldades não passará pela preocupação que temos pela presença, avaliação, julgamento, aprovação ou crítica das pessoas que nos rodeiam? Ou o impacto que dado evento ou pessoa deixou dentro de nós? É isso que quero reflectir consigo agora.
Há uns anos atrás, e quando comecei a dar formação profissional, não me foi fácil estar perante salas cheias de pessoas a olhar para mim enquanto era suposto passar-lhes conhecimentos e orientar momentos práticos, num ambiente relacional favorável. Sempre me senti confortável a falar em público mas confesso que às vezes, só o facto de antecipar esta situação profissional me causava ansiedade. E para mim, a dificuldade era aumentada quando iniciava um novo curso e não conhecia os meus novos formandos! Olho agora para esses momentos perfeitamente naturais para alguém em início de carreira e farto-me de rir de mim mesmo. Se aquelas salas estivessem vazias, será que sentiria tais dificuldades? É que eu era o mesmo, os conteúdos e a forma de os passar também. O que mudava era a sala estar cheia ou vazia, “os outros”. Os reais e, acima de tudo, os que tinha na cabeça!
Você tem os seus familiares, os seus amigos, os seus colegas, os seus conhecidos, os seus vizinhos. Terá também as pessoas que não conhece mas que se cruzam consigo todos os seus dias. Viver em sociedade é isso mesmo, precisamos e vivemos uns com os outros. Mas, e voltando ao meu caso, a minha maior dificuldade não era com estas pessoas de carne e osso: era com a “representação” que eu tinha deles dentro de mim, os “outros” que ocupavam a minha mente e me levavam a ter pensamentos criadores de ansiedade. Muito antes do momento, já temos esta gente toda na nossa cabeça a causar ruído!
E se não temos cuidado, damos por nós a viver de acordo com os outros (os reais e os mentais). As nossas necessidades, os nossos sonhos, os nossos objectivos, os nossos pensamentos, os nossos gostos passam a ser os dos outros. O nosso espaço interno fica preenchido com eles e isso leva-nos a momentos complicados…
As pessoas que nos rodeiam podem, de facto, fazer-nos mal. Mas pense agora no mal que as pessoas que temos na cabeça nos fazem (ou fizeram)? Não é incrível a diferença?! Imagine que está no trânsito em hora de ponta e um condutor menos bem educado, lhe dirige alguma frase ou gesto impróprio. Sim, é muito desagradável. Mas o que acontece se o condutor que passou por nós na estrada fica na nossa cabeça sem prazo e ficamos a pensar no seu comportamento vergonhoso? Parece que ele está sempre presente e nos causa imenso mal-estar enquanto o evento real durou apenas 5 segundos!
Aqui entre nós, as pessoas podem ter comportamentos que nos magoam. Mas, em grande medida, podemos “decidir” até que ponto o fazem. É um exercício de liberdade! Imagine um messenger de internet onde troca mensagens com outras pessoas. Todos eles têm lá uma foto não é? Pois é, nós temos também essas “fotos” dos outros na nossa mente. O segredo é que está ao nosso alcance não sermos afectados por eles. Como? Em grande medida, estando aqui e agora… Connosco!