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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
“E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.”
Vergílio Ferreira
Dizer não parece tão fácil mas é terrivelmente difícil, principalmente quando falamos de pessoas próximas. O que me diz disto? Gostava então que pensasse nas suas relações mais significativas e fizesse um apanhado das situações em que sentiu que as pessoas estavam a abusar de si e, no entanto, aceitou mais uma solicitação ou crítica. E logo a seguir sentiu, eventualmente, uma grande culpa por, mais uma vez, ter dito que sim. E como nunca lhes diz não, acabam por fazer sempre o mesmo. É que se dissermos sempre que sim aos pedidos dos outros, eles deixam de reparar em nós e passamos a fazer parte da mobília! Dizer um não sustentado e assertivo relembra-os de que estamos ali também e que temos vontades e opiniões próprias. São incontáveis os exemplos em que aprender a dizer não levou à melhoria clara do bem-estar do cliente, através de várias técnicas que usamos em psicoterapia.
É que cada vez que diz “sim” sem lhe apetecer está a dizer “não” a si mesmo! Como resultado, a sua auto-estima vem por aí abaixo e as suas necessidades ficam sem resposta. A boa notícia é que vai bem a tempo de inverter a tendência!
Quanto mais fazemos uma coisa, mais competentes nos tornamos a fazê-la. E dizer não funciona da mesma forma. Não falo aqui num permanente não mas sim daquele que nos ajuda a delimitar o nosso espaço psicológico e físico, sempre que se justifica. Não mostrar disponibilidade para uma solicitação que nos parece pouco razoável por impedir a satisfação de uma tarefa “das nossas”, dando a conhecer as nossas razões e apresentando alternativas para a resolução da situação é, claramente, uma óptima forma de se viver: respeitamos a nossa individualidade e, ao mesmo tempo, estimulamos a autonomia do outro. Toda a gente ganha!
A maior dificuldade reside, precisamente, em dizer não ao marido, chefe, esposa, amigos, filhos ou pais. Ou qualquer relação próxima ou hierárquica. É que aí entram em acção um conjunto de crenças que nos impedem de ser assertivos. Podemos recear que os outros se afastem se não aceitarmos o que nos pedem, achar que seremos castigados por o fazermos ou até que seremos más pessoas! Este medo alimenta um apagamento constante da nossa individualidade e que nos coloca sempre na sombra de alguém. A verdade é que ele é tão irracional que não tem qualquer ligação com a realidade. Dizer não é tão importante como dizer sim, não se esqueça. É que se não tivermos cuidado, ao temermos tanto perder os outros, perdermo-nos é a nós próprios!