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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
E-mail recebido
Bom dia
Há cerca de um ano comecei a ter sérios problemas de saúde, que me levaram ao hospital várias vezes. Numa ocasião, o INEM foi-me buscar a casa e diagnosticaram-me de imediato um enfarte, o que felizmente não se confirmou. Os sintomas eram comuns às várias situações por que passei, e consistiam numa súbida brusca de tensões, dores no corpo, dormência nos membros, tonturas fortes, coração acelerado, falta de ar, etc... Enfim , só coisas boas.
Depois de ter feito todos os exames que o médico me aconselhou (coração, rins, etc...) nada foi descoberto o que apontava para um problema psicológico.
O médico a quem recorri no inicio do problema receitou-me então Paroxetina (1 comprimido de manhã), Sedoxil (1/2 comprimido à noite) e Victan (em SOS).
Lá fui fazendo a medicação e aqueles "ataques" diminuiram de frequência e de intensidade, mas não me sentia bem. Dormia mal, andava irritado e sem paciência. Foram meses a fio. Recorri então a um psicólogo, e ainda fiz meia dúzia de consultas, mas acabei por desistir devido à falta de tempo e aos custos envolvidos.
Comecei há cerca de 2 meses a fazer o desmame da medicação, pensando que iria melhorar e actualmente estou a tomar 1 quarto de Paroxetina de manhã, dia sim, dia não e o Sedoxil deixei por completo. Tenho tomado o Victan com alguma frequência (tipo 2 a 3 vezes por semana) pois acho que estou a piorar. Não sei se serão sintomas de privação...
Durmo cerca de 4 horas por noite, acordando várias vezes com o coração acelerado, tonturas, fortes dores no topo da cabeça e grande ansiedade. Fico bastante tempo acordado com estes sintomas, acabando por adormecer para mais um curto e agitado sono seguido dos mesmos sintomas... isto dura há quase duas semanas, estou a chegar ao limite. Durante o dia por vezes surgem-me as mesmas complicações que tento disfarçar e lutar contra, mas não é fácil...
Acham que estes últimos sintomas serão próprios do desmame? Como os posso atenuar? Ou por outro lado, devo retomar a medicação?
Fico na expectativa dos V/ comentários e da V/ ajuda.
Obrigado.
Resposta:
Caro M.
Existem muitos dados que seriam importantes termos para conseguirmos organizar uma resposta mais completa, como a sua idade, linha de actividade ocupacional e ritmo de vida, se o desmame da medicação está a ser feito com o apoio de um psiquiatra ou se o tem feito sozinho, que tipo de exames médicos fez desde o início deste problema, etc.
Assim, vamos tentar responder-lhe o melhor possível, salientando que as nossas respostas não podem ser consideradas finais por carecerem de um diagnóstico aprofundado.
A situação que descreve é absolutamente concordante com sintomatologia de activação ansiosa e, uma formulação possível do facto de manter esta situação prende-se com dois aspectos simultâneos: por um lado, assustou-se (compreensivelmente) com a força do que sentiu há um ano, sem nunca ter encontrado uma explicação lógica para o facto. Esta situação, só por si, deve-o ter deixado num grande estado de alerta e ansiedade, temendo o que lhe poderia acontecer a seguir, criando-lhe uma sensação de insegurança e de falta de controlo sobre o que se estava a passar. Ou seja, uma reacção ansiosa (talvez derivada de stress na altura ou outro factor que para ela tivesse contribuído) provocou-lhe mais ansiedade, que reforçou e originou mais mal-estar que, num ciclo que se auto-reforça.
O outro aspecto que poderá estar a contribuir para esta situação pode ser o facto de não ter passado por uma situação efectivamente reparadora, correctiva, como o que se obtém num processo psicoterapêutico. A meia dúzia de sessões de que nos fala de pouco lhe terão servido por serem manifestamente insuficientes e, ainda que compreendamos as dificuldades relativas aos custos envolvidos (aliás, o projecto da Oficina de Psicologia surge precisamente por esse motivo, para dar resposta a situações idênticas à sua), já o tempo é uma questão de prioridades, o que nos leva a crer que não tenha ficado claro para si a importância ou a adequação do acompanhamento psicológico na sua situação.
Contrariamente à intervenção medicamentosa, o tratamento psicoterapêutico permite-lhe retirar sentido ao que se passa consigo, compreender e, logo, dominar racionalmente a sintomatologia física, que é o que de mais visível existe na ansiedade. Permite-lhe, ainda e sobretudo, aprender estratégias para auto-regular os picos ansiosos e conhecer a forma como o seu organismo reage, o que ajuda a tomar decisões no dia-a-dia, sobre pequenos (ou grandes) aspectos do seu estilo de vida. Finalmente, o tratamento psicoterapêutico desbloqueia processos internos que estão na origem ou mantêm este excesso de reactividade e que redunda, muitas vezes, em crises de pânico, assustadoras e desgastantes.
Aconselhamos vivamente que considere três questões:
A reactividade ansiosa é muito perturbadora e desgastante e, a esmagadora maioria das pessoas que sofrem de hiperactivação ansiosa tem dificuldade em acreditar que não exista algo de muito grave, do ponto de vista médico, que a esteja a causar. E, no entanto, uma vez compreendidos os seus sintomas e a sua relação com a nossa vida do dia-a-dia e a nossa atitude perante o contexto que nos rodeia, torna-se evidente o que se está a passar connosco e, com a ajuda de pequenos exercícios e de pequenas intervenções emocionais, torna-se razoavelmente simples retomarmos um estado de equilíbrio e tranquilidade. Não há motivo para continuar a passar por esta situação, que se trata com elevadas taxas de eficácia, em contexto de acompanhamento psicológico – por favor, procure um psicólogo que o possa ajudar a voltar a ficar bem.
Esperamos ter ajudado.
Um abraço solidário,
Madalena Lobo
Psicóloga Clínica