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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Hugo Santos
Psicólogo Clínico
O conceito social e psicológico do “amor para sempre” tem sofrido metamorfoses culturais e representacionais ao longo do tempo. Digamos que actualmente as relações partem da lógica do para sempre, mesmo que mais inconsciente, até que o desentendimento as separe.
Neste sentido, os critérios de escolha da parceira ou parceiro para toda a vida para além de activarem emoções ambíguas (entre a crença e a descrença da durabilidade das relações), poderão incluir conscientemente dois critérios relevantes na nossa check-list interna:
Como se aprende nos escuteiros, um bom nó tem duas características: ata fortemente os dois elementos que queremos juntar e unir e igualmente é possível desatar, sem ser necessário cortar a corda ou sem ser um “nó cego”. Esta metáfora é aplicável às relações, isto é, uma boa união inclui uma ligação construída com proximidade e segurança, e inclui igualmente a possibilidade de separação (idealmente de boa separação).
Contudo, as relações são frequentemente fragilizadas com o efeito avestruz da negação dessa hipótese de separação (não queremos ver essa possibilidade da relação acabar e “enfiamos a cabeça na areia”), ou através da inversão do medo que tal aconteça (a pseudo-independência do tipo “não preciso de ninguém”, que poderá originar um evitamento do compromisso ou um desinvestimento nas relações).
A proposta que colocamos na mesa é, perante isto, a de tornar consciente, monitorizada e conversada a hipótese de separação, mesmo quando a relação está óptima. Aliás, essa altura é a melhor para se pensar tranquilamente, de forma confortável e sem a contaminação de emoções negativas de “como seria se nos separássemos”.
Vejamos um exemplo comparativo.
Actualmente é frequente as pessoas terem um Seguro de Saúde o qual poderá incluir, por exemplo, a hospitalização. Quando se faz esse plano de saúde não se deseja vir a ficar doente, como é natural, mas procura-se estar preparado e prevenir piores consequências no caso de doença.
De igual modo, poder-se-á fazer a dois e no campo das hipóteses, um Seguro da Relação, isto é, um plano sobre o que fazer caso surja a possibilidade de separação.
Talvez daqui a uns tempos os bancos e seguradoras até tenham no mercado a oferta de um P.P.D. - Plano Poupança Divórcio, para o casal ou pessoa singular fazer poupanças para o caso de separação (pois nesta altura as despesas versus orçamento desequilibram muito as finanças de cada um).
O paradigma social do casamento está em transformação e muitas vezes as mudanças fazem-se através de um efeito pendular, do oito para o oitenta. Assim, entre o acreditar cegamente que as relações duram a vida toda e o seu descrédito e desinvestimento defensivo (na crença de que não vale a pena apostar em algo que vai acabar), poderá haver o meio-termo.
O desafio de todos nós é a procura de um equilíbrio a dois, no acreditar e construir uma relação para sempre (pelo menos no campo ideal), e, caso surja o desentendimento, estarmos minimamente preparados, igualmente a dois, para aguentar e gerir o impacto de uma separação.
Por isso, aqui fica a sugestão para um tema de conversa harmoniosa e bem humorada: planeie como seria caso se separassem.
Assim estarão unidos “na saúde, na doença” e na prevenção do divórcio (quer seja prevenção primária ou secundária).
Afinal, é possível uma boa relação assim como uma boa separação, com tudo de bom e de mau que estas contêm, mas com um saldo francamente positivo. Está nas vossas mãos conseguirem-no. Estaremos aqui para vos ajudar.