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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Afonso Marques
Psicóloga Clínica
O Bullying não é um mero comportamento agressivo dirigido ao outro. Ele é intencional, repete-se ao longo do tempo, existindo uma relação unidireccional, com o poder centrado no agressor. Não sendo um problema novo, o bullying continua difícil de controlar, em parte devido às novas formas, que as tecnologias oferecem, das crianças se desafiarem. De facto, o cyberbullying pode alargar o alcance e poder dos piores bullies, sujeitando a vítima a provocações que podem surgir de contextos mais alargados, que a sua escola ou vizinhança. O cyberbullying leva a que o problema possa ser constante. Longe vão os tempos em que as crianças temiam os encontros com os rufias no autocarro, ou mesmo no pátio da escola. Através de sms, e-mails e redes sociais, os bullies podem atormentar as suas vítimas 24 horas por dia e estas podem sentir que não têm forma de escapar a esta rede constante de mau-trato e abuso.
Algumas crianças e jovens sentem-se relutantes em relatar que estão a ser vítimas, mesmo aos pais. Por esse motivo, é difícil ter uma real noção dimensão deste problema. Ansiedade, depressão e outras perturbações associadas ao stress decorrem deste sofrimento profundo e silencioso, em que crianças e jovens mergulham.
Os pais sentem-se muitas vezes desesperados, sem saber como ajudar os seus filhos que estão a ser abusados. É suficientemente difícil lidar com os rufias da escola, pelo que surge muitas vezes a questão: o que pode ser feito quando os abusadores, frequentemente anónimos, se escondem atrás do monitor do computador?
Existem alguns sinais, relativamente ao cyberbullying, para os quais pais e educadores podem estar alerta.
- angústia durante e após o uso da Internet;
- afastamento dos amigos e da família;
- evitamento de encontros com grupo de amigos ou colegas;
- resultados escolares mais baixos;
- reacções impulsivas de zanga, sem razão aparente;
- alterações no humor, no comportamento, no sono e no apetite;
- desejo de deixar de usar o telemóvel e o computador;
- aparência agitada ou nervosa ao receber um sms ou e-mail;
- recusa em participar em discussões sobre as actividades do computador ou telemóvel.
Algumas crianças acabam por não contar o que se está a passar com receio de perder os privilégios do computador. É, por isso, importante assegurar à criança que elas não terão de perder o acesso à internet, apesar da informação que circula precisar de ser cuidadosamente avaliada. Quando possível, bloqueie o bullie dos grupos e perfis online do seu filho, assim como no telemóvel e contas de e-mail. Encorage a criança a não responder, pois dessa forma está a agravar ainda mais a situação. Contudo, mantenha uma cópia das mensagens ameaçadoras, imagens e textos, pois poderão ser usadas como prova junto dos pais dos abusadores, na escola ou polícia. Pondere dar conhecimento à direcção da escola, particularmente se o bullie frequentar a mesma escola que o seu filho.
Mas, e se o bullie for o seu filho? Proceda de forma a terminar com os seus comportamentos desajustados. Explique que gozar e provocar podem parecer comportamentos inofensivos, mas que, na realidade, eles têm forte impacto na vida de quem está a ser alvo de bullying. O gozo e a provocação magoam os sentimentos e podem conduzir a consequências negativas em casa, na escola e na comunidade. Se ainda assim, os comportamentos se mantiverem, aplique filtros no computador, crie restrições ao uso do computador e do telemóvel.
Embora menos faladas, as crianças que são espectadores destes jogos de poder, onde impera o mau trato, também sofrem com o que observam, podendo tornar-se inseguras e receosas. Estes observadores, muitas vezes, não contam o que vêem com medo de represálias e de poderem vir a ser as próximas vítimas.
A ajuda de um Psicólogo é útil tanto no caso do seu filho estar a ser vítima de bullying, como no caso dele ser o abusador, perpetuador desta forma de mau-trato entre iguais, como ainda se for um observador desta forma de agressividade.