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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Irina António
Psicóloga Clínica
Vivemos numa era em que a multiplicação diária de contactos, segundo investigadores na área social, nos deixa sobre aviso de ameaça à qualidade das relações que desenvolvemos em diversas esferas da vida. Todos estamos ligados a uma rede social que no caso de muitos de nós conta com centenas e centenas de pessoas. Paradoxalmente, este movimento desenvolve-se num contexto em que os valores individuais de auto-realização e de satisfação das necessidades pessoais estão, como nunca, solidamente instalados no espaço relacional.
Hoje sentimos o mundo à nossa volta mais próximo e acessível e, ao mesmo tempo, mais inconsistente e instável. Já não nos choca ideia que não podemos tomar por garantido o casamento, nem o lugar de trabalho e na procura de segurança atrevemo-nos a mergulhar numa rede infinita de relações. Pertencemos a uma vasta rede social e temos em troca uma possibilidade de satisfazer todas as necessidades básicas: emocionais, profissionais, relacionais: Amigos de infância, colegas de trabalho, médico de família, colega do ginásio, mãe do amigo do filho, colegas de trabalho do marido, senhor do café onde tomamos o pequeno almoço, são pessoas com quem muitas vezes tornamos bastante próximos…
Mas num belo dia pode acontecer que ao olhar para a lista telefónica onde lado ao lado convivem familiares, amigos e pessoas com que nos cruzamos nas férias ou numa reunião de trabalho…iremo-nos sentir só numa multidão que não transmite de todo uma sensação de suporte e de segurança, e a solidão começa a tomar conta do nosso espaço interno…
Em parte isto acontece porque nos envolvemos pouco e o espaço íntimo que se cria fica muito limitado pela funcionalidade do contacto. Arriscamo-nos pouco e preferimos contar as maiores intimidades às pessoas que nunca voltaremos a encontrar na nossa vida. O sociólogo francês Jean-Claude Kaufmann fala do nosso desejo de direccionar os nossos relacionamentos para os lados e não para o fundo, sendo que a necessidade de aproximação fica comprometida com o medo de estar “demasiadamente” ligado às pessoas e de perder o controlo. “Quanto mais se multiplicarem os nossos contactos, menos nos entregamos nestas relações”. Para reconquistar a intimidade nas relações precisamos de abrir e confiar nos próximos: “entre os nossos objectivos e os objectivos dos outros deve existir compatibilidade, precisamos de estar disponíveis para fazer o investimento na conquista dos objectivos uns dos outros ”, são palavras do psicólogo americano Mihaly Csikszentmihalyi.
O segredo de como não se perder na multidão de contactos está na aproximação com alguém que parece connosco e com alguém que nos completa. Estas pessoas são “a nossa gente”e somos gratos por elas existirem na nossa vida.