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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Ayrton Senna, Pelé, Romário, Benjamin Franklin, Benjamin Netanyahu, John D. Rockefeller, Cole Porter, George Michael, Jimi Hendrix, Judy Garland, Seal, Bruce Willis, Cary Grant, Charlie Chaplin, Christian Slater, Diane Keaton, Julia Roberts, são pessoas que partilham pelo menos uma característica: SER CANHOTO!
Isto significa que o seu hemisfério cerebral direito predomina sobre o esquerdo. O hemisfério direito é responsável pelo controle de todos os movimentos do lado esquerdo do corpo. O seu predomínio faz com que todos os gestos da mão esquerda e do pé esquerdo, tenham uma maior precisão.
Os canhotos representam de 5 a 15 % da população mundial, são uma “grande” minoria num mundo de destros. Como qualquer minoria, enfrentam as dificuldades diárias num mundo que não é pensado para eles.
Durante muito tempo e mesmo nos dias de hoje, os canhotos muitas vezes são conotados de desajeitados ou desastrados. As crianças eram corrigidas pelos pais e pela escola, no sentido de deixarem de ser canhotas, dificultando a evolução das suas potencialidades e auto-estima.
Hoje em dia, já há estudos que mostram que os canhotos pensam mais rápido que os destros na realização de algumas actividades, têm uma maior capacidade na percepção tridimensional do pensamento e de processar informações simultâneas, têm uma visão diferente do mundo e por vezes são susceptíveis a alguns problemas de saúde como por exemplo a epilepsia. Mostram ainda que esta é uma população que se destaca em alguns desportos, como a natação ou o ténis.
Dia 13 de Agosto foi designado o Dia Internacional do Canhoto. Sabemos que os dias nacionais e internacionais surgem para nos lembrar de algo que na verdade devíamos lembrar todos os dias, neste caso, o canhoto é uma pessoa! Como tal, é um igual, um par, um ser humano, que merece que o mundo também seja pensado para si, que merece não ser discriminado, não ver o seu caminho dificultado ou a sua auto-estima diminuída. Vamos todos começar a levantar da cama com o pé esquerdo e com um grande sorriso nos lábios?!
Bia Andrade
Sabia que os bebés começam a mostrar preferência por uma das mãos por volta dos 7-9 meses?
Desenhar e comer, embora implicando motricidade fina, são actividades que não requerem destreza máxima, motivo pelo qual muitos bebés e crianças, sob influência do rápido desenvolvimento cerebral, alternam entre usar a mão direita e a mão esquerda. Esta questão conduz, frequentemente, a falsas interpretações sobre o facto da criança ser ambidextra.
No entanto, a lateralidade só se define na altura da entrada para a escola.
Os canhotos pensam “diferente”. O hemisfério esquerdo de cérebro que controla a mão direita, está encarregue da fala, da linguagem, da escrita, da lógica, da matemática e das ciências.
O hemisfério direito lida com o abstracto, com ideias e com imagens. Aquilo que a investigação tem demonstrado é que a organização cerebral dos dextros é mais rígida comparativamente com a dos canhotos. No caso dos canhotos, por exemplo, a compreensão da música poderá estar a cargo do hemisfério esquerdo e a matemática do direito. Por esse motivo, o corpo caloso, uma zona do cérebro que permite a comunicação entre ambos os hemisférios, pode ser 11% maior nos canhotos, comparativamente com os dextros.
Curiosamente, esta estrutura mais flexível parece ser produto dos desafios constantes que o mundo dos dextros coloca aos canhotos.
Por isso, neste dia internacional do canhoto...tentemos todos ser flexíveis, ora no respeito pela diferença, ora na abordagem aos desafios que nos surgem...
Inês Afonso Marques
Já pensou como se sentiria se, num belo dia ao acordar, tudo estivesse ao contrário do habitual? Estranho, não? Estar habituado a fazer algo de uma dada maneira e, de repente, tudo à sua volta estar preparado para fazer de outra? Ora é mais ou menos isto que sentem os canhotos, mesmo em tarefas simples, como utilizar uma tesoura ou sentar-se numa daquelas secretárias magníficas, sabe, aquelas que têm uma mesa pequenina para escrever? Pois, mas poucas são as quem têm o suporte do lado esquerdo. Afinal, os canhotos representam uma minoria da população... porquê a necessidade de pensar nisso? Se formos a pensar assim, todos nós, de uma forma ou de outra, temos uma qualquer característica (para não dizer várias) que nos é própria e que gostamos que seja respeitada pelos outros, certo?
Que este dia Internacional do Canhoto sirva para reflectir um pouco sobre o tema, pensando não só nas limitações, mas também desmistificando estas questões. Afinal, trata-se apenas de uma questão de lateralidade, de dominância de um hemisfério cerebral sobre o outro. Que respeitar as diferenças seja uma premissa não só neste tema e neste dia, como em muitas outras pequenas coisas do nosso quotidiano.
Ana Crespim
Eu sou canhoto. Toda a vida o fui. Percebi que era canhoto em pequenos pormenores... Quando tinha de chutar à baliza os guarda-redes ficavam algo perturbados pelo facto de rematar com o pé esquerdo. Nos penaltis era sempre um trunfo importante. Ainda hoje o é.
Quando comecei a tocar guitarra com amigos fiquei surpreendido porque não conseguia fazer os ritmos que eles faziam com a mão direita.... Também pegava na guitarra ao contrário e procurava imitá-los, tocando os acordes que me ensinavam, simplesmente eu tocava tudo ao contrário. Se no futebol havia e há vantagens consideráveis em ser canhoto, na aprendizagem da guitarra sinceramente não vejo grandes vantagens... Bem sei que o Eric Clapton e o Jimmi Hendrix são canhotos... Digo são pois embora o Jimmi já tenha falecido com a mítica idade de 27 anos a sua música e a sua arte de tocar guitarra são imortais... a verdade é que a aprendizagem da guitarra, para um canhoto como eu, nada tem de entusiasmante. É preciso mudar as cordas da guitarra e aprender todos os acordes de uma forma simétrica. Confesso que até cheguei a comprar uma guitarra para canhotos, mas como sou teimoso acabei por aprender numa guitarra normal com as cordas colocadas para destros. Não tenho a técnica de dedilhar que eles têm, não faço os ritmos deles, mas até me safo... A ponto de a música ate soar a algo e os espectadores, habituados a acordes normais de guitarra para destros ficarem embasbacados com o facto de não soar nada mal. É um dos meus números de circo preferidos...
A esquerda e a direita também sempre foram conceitos "non gratos" para mim. Tenho recordações de estar na 4ª classe, numa aula particular e muito importante, onde todos iriam aprender a esquerda e a direita e eu, para espanto geral, fiz uma tremenda confusão! Sobretudo no momento em que tinha de entender que a minha esquerda não é a esquerda de outra pessoa... Isso para mim era altamente perturbante... Mas quando chegou a hora de tirar a carta de condução. O imperioso da situação obrigou-me a introduzir tais conceitos na minha orientação e na minha vida.
Voltando à música. Quando comecei a estudar piano rapidamente percebi que a mão direita era muitíssimas vezes usada como a mão da melodia, e era extremamente importante fazer soar a melodia, torná-la cantável ou melhor dito cantabille... Mas enfim... a minha destreza, perícia e equilíbrio estão na mão esquerda, pelo que nunca tive uma boa mão direita... Sempre foi frágil, algo ansiosa, pouco segura de si... Enfim condicionantes desta minha condição. Mas quando as peças permitiam a mão esquerda brilhar, como por exemplo nas fugas de Bach ou em estudos para a mão esquerda então aí a conversa era outra.... Aliás sempre tive uma mão esquerda muito elogiada! Ainda hoje assim é.
Curiosamente a minha estadia nas terras do Reino Unido, o paraíso da malta canhota, não foi uma experiência de grande cumplicidade, pelo menos a nível da condução. Fiquei mesmo confuso quando foi conduzido em carros com o volante no lado contrário! Acho que ia passar um mau bocado se tivesse de aprender a conduzir nas terras do Reino Unido.
Talvez o aspecto em que é mais visível ou gritante a minha inaptidão é quando tento cortar papel com uma tesoura... Simplesmente a tesoura não corta. O papel dobra-se todo e nada fica cortado!
Enfim este é o meu depoimento sobre como é conviver com o meu esquerdismo...
Apesar de tudo...
Viva a nobre linhagem dos canhotos!
António Norton
“Levantei-me com o pé esquerdo.” “ A dançar tenho dois pés esquerdos.” “ Cruzes canhoto!”.
Todos nós ouvimos e usamos essas expressões.
As conotações negativas em relação à “esquerda” vem dos primórdios das sociedades judaico-cristãs. Os canhotos eram vistos como estando “possuídos pelo diabo”, dada a propensão dessas pessoas para as artes. Por causa disso, muitos canhotos foram queimados em fogueiras porque eram considerados feiticeiros, bruxas e paranormais.
Ainda hoje surgem também preconceitos relacionados com a palavra “esquerda” ou “canhota” em vários idiomas.
Por outro lado, também são conhecidos casos em que pais e professores obrigavam as crianças a escrever com a mão direita, amarrando a esquerda.
Este constitui um exemplo claro de como o mundo de preconceitos que se formam ao longo duma história e cultura tem impacto na vida de milhares de pessoas.
Para além disso, o mundo está concebido para maiorias. Para testar esta ideia, lançamos um desafio:
Vamos experimentar usar estes objectos com a mão esquerda: abre-latas, tesoura, régua, cadernos com expirais, manípulo de mudanças, instrumentos musicais, ferramentas de jardim, acessórios de desporto, mesas de apoio aos anfiteatros na faculdade...
Surpreendidos?
As dificuldades encontradas serão provavelmente as mesmas dos 10% de esquerdinos na população. Com a diferença que os mesmos ao longo dos anos terão feito um esforço para se acomodar a essas e muitas outras dificuldades.
A tensão interna para inibir uma tendência natural e conformar-se com um Universo vasto e maioritário leva a constrangimentos e a uma adaptação constante, nem sempre tranquila.
Simultaneamente desenvolve-se uma maior plasticidade e capacidade de integração.
O tomar de consciência da diversidade e do direito à mesma tem levado a iniciativas ímpares, como por exemplo a exigência que os consumidores começam a fazer sentir no mercado ou uma loja online que decidiu vender apenas produtos para pessoas com dominância do lado esquerdo.
Esta é, aliás, uma luta em tantos outros segmentos, na tentativa de se conseguir uma sociedade que respeite e responda às necessidades básicas de cada um.
Filipa Cristóvão
“Levantei-me com o pé esquerdo.” “ A dançar tenho dois pés esquerdos.” “ Cruzes canhoto!”.
Todos nós ouvimos e usamos essas expressões.
As conotações negativas em relação à “esquerda” vem dos primórdios das sociedades judaico-cristãs. Os canhotos eram vistos como estando “possuídos pelo diabo”, dada a propensão dessas pessoas para as artes. Por causa disso, muitos canhotos foram queimados em fogueiras porque eram considerados feiticeiros, bruxas e paranormais.
Ainda hoje surgem também preconceitos relacionados com a palavra “esquerda” ou “canhota” em vários idiomas.
Por outro lado, também são conhecidos casos em que pais e professores obrigavam as crianças a escrever com a mão direita, amarrando a esquerda.
Este constitui um exemplo claro de como o mundo de preconceitos que se formam ao longo duma história e cultura tem impacto na vida de milhares de pessoas.
Para além disso, o mundo está concebido para maiorias. Para testar esta ideia, lançamos um desafio:
Vamos experimentar usar estes objectos com a mão esquerda: abre-latas, tesoura, régua, cadernos com expirais, manípulo de mudanças, instrumentos musicais, ferramentas de jardim, acessórios de desporto, mesas de apoio aos anfiteatros na faculdade...
Surpreendidos?
As dificuldades encontradas serão provavelmente as mesmas dos 10% de esquerdinos na população. Com a diferença que os mesmos ao longo dos anos terão feito um esforço para se acomodar a essas e muitas outras dificuldades.
A tensão interna para inibir uma tendência natural e conformar-se com um Universo vasto e maioritário leva a constrangimentos e a uma adaptação constante, nem sempre tranquila.
Simultaneamente desenvolve-se uma maior plasticidade e capacidade de integração.
O tomar de consciência da diversidade e do direito à mesma tem levado a iniciativas ímpares, como por exemplo a exigência que os consumidores começam a fazer sentir no mercado ou uma loja online que decidiu vender apenas produtos para pessoas com dominância do lado esquerdo.
Esta é, aliás, uma luta em tantos outros segmentos, na tentativa de se conseguir uma sociedade que respeite e responda às necessidades básicas de cada um.
Filipa Cristóvão